Farmacalípso
Enquanto essa loucura da procura da cura continua, os filhos do homem moderno sofrem e até morrem por isso
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Há milênios que a floresta suportava a vida dos humanos que queriam viver em harmonia com a natureza em volta deles. Esses humanos aprenderam com os efeitos que as plantas tinham sobre os organismos dos corpos deles, e como escolher e preparar as ervas que ajudavam o espírito a se elevar e a alma a se acalmar. Enfim, cada vez que havia um problema, os humanos sabiam o que fazer.
Milhares e milhares de anos passaram- se assim. Um belo dia chegaram de longe homens muito espertos com alta cultura. Pegaram o ouro e mataram muitos dos homens da floresta em nome do deus deles. Souberam das plantas, também. Chamaram- nas com nomes complicados de línguas antigas que nem poucos dos ocidentais mesmos entenderam.
Voltaram para as suas cidades com as plantas e o ouro e deram às suas ruas e praças, nomes dos bandidos mais audaciosos. Tomaram a noz da kola e a folha da coca para criar uma bebida que venderam no mundo inteiro. Queimaram as folhas secadas do tabaco sagrado e inalaram a sua fumaça sem parar. Analisaram muitas das plantas, repartiram os direitos autorais sobre elas entre eles e declararam que os ingredientes delas seriam propriedades intelectuais deles.
Tempo passou. O que nunca acontecera em milhares e milhares de anos passou a ser uma realidade assustadora: alguns dos homens ocidentais começaram a usar algumas das plantas em tal excesso, que eles se fizeram mal. Inventaram novas substâncias baseadas nas plantas das nossas florestas e as prepararam e as venderam para os seus filhos. Além disso, mudaram o DNA das plantas para criar mutações sem paralelo na natureza.
O que foi da luz, virou preto. Demonstrou-se que os filhos do homem moderno foram incapazes de lidar com os efeitos das adulterações das plantas sagradas e as consequências foram muito duras. Abandonaram as suas casas, os seus trabalhos e os seus próprios filhos, morreram no lixo embaixo dos viadutos ou foram presos por crimes que cometeram para ter mais desse preto que parecia ser a luz, que eles chamam de "a droga". O que eles chamam de 'a droga'? O que eles chamam de 'a droga'!
A ilusão desta dura pouco e para esquecer a miséria que lhe trouxe, precisa ter ainda mais. Enquanto as mães dos homens choravam e os filhos dos filhos gritavam, o negócio andava de vento em popa para aqueles que disseram: Vamos fazer! Vamos fazer a guerra! Vamos fazer a guerra contra as drogas!
E eles ganharam muito dinheiro e as platéias aplaudiram as suas falas que não entenderam, e as mães choraram ainda mais. Chegou o dia da verdade mas nenhum deles quis saber das respostas quem diria procurá- las.
O homem da cidade voltou na floresta para proibir o uso das plantas que curavam e para matar cada sábio que sabia. Disse que o deus dele era omni-potente, mas que algumas plantas de cura antigas teriam sido criadas por um outro cara que, disseram eles, era do mal.
A proibição foi difícil porque os homens influentes estavam divididos entre os que queriam acabar com o abuso do poder das plantas, e dos seus derivados artificiais, e aqueles que só queriam rastelar dinheiro ou através da venda, ou através da proteção aos vendedores. Entendemos muito bem que todos falavam como bons moços e ninguém admitiu nada do que estava fazendo, na realidade.
Entretanto, muitos dos filhos do homem da cidade e dos seus netos, continuaram a se dar muito mal. A falsa luz de tempo curto que chega com o abuso das plantas de poder e de cura, atraiu e cativou mais e mais a cada dia. Os seus remédios não funcionaram e ninguém entendeu porque. Eles nem sabiam por que os filhos deles buscavam essa luz falsa das plantas roubadas e das suas forças violentadas. E porque gostaram tanto desse abuso é que se jogaram no lixo das ruas, esquecendo aqueles que eles amavam e ignorando que foram amados. Vendiam tudo que tinham, roubavam até, enquanto as mães choravam e os pais não entendiam.
O que é que faz falta na vida do homem moderno que alguns trocam a sua casa para viver na imundice? O que está errado numa sociedade que não tem a mínima para acabar com essa vergonha sem precedentes?
Que cultura é esta, que as promessas são esquecidas logo após as eleições? Num mundo de jogos duplos, dublados e de autoridades hipócritas, a sobrevivência dos mais adaptados virou em dominância dos mais mentirosos e muito bem conectados.
Voltaram para buscar uma planta que curaria os efeitos do abuso das plantas que curam. Alguns até chegam a pensar que isto seria combater o mal com o mal. Que audácia dizer que o Grande Espírito seja qual for o nome que tu lhe darias, criaria uma criatura do mal! Ainda menos uma planta que nasce da terra em direção os céus, olhando, buscando, chegando à luz! Veja a própria cebola, nossa irmã. Ela tem mais de informação no seu DNA do que o homo sapiens perditus.
No fim encontraram um par de plantas que se unidas, fazem o homem ver outros mundos e mais importante ainda, fazem ver a si mesmos num espelho de mente iluminada. Agora dizem assim: 'Claro que precisamos de provas de cura' e estão assim ignorando a experiência milenar dos homens da floresta. Alguns deles suspeitam e insistem que não havia dúvida que as plantas de cura deveriam ter um efeito mortal, provocando tantas overdoses, até que no fim alguém morre. Se fizessem esse teste com a sua própria comida, achariam que cinquenta quilos de feijão no almoço matariam qualquer cobaia, homem ou bicho, tudo igual.
Enquanto essa loucura da procura da cura continua, os filhos do homem moderno sofrem e até morrem por isso e os seus netinhos choram nas noites em que se veem abandonados. Abandonados eles estão, sim, não só pelos seus próprios por toda a sociedade.
As plantas das florestas, elas gostam dos seres humanos. É pena que eles se matam só para que alguns deles fiquem ainda mais ricos! Mas existe paciência, sim, do lado da luz, esperando na noite e nas madrugadas as chamadas, os ícaros e os hinários, as canções abençoadas que abençoam.
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