Faroeste alienígena em Hollywood
Dobradinha suspeita com Harrison Ford e Daniel Graig surpreende, unindo nas telonas, dois gêneros norte-americanos por excelência
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É tão simples como dois e dois são cinco. Você coloca James Bond e Indiana Jones no mesmo filme e o que temos é Cowboys & Aliens, um dos roteiros mais improváveis e esdrúxulos do cinema, talvez por isso mesmo, um dos mais "bem sucedido" dos últimos tempos, numa aventura que une dois gêneros norte-americanos por excelência: o faroeste e as histórias de ficção científica. E mais, no elenco, surpreendentemente juntos, Daniel Craig e Harrison Ford.
Coisas de Hollywood, então não se assuste se você vê que de repente o futuro está bem longe, lá atrás, no Velho Oeste, mas e daí, não foi Bob Dylan quem disse que o amanhã é coisa do passado?
Desenvolvido por cinco roteiristas e direção do sempre sóbrio Jon Fraveau (Homem-de-ferro), o filme narra a história de uma cidade típica do faroeste que - vejam só -, é invadida por marcianos e eles não demoram muito a aparecer, não. Com 20 minutos de fita naves espaciais flanam sobre o céu de Absolution, um lugar onde, como avisa um dos personagens, Deus não existe ou não respeita ninguém. Daí para frente é um caos total, o apocalipse real, com pessoas sendo abduzidas ou mortas por criaturas gosmentas que bem poderia ser um primo distante de Alien, o oitavo passageiro, lembram dele? "São demônios?!", pergunta alguém, com a Bíblia.
É lá que, num dia qualquer surge desacordado, com ferimento na barriga o misterioso Jake Lonergan (Daniel Craig). Ele tem um bracelete quase do tamanho da cabeça no braço esquerdo e a menor ideia de quem seja ou de onde é. Com sua carranca de charuto amassado dá um "tomé" em três forasteiros abusados que tentam fazer o mesmo com ele, partindo em busca do seu passado.
Mas ele é um imã de problemas, por onde passa o cowboy errante só arruma confusão, seja com o xerife, a bela mocinha de pijamas e pistola na cintura ou o temido Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford) que, como o próprio nome diz, é o dono do pedaço. Mas não por muito tempo por que forças das estrelas então em busca de uma riqueza em abundância encontrada bem ali, no meio do deserto do Arizona: o ouro.
Mesmo norteado por alguns clichês inevitáveis e enredo previsível, Cowboys & Aliens é bem melhor do que a encomenda, chegando a surpreender, mas não é a oitava maravilha do gênero HI-FI. E o mérito está na condução prudente do diretor Jon Fraveau que fez do seu comedido Homem-de-ferro, um dos melhores filmes de super-heróis dessa safra.
Com toque sutil, ele dosa bem as incongruências entre o mundo irreal das ficções científicas, com a dureza áspera dos filmes de cowboys, abordando de forma sensível temas universais como o respeito e o amor ao próximo, coragem, perdão e tolerância diante do desconhecido. Sim, porque neste faroeste alienígena, índios, brancos, bandidos e homens de bem lutam lado a lado para derrotar o inimigo desconhecido. "Deus não quer saber quem você foi, mas quem você é", pondera o pastor, em seus últimos suspiro, ao herói Lonergan.
Rabugento, sádico e preconceituoso, o Coronel Woodrow Dolarhyde na verdade esconde um coração de manteiga que se revela diante do perigo. Prestem atenção no diálogo duro, mas exemplar que ele mantém com a única criança que acompanha o grupo que irá persegui os alienígenas.
Como se vê, os filmes, assim como as pessoas, não são o que aparenta ser. E eu que quase fui ver O rei leão em 3D.
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