Escrever para ser lido, não para ser cultuado

As pessoas leem apenas linhas de autores renomados e já correm para comentar sobre o que leram, criando assim, uma lista de autores que não são lidos, mas são idolatrados



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Albert Camus tem uma frase que eu concordo e discordo ao mesmo tempo. Ele diz que "Os que escrevem com clareza têm leitores, os que escrevem de maneira obscura têm comentaristas”. Como já disse, concordo e discordo. Concordo porque quando você escreve algo obscuro e confuso, e pretensamente intelectual, as pessoas, por não compreenderem seu texto em sua essência, precisam comentar algo, para se sentirem a altura da inteligência(?) do autor. Já quando você escreve de maneira clara e não afetada, seus leitores sentem prazer, principalmente, em ler. Em muitos casos o leitor também quer dar sua opinião ou comentar o texto com outras pessoas, quando a plataforma permite. Mas não é regra.

O melhor exemplo disso são o que chamamos de “os russos”. Os russos são os autores russos clássicos, como Dostoiévski, Tolstói, Tchekov entre outros. Além de me fazerem ir ao Google ver a grafia correta dos seus nomes, seus textos geralmente são carregados e densos. No caso deles não era um estilo forçado, era algo natural. Dizem até que em russo a leitura é mais leve, mas que a tradução para o inglês e o português deixou o texto mais pesado. Mas a verdade é que muitas pessoas que se dizem admiradoras dos russos na verdade nunca os leram, mas dizem que leram para parecerem inteligentes e cultas. O crítico literário francês Charles Saint-Beuve tem outra frase ótima sobre isso: "É preciso escrever o mais possível como se falasse e não falar demais como se escrevesse". Concordo plenamente. Se você escreve próximo de como você fala, vocês vai ter leitores. Se você fala como você escreve, você vai ser um chato inconveniente vomitando proparoxítonas até pra comprar um maço de cigarros.

Como no Brasil são raros os casos de pessoas que conseguem se tornar escritores profissionais, criou-se uma aura mística em torno deste ofício. E pra piorar, muitos escritores alimentam esta tremenda idiotice, se vendendo como pessoas inalcançáveis, cheias de manias e excentricidades. E muitos traduzem para seus textos essa aura e acabam escrevendo de uma maneira completamente afetada e pseudo-intelectual, quase ininteligível, e de maneira consciente, com o propósito de parecerem mais inteligentes e cultos. E o leitor médio sem uma bagagem literária REAL, cai nessa e passa a considerar este sujeito um gênio.

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Mas verdade é que as pessoas lêem somente algumas linhas destes autores, e já correm para comentar que leram. Porque o texto é maçante, pesado. E aí cria-se toda uma “casta” de leitores de sucesso que não são lidos, mas são idolatrados. É o que mais se vê na internet. Enquanto escritores do cotidiano são tidos como simplórios e “leitura de massa”. Tenho três amigos que discordam disso: Luis Fernando Verissimo, Sérgio Porto e Mario Prata. Verissimo pra mim que é o melhor escritor brasileiro vivo, e é um dos sujeitos que escreve com mais clareza e simplicidade que já li na vida. E ainda assim não deixa de nos brindar com a sua genialidade a cada texto. E ele é um dos autores brasileiros mais vendidos na história. Então, da próxima vez que você for ler um livro ou um texto, goste dele pelo que você leu, não pela pretensa intelectualidade do autor. E sempre desconfie de quem usa muitas proparoxítonas. E mais uma frase de H. L. Mencken pra fechar esse texto enorme. “Não há assuntos chatos, apenas escritores chatos”. E tenho dito.

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