Fernando Morais ao Bahia 247: 'A educação é a única coisa que vai salvar o Brasil'

Em entrevista, o premiado escritor diz que ACM ainda est 'muito vivo' e que espera 'o defunto esfriar' para lanar a biografia dele; fala de Lula, Dilma e alfineta Jos Serra;



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Matheus Morais_247- O aro amarelo dos óculos não esconde em nada o olhar atento do jornalista e escritor Fernando Morais. Autor de livros como Chatô, o rei do Brasil; Olga; A Ilha; O Mago e, mais recentemente, Os Últimos Soldados da Guerra Fria, ele mais parece aquele velho amigo (que quase todo mundo tem) e pode passar horas a fio conversando sem olhar pro relógio, sentado numa mesa de bar. Mas, foi entre um autógrafo e outro, cercado por dezenas de leitores, que Morais conversou com o Bahia 247. Falamos de livros, Fidel Castro, ACM, Dilma, José Serra, Prêmio Nobel e muito mais. Vale a pena conferir!

Brasil 247 – Você gosta desses eventos que promovem o encontro entre os autores e seu público?

Fernando Morais – Gosto! É bom porque é das poucas ocasiões que a gente consegue se encontrar – autor de livro não sabe quem é o seu leitor. A pessoa vai anonimamente à livraria, compra o livro e vai embora pra casa. Então, poder conversar com gente que faz pergunta sobre um livro e outro mostra um sentimento do leitor em relação à obra; isso é muito legal.

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Brasil 247 – Você está esperando quem morrer para lançar a biografia do senador Antonio Carlos Magalhães?

FM – Na verdade, estou esperando o defunto esfriar, porque o ACM ainda está muito vivo, o espectro dele ainda está muito presente, ele ainda não morreu. Tenho algo que ninguém tem: são as gravações dos últimos nove anos de vida do Antonio Carlos e mais 192 pastas do arquivo pessoal dele (dadas a mim pela família) que são ouro puro. Minha condição para que o livro fosse feito era que ele não recebesse os originais depois de pronto – assim ele não poderia interferir em nada, leria a biografia como um leitor comum. Fiz a proposta e o ACM me pediu quinze dias para pensar e depois topou, disse que não se arrependia de nada que tinha feito. Tivemos muitos encontros, a maioria deles aqui em Salvador, em São Paulo e no exterior (ele não gostava de gravar nossas entrevistas em Brasília). Depois passou a inventar viagens ao exterior só para me encontrar e conversar. Assim, o material ficou extenso com coisas inacreditáveis. Antonio Carlos talvez tenha sido o único político brasileiro que viveu a história do país de Juscelino Kubitschek a Lula sempre como protagonista ou testemunha do poder. Então, os leitores não devem esperar mais tempo pelo livro, em breve ele estará aí.

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Brasil 247 – Quais são seus próximos projetos?

FM – Eu tinha pensado em fazer a biografia do ACM agora, quando acabei este último livro, mas agora já estou de namoro com o Lula. Na verdade, eu tenho duas histórias pra contar: ou será alguma coisa em torno do Lula, ou algo em torno da morte do presidente João Goulart, mas que, definitivamente, não será uma biografia. São dois projetos que não posso adiar, ao contrário da história do ACM. Nesse último caso, eu tenho um material que ninguém tem.

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Brasil 247 – E o livro sobre Lula será uma biografia?

FM – Não! Como eu gosto de usar as expressões da juventude, que eles entendem mais, então, não estou namorando com o Lula, estou ficando com ele (risos). Provavelmente, o que vai sair desses encontros que a gente está tendo são histórias do governo dele, dos oito anos de governo, mas não uma história burocrática: uma história a partir dos personagens que tiveram suas vidas mudadas por políticas do governo Lula, mas com bastidores do governo contados por ele. O Lula foi o melhor presidente que o país já teve.

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Brasil 247 – Algum cineasta já te procurou para comprar a história do seu livro mais recente, 'Os Últimos Soldados da Guerra Fria', e transformá-la em filme?

FM – Já! A história foi vendida antes mesmo que o livro estivesse pronto. Aliás, foi graças à venda para o cinema que eu pude terminar o livro - porque o dinheiro tinha acabado e o livro era muito caro: envolvia passagens para o exterior, hotéis, alimentação, táxi, tudo isso... Aí a grana acabou e eu corria o risco não de morrer na praia, mas no meio do mar (risos). Vendi a história para um investidor da área de cinema e, com o dinheiro que ele me pagou pela adaptação, pude terminar o livro.

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Brasil 247 – Pra quem a história foi vendida?

FM – Foi pro Rodrigo Teixeira – ele não é do mundo do cinema, é um investidor de cinema: é ele quem contrata diretores e afins. Mas, a história já tá vendida e o filme deve ser uma coprodução com os Estados Unidos. Inclusive, eu acabei de fazer uma sinopse do livro que foi traduzida para o inglês e será passada para produtores americanos que estão interessados.

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'A internet é uma coisa infernal. você lê jornal de papel no dia seguinte e descobre que já sabe tudo'

Brasil 247 – Estávamos falando de Lula, qual o comparativo que você faria entre o governo do ex-presidente e da atual, Dilma Rousseff?

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FM – Não existem diferenças entre os dois governos, eles são da mesma família, são troncos da mesma árvore. Fiz campanha para a Dilma e só faço campanha para quem eu acredito. Por isso, já disse uma vez que não faço campanha para o Serra. Conheço ele há 30 anos e não acredito nele: o Serra é um predador, um sujeito deletério, ele não tem amigos – é o único político que eu conheço que não tem amigos, e olha que todo político tem uma turma. Além disso, tenho restrições pessoais a ele também.

Brasil 247 – Você já foi secretário da Cultura e da Educação do Estado de São Paulo, qual a análise que você faria sobre essas duas áreas no Brasil de hoje?

FM – Poderia ser melhor! A minha expectativa é que os recursos que venham do pré-sal possam ser fundamentalmente aplicados em educação. A educação é a única coisa que vai salvar o Brasil, não tem outra, não tem duas, não tem três – ou se faz uma revolução na educação brasileira, ou nós vamos continuar sendo um país de vira lata.

Brasil 247 – Qual sua opinião sobre a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que vem sendo muito criticada ultimamente?

FM – Gosto muito dela, ela é minha amiga!

Brasil 247 – E do trabalho dela?

FM – Tenho acompanhado pouco o trabalho dela à frente do Ministério da Cultura. Eu passei os últimos meses enterrado na finalização deste livro e agora, mais recentemente, no lançamento. Mas gosto dela demais, a admiro, acho uma pessoa séria e adequada para o lugar que ocupa.

Brasil 247 – Por que o Brasil nunca ganhou o Prêmio Nobel de Literatura?

FM – Não sei porque nunca ganhou, mas o país só tem um escritor à altura de ganhar o Nobel de Literatura, e ele se chama Jorge Amado. Jorge merecia ter recebido o prêmio, e verdadeiramente eu não sei se eles concedem o Nobel postumamente – mas, se há esta possibilidade, e possa ser que venha a haver, Jorge Amado é meu candidato, claro!

Brasil 247 – Você é um jornalista que veio das redações de jornais impressos tradicionais como: o Jornal da Tarde e a Folha de São Paulo. Qual sua opinião sobre o jornalismo digital?

FM – A internet é uma coisa infernal, né? Porque você lê jornal de papel no dia seguinte e descobre que já sabe tudo, isso lembra um verso profético do Gilberto Gil, de uma música dele, de 1960 (a música chama-se Domingou) que diz o seguinte: "O jornal de manhã chega cedo, mas não traz o que eu quero saber, as notícias que leio conheço, já sabia antes mesmo de ler...".'O Serra é um predador, um sujeito deletério. É o único político que eu conheço que não tem amigos'

Brasil 247 – Você foi o primeiro jornalista brasileiro a entrevistar Fidel Castro. Quais as barreiras que encontrou até conseguir chegar e conversar com o líder cubano?

FM – Na época nós vivíamos uma ditadura militar no Brasil, e a última coisa que o Fidel queria era conversar com gente ligada à ditadura. Na minha primeira viagem a Cuba ele não me deu entrevista, mas falou comigo e disse, "Quando eu achar que houver clima para dar uma entrevista a um brasileiro, você será o escolhido". E de fato isso aconteceu: dois anos depois, voltei a Cuba pra fazer uma capa da revista Veja, com ele, numa matéria de 12 páginas.

Brasil 247 – O regime cubano se modifica muito se Fidel morrer agora?

FM – Fidel não vai morrer nunca!

Brasil 247 – E o presidente da Venezuela, Hugo Chávez?

FM – Também não! Nós temos que bater na madeira e torcer pela saúde do presidente Chávez. Sou um chavista convicto, ia até fazer a biografia dele, mas o Bob Fernandes (jornalista) chegou antes de mim e roubou meu entrevistado (risos).

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