Falta apenas o último ato

Inocentado pelo procurador, Palocci agora pode pedir demissão



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Para os especialistas, é o case do ano. Se alguém, claro, se dispuser a contar, algum dia, como foi a administração da crise que começou no dia 15 de maio, quando a Folha de S. Paulo falou, pela primeira vez, do enriquecimento súbito do ministro Antonio Palocci, chefe da Casa Civil da Presidência da República. Aí poderemos entender porque políticos e profissionais competentes deixaram que a crise se prolongasse tanto e causasse o maior desgaste do governo de Dilma Rousseff nesses pouco mais de cinco meses.

Se partirmos do princípio de que não houve terrível erro de avaliação, ou incompetência injustificada, só resta uma hipótese: há muita coisa sobre Palocci, suas relações com Dilma e com o ex-presidente Lula, que desconhecemos totalmente. Palocci seria muito mais forte do que pensamos que é – e olha que já sabemos que é muito forte. Se ele continuar na Casa Civil, o case fica ainda mais interessante.

Porque não há como explicar, com as informações que são públicas, porque o ministro está sobrevivendo na função há mais de três semanas. A cada dia fica mais claro que ele não tem como explicar o enriquecimento em quatro anos, quando era deputado federal influente e com acesso total ao governo, coordenador da campanha de Dilma e anunciado ministro do futuro governo. Pode até ter sido tudo legal – embora a falta de esclarecimentos não permita essa avaliação -- mas foi visivelmente antiético e imoral.

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Está mais do que claro também que Palocci não tem mais a menor condição de exercer as funções de articulador político do governo. Mesmo segmentos que sempre o apoiaram, política e financeiramente, estão convencidos de que não dá mais, acabou o encanto que havia sido estranhamente restaurado depois do lamentável episódio do caseiro Francenildo Costa.

Ninguém que acompanhe o quadro político nacional desconhece que o país está praticamente paralisado, que a Casa Civil não funciona, que há um constrangimento geral no governo e nos que lidam com ele. E que as pressões vêm aumentando dia a dia, fazendo com que aliados do governo passem, já há algum tempo, a pedir publicamente o afastamento do ministro ou a torcer para que isso aconteça logo.

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Palocci e os que o defendem acreditaram, no início, que o episódio iria se esvaziar. O presidente da Comissão de Ética da Presidência, ministro Sepúlveda Pertence, havia declarado que nada havia contra ele e seria fácil tratar o assunto como luta política da oposição. Palocci contratou uma grande agência de comunicação, certo de que as articulações políticas e o trabalho profissional dos contratados seriam suficientes para encerrar o assunto.

O que mais se via nos telejornais e nos impressos nos dias 16 e 17 eram líderes governistas e partidários arrogantemente dizendo que o caso estava encerrado, que nada mais havia a discutir. E a linha de defesa elaborada para os líderes no Congresso, indevidamente divulgada, mostrava que Palocci não pensava em explicar nada, mas apenas em acabar mesmo com o assunto.

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Qualquer profissional veria, depois de uns três ou quatro dias de desgastes, que a melhor solução seria o afastamento do ministro. Ao estilo do afastamento-enquanto-se- investiga de Henrique Hargreaves, no governo de Itamar Franco, ou pedindo demissão sob o argumento sempre válido de que não queria causar mais problemas à presidente e ao governo. Dilma, chateada, mas colocando os interesses nacionais acima de tudo, aceitaria o pedido de demissão.

E já não se falaria mais nisso. O caso estaria mesmo encerrado. Então, por que deixar que esse desgaste de Palocci, de Dilma, do PT, dos aliados e do governo se prolongasse tanto? Por que se arriscar a ver o Congresso abrir uma CPI que nunca se sabe a que vai levar? O que realmente segura Palocci na Casa Civil? Que força é essa?

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Talvez o procurador-geral da República tenha frustrado uma expectativa ao demorar demais a divulgar sua decisão de não abrir investigação contra Palocci. O ministro e o governo esperavam que essa decisão viesse mais rapidamente e contribuísse para esvaziar o assunto. Afinal, o procurador-geral precisa do governo para ser reconduzido ao cargo.

Mas assim como Palocci demorou demais a dar uma entrevista para se explicar (e nada explicou), o procurador demorou demais a absolvê-lo e a arquivar as representações. A oposição pode agora argumentar que se o Ministério Público se omite e não quer investigar, cabe ao Congresso fazê-lo. E haja mais desgaste.

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Os políticos e profissionais que tanto apanharam desta crise têm agora uma única coisa a fazer: pedir a Palocci que peça logo sua demissão. Ele pode alardear que nem o Ministério Público, nem a Controladoria Geral da União, nem a Comissão de Ética encontraram algo errado no que fez, e por isso é inocente e está tranquilo. Mas se afasta para não causar mais desgastes ao governo. Roteiro óbvio, mas que funciona.

Passada a quarentena, Palocci poderá voltar a suas consultorias. Certamente não serão tão bem-remuneradas quanto antes, mas darão tranquilamente para pagar o aluguel de R$ 15 mil e viver muito bem.

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MP continua no caso

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No despacho de 27 laudas que elaborou, o procurador-geral da República diz que há insuficiência absoluta de indícios que justifiquem uma investigação mais rigorosa sobre Palocci. Como qualquer um vê esses indícios a olho nu, fica claro que o procurador não quis mesmo abrir a investigação e tem argumentos jurídicos para isso. Pois argumentos jurídicos podem ser encontrados para um lado ou para o outro.

Mas o procurador-geral deixou claro que o Ministério Público pode continuar investigando Palocci, na área cível, por suspeita de improbidade administrativa.

Defesa patética

A corrupção tem de ser condenada, seja de direita, de centro ou de esquerda. Temos de condenar as violações à ética, o tráfico de influência, o enriquecimento ilícito – não faz diferença se o autor é do governo ou da oposição, não importa como se situa no espectro político e ideológico.

Defender corrupto sob o argumento de que é um companheiro, de que é do governo ou de que é de esquerda ou direita é ser cúmplice e conivente com a corrupção. Defender corrupto ou traficante de influência porque o outro lado está se aproveitando disso, querendo fazer a luta política, é usar de um pretexto injustificável para inocentar o acusado.

Esse tipo de solidariedade não interessa aos que são verdadeiramente de esquerda ou aos que querem o sucesso do governo de Dilma Rousseff. Defender o ainda ministro Antonio Palocci, depois de todos os seus antecedentes e da postura arrogante que tem tido, é, aí sim, fazer o jogo da oposição ao governo e da direita. Quanto mais tempo Palocci fica, melhor para a oposição.

Não é preciso concordar com uma só bandeira dos oposicionistas para chegar a uma conclusão óbvia: eles podem estar errados em tudo e certamente estão travando uma luta política contra o governo, mas têm toda a razão do mundo em exigir que Palocci preste esclarecimentos de verdade ao Congresso Nacional. Porque o que a TV Globo mostrou não explica nada.

É patético assistir governistas e petistas defendendo o indefensável. Petistas históricos, respeitados, não deveriam se prestar a defender Palocci. Deixem esse papel para José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Gim Argello, Henrique Alves, Eduardo Cunha ... É mais coerente.

E Hugo Chávez, ao encontrar o ainda ministro, poderia ter ficado calado.

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