“Eu me recusei a ser vítima”, diz Vera Duarte, primeira mulher a seguir carreira na magistratura em Cabo Verde

Em entrevista ao programa Áfricas, na TV 247, a juíza, escritora e ativista dos direitos humanos Vera Duarte fala sobre ser mulher em seu país e sobre sua literatura. “Desde muito mocinha eu vi muita mulher sendo vítima e era uma condição que eu não queria para mim”, disse. Assista

Poeta e jurista de Cabo Verde, Vera Duarte
Poeta e jurista de Cabo Verde, Vera Duarte (Foto: Ramón de la Rocha)


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Por Victor Castanho - A poeta Vera Duarte, primeira mulher a entrar para a carreira da magistratura em Cabo Verde, atuar como juíza conselheira no Supremo Tribunal de Justiça do país e a participar da Comissão Africana para o Direito do Homem e dos Povos, discutiu a condição da mulher em Cabo Verde no programa Áfricas, da TV 247. “Eu fui uma mulher que se chocou muito com a situação de inferioridade em que vivia a mulher e acho que toda minha orientação de vida, incluindo o fato de eu querer estudar Direito, o que nenhuma mulher cabo-verdiana havia feito ainda, foi motivada por minha vontade de ultrapassar a situação que eu nunca achei justa de a mulher ser considerada um ser inferior”, disse.

Vera ainda nos revelou a importância do pensamento progressista em sua família para que alcançasse seu objetivo de transformação social. “Meu pai e minha mãe já eram gente com uma mente muito aberta e, apesar de sermos nove filhos, dos quais três homens e seis mulheres, houve um tratamento igual a todos. Talvez isso tenha me permitido distinção entre minhas companheiras, pois sempre quis estudar Direito e fiz de tudo para estudá-lo”, contou a escritora. “Acho que houve alguma coisa de insubordinação e irreverência semeada em meu espírito, e isso me levou a lutar também pela independência de Cabo Verde”, acrescentou.

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Ganhadora de diversos prêmios, como o Prêmio Norte-Sul de Lisboa e o 1º lugar no Concurso Literário da Independência Nacional de Cabo Verde, Vera Duarte disse-nos que se considera uma “mulher de transição” por incorporar em sua vida o protagonismo. “Eu participei do primeiro programa de rádio em que jovens denunciavam a fome nas ilhas de Cabo Verde. Depois, na universidade, participei ativamente dos movimentos de esquerda e da luta contra o colonialismo, imperialismo e dominação das mulheres pelos homens. Acho que [essas transformações] foram parte de meu tempo histórico e eu não quis ficar parada e ver as coisas acontecerem. Assim, acabei por me envolver efetivamente em todos os movimentos que me foram aparecendo”, afirmou.

Vera indica fazer questão de assumir uma postura corajosa, evitando se colocar no papel de vítima. “A vítima, na realidade, é aquele que quer fazer da mulher uma vítima, alguém inferior. Eu nunca aceitei o papel de vítima. Acho que a mulher jamais pode aceitar o papel de vítima. Ela deve fazer com que os outros, que querem fazê-la de vítima, sejam tratados como menores”, disse.

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A participação ativa de Vera na vida política é fator essencial para a compreensão de sua obra. A autora nega que sua arte possa se dissociar da realidade e afirma que o subsídio de sua escrita está naquilo que ela observa. “Tudo que eu vivi enquanto juíza, enquanto ativista dos direitos humanos, enquanto participante de inúmeras organizações da sociedade civil, é o que dá matéria para minha poesia”, afirmou.

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