"Febre do Rato é uma resposta às críticas", diz Claudio Assis

Ao 247, cineasta fala de seu novo filme e critica a hipocrisia da sociedade brasileira; "Não quer que eu diga as coisas de uma forma direta, do jeito que é. Tá bom, agora eu digo com poesia"

"Febre do Rato é uma resposta às críticas", diz Claudio Assis
"Febre do Rato é uma resposta às críticas", diz Claudio Assis (Foto: Alexandre C.Mota / Divulgação)


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Aline Oliveira _ 247- Aqueles que consideram o cinema de Claudio Assis violento, misógino e excessivo talvez não se interessem em saber que ele acaba de lançar Febre do Rato. Mas uma coisa pode atrair os espectadores mais sensíveis. O novo longa do cineasta pernambucano tem poesia, amor e sutilezas. "Fiz Febre do Rato para mostrar que sou poesia sim. Só que a vida não é fácil”, diz Claudio ao 247. O cineasta explica que o longa é "uma resposta às críticas", feitas, sobretudo, a Amarelo Manga (2002) e a Baixio das Bestas (2006). “Ah! não quer que eu diga de uma forma direta, do jeito que é. Tá bom, agora eu digo com poesia”.  

Por trás do verniz poético há o mundo real. Está tudo lá: o Recife que o turista não vê, o despudor, os intensos desejos e as profundas relações humanas. Fragmentos da realidade, que, quando submetidos à ótica de Claudio Assis causam repulsa em muita gente. “A sociedade é hipócrita. Mas se ela quer que eu a engane, eu engano. Mostro as favelas e a lama do Recife em preto e branco, porque sei que se colocar em cores, ela não vai gostar”.

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Essa hipocrisia também incomoda parceiros de Claudio, como Matheus Nachtergaele. "Sério que as pessoas ficam chocadas com Baixio das Bestas?” ironiza, “Será que elas esqueceram que a monocultura destrói a terra? Será que não sabiam que os agroboys machucam as mulheres?”, diz Matheus, que emenda. “O que acontece nos filmes de Claudio é a reiteração violenta daquilo que é dito e redito pela nossa arte. Os personagens do Amarelo Manga estão todos nos anos 1970, na pornochanchada, no Plínio Marcos”. Além de Nachtergaele, outros nomes se juntaram mais uma vez ao Claudio neste novo filme, dentre eles o roteirista Hilton Lacerda e Walter Carvalho, responsável pela excelente fotografia.

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O papel mais verborrágico pertence ao Zizo, interpretado por Irandhir Santos. Um poeta, que edita e distribui - com dinheiro próprio - o tabloide nomeado Febre do Rato, gíria do Recife Antigo, que significa algo como "fora de controle". Apesar de existir um poeta Zizo no Recife – que até aparece nas filmagens - , a personagem é uma homenagem a todos os poetas marginais dos  anos 1960 e 1970. “Perceber a importância que esses caras tiveram na formação do Hilton e do Cláudio é estimulante”, conta Irandhir ao 247.

Anarquista, o poeta declama seus textos pelas ruas da cidade, sempre munido de um autofalante. Zizo vive livremente o sexo com suas vizinhas. “Ele viu naquelas senhoras o amor das mulheres. Nunca saiu do quintal da mãe e aprendeu tudo com as vizinhas”. No entanto, é Eneida (Nanda Costa) sua grande paixão. Ela faz parte do grupo de amigos do poeta, que também vivem soltos, como Rosângela, interpretada por Mariana Nunes. Ela, seu namorado traficante e mais outros dois tomam de assalto uma fábrica, onde todos passar a morar e se divertir. “Eles estão muito à vontade com suas vontades. É uma galera que não tem preocupação com regra ou com o que os outros vão pensar”, define Mariana.

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A verborragia do filme está para o poeta assim como os silêncios estão para Pazinho (Matheus Nachtergaele) e Vanessa (Tânia Granussi). A relação de amor entre o coveiro e a travesti rende belas cenas. É bacana ver, também, a inquietude de Pazinho perante seu relacionamento. “Pazinho é um cafuçu, ele não tem cultura gay. Na simplicidade dele, a masculinidade está preservada. A Vanessa é o homem da vida dele”, diz Nachtergaele.

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Febre do Rato ganhou oito prêmios do Paulínia Festival de Cinema, em 2011, entre eles o de melhor filme de ficção, melhor ator para Irandhir Santos e melhor atriz para Nanda Costa.  Como em todos os filmes de Claudio, o orçamento do longa também foi curto e será exibido, a partir desta sexta-feira (22), em apenas dez salas (quatro em SP, quatro do Rio de Janeiro e duas no Recife). Mas apesar da pouca verba e do fato de seus filmes serem vistos por pouca gente, Claudio continua falando o que pensa, criticando o cinema brasileiro e dizendo que jamais se renderá ao mercado. “Não faço cinema para comprar um apartamento na Vieira Souto. Eu faço cinema, porque tenho atitude. Cinema não é vender coca-cola. Cinema é atitude, vontade, transformação”.

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 Fotos internas: Daniela Nader/divulgação

 

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