“Eu me espanto com como os negros são tratados no Brasil”, diz escritor angolano João Canda

Em entrevista à TV 247, o escritor discutiu seu projeto literário e abordou as diferenças na abordagem da questão racial no Brasil e em Angola. “Não há essa questão de que você é branco ou preto. As filosofias angolanas incorporam a tradição da coletividade e isso fica claro na filosofia ubuntu”. Assista

Escritor angolano João Canda
Escritor angolano João Canda (Foto: Reprodução)


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Por Victor Castanho - O escritor e coordenador editorial João Canda discutiu, na série Áfricas, da TV 247, seu projeto literário de resgate de tradições e ainda discorreu sobre o estranhamento que teve ao observar o racismo no Brasil. “Só conheci o racismo quando chegamos no Brasil”, disse. 

Fundador da editora Literáfrica, Canda afirma que a filosofia de vida adotada por muitos angolanos impede que se estabeleçam fortemente esses preconceitos. “A filosofia africana preza pela coletividade. Logo, não importa se você é branco, azul ou laranja”, disse. O autor atribui essa cosmovisão à predominância da filosofia ubuntu no país.  

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A palavra ubuntu, do kibundu, é um termo tão significativo quanto o é saudade para a lusofonia. O vocábulo carece de uma tradução clara e única e, semanticamente, remete à noção de que há uma intrínseca relação entre todos nós. É um humanismo que preza pela harmonia de todas as mulheres e homens e talvez possa ser interpretado a partir da lógica do “eu sou porque nós somos”. Não é de se estranhar que, tendo crescido dentro dessa filosofia, Canda tenha se surpreendido ao constatar o racismo no Brasil.

“Quando eu venho ao Brasil eu me espanto com como nós negros somos tratados, com como somos olhados. E isso não assustou só a mim, mas a muitos outros africanos”, afirmou. 

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Para o escritor, os caminhos para a desconstrução do racismo institucional e para a fomentação de um espírito crítico nas pessoas está no resgate das tradições e raízes culturais pré-coloniais. E como seria feito esse resgate? Segundo João, a resposta está na contação de histórias. 

“O processo de contar histórias africanas transcende sua função de entretenimento. O contar histórias é uma ferramenta de preparação para a construção e consolidação da sua identidade. Na contação de histórias você tem contato com quem você é, com seus valores, com sua cultura, com seus hábitos”, afirmou. “Muita gente desconhece seus valores e tradições e assim são influenciadas pelo que for mais impactante. O reconhecimento de sua identidade e seus valores impede essa influência desvairada”, acrescentou. 

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O projeto literário de Canda busca recuperar essas raízes e o autor propõe ao seu leitor que compreenda a si mesmo. A entrevista de João não somente nos ensina sobre seu projeto literário, mas nos convida a incorporar a máxima aforismática: “conhece a ti mesmo”.

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