Diretoras opinam sobre a participação feminina no cinema
No Dia Internacional da Mulher, o portal Cinegrafando conversou com algumas delas para saber como avaliam o momento da mulher no audiovisual; para Anna Muylaert, diretora de Que Horas ela volta?, "o avanço é relativo"; "A mulher está no mercado audiovisual em número, mas em importância ainda é bem reduzido"
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Por Houldine Nascimento, do Cinegrafando
Reflexo da sociedade, o cinema é historicamente um ambiente regido por homens. A quantidade de diretores supera consideravelmente o número de mulheres que integram essa posição de destaque no mercado audiovisual. Um fato que serve para corroborar isso é que, desde 1986, o Brasil não enviava um filme dirigido por uma cineasta para brigar por uma vaga no Oscar. Antes do bem sucedido Que Horas ela volta?, de Anna Muylaert, o último trabalho feito por uma cineasta a representar o País foi A Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral.
Mas será que as coisas mudaram? No Dia Internacional da Mulher, o Cinegrafando conversou com seis cineastas para saber como elas enxergam o momento do cinema.
Foto: Divulgação
Adelina Pontual, 50 anos, diretora de Rio Doce – CDU
“Cada vez mais as mulheres estão ocupando seu espaço. A própria Anna Muylaert foi no pico da onda com o filme maravilhoso dela [Que horas ela volta?]. A tendência é se firmar. Já lá atrás a gente tinha Carla Camurati com ‘Carlota Joaquina’, Tata Amaral, com quem já trabalhei. Embora a dificuldade fosse grande. Durante um tempo ficou meio paradão. Mas a gente vê nas próprias residências o protagonismo do homem, o que reflete como as coisas são. Com documentários, é tudo mais difícil. Eu não consegui exibir Rio Doce/CDU comercialmente. Só ficou dois dias em cartaz numa mostra do São Luiz. Fui com o filme debaixo do braço por não ter distribuidor.”
Foto: Reprodução / Internet
Anna Muylaert, 51 anos, diretora de Que Horas ela volta?
“O avanço é relativo. O que valeu discutir no ‘Que horas ela volta?’ foi a participação feminina dentro do mercado, que é sexista como toda a sociedade. Existe uma parcela fazendo filmes para um público pequeno. Num mercado mais competitivo, a mulher é rara. Ela está no mercado audiovisual em número, mas em importância ainda é bem reduzido. Aquele episódio envolvendo Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Recife serviu de gatilho para começar a falar desse assunto. Porque era uma realizadora sendo interrompida diversas vezes por realizadores homens que não estavam na pauta. Refletiu o sexismo normal de que ‘o homem fala e o burro abaixa a orelha’. Isso é a nossa tradição. Foi mais uma metáfora. Os dois são meus amigos e já apanharam muito por isso.”
Foto: Reprodução/Internet
Helena Ignez, 73 anos, diretora de Ralé
“É um momento ainda indefinido. Não sei se fazer filme está mais difícil para mulheres do que homens, apesar de haver uma parte muito masculina e sexista em São Paulo. Mas em geral não há uma especificidade negativa em ser mulher e fazer cinema. Enquanto atriz, eu continuo sendo dirigida por homens. Acho que homens e mulheres devem formar uma nova humanidade, juntos. O que nós procuramos como liberdade está além disso. E o Dia Internacional da Mulher é importantíssimo por lembrar uma tragédia que foi a base de tudo para uma transformação.”
Foto: Divulgação/Cine PE
Mini Kerti, 46 anos, diretora de Muitos Homens num Só
“Houve um avanço na participação das mulheres no cinema e na TV: diretoras, editoras, diretoras de fotografia, diretoras de arte fazem parte cada dia mais do cotidiano dos sets de filmagem e vem se destacando nos créditos cinematográficos. Várias mulheres lançaram seus filmes entre 2014/2015. Mas outro dia eu li que apenas 15% dos diretores são mulheres. Há ainda um grande caminho, mas as mulheres estão realizando seus filmes e isso é o que importa. Quando eu comecei a dirigir, simultaneamente outras mulheres também começaram, cada uma no seu canto: Carolina Jabor, Marina Person, Sandra Kogut, Anna Muylaert, Izabel Jaguaribe, Paola Siqueira, entre outras tantas. Hoje temos uma geração de diretoras mulheres, na geração anterior a nossa, eu me lembro apenas da Suzana Amaral. A tendência natural do mercado é esse numero crescer e assim vai se tornar corriqueiro vermos uma mulher diretora.”
Foto: Divulgação/Aroma Filmes
Renata Pinheiro, 45 anos, diretora de Amor, Plástico e Barulho
“O momento está favorável porque estamos discutindo vários direitos das mulheres, dos negros. O espaço que é dado às realizadoras é um espaço conquistado. Para a gente ter esse direito de visibilidade não foi tão fácil. É interessante que a cultura vem sempre como um meio de transformação. Em ‘Amor, Plástico e Barulho’, eu já tinha uma preocupação de trazer o universo feminino por ser mulher mesmo. Não que fosse um discurso milimetricamente traçado, mas veio num momento em que as pessoas estão dando maior atenção a isso. Conversando com algumas atrizes, vi que há uma preocupação porque a maioria dos papéis disponíveis para elas não são tão significativos. Há filmes feitos por homens, em que o universo masculino domina e os personagens femininos são muito secundários ou servem de plataforma para o personagem masculino. E no meu filme eu quis focar nessa posição da mulher num meio que também é machista, o show business em geral.”
Foto: Divulgação/Victor Jucá
Tuca Siqueira, 36 anos, diretora de Amores de Chumbo
“Acredito que não haja uma diretora ou profissional do audiovisual que não tenha encontrado alguma dificuldade no trabalho que desempenha. Quando comecei, em 2003, as dificuldades vinham em dobro já que eu era mulher e iniciante num meio majoritariamente masculino. Atualmente a aceitação é bem maior, porém as dificuldades seguem. Recentemente me surpreendi com colegas de trabalho que admiro muito com comportamento machista no set sob a minha direção. O exercício segue sendo diário. A gente não desiste e, apesar de termos menos espaço, somos muitas e somos fortes. Quando uma mulher faz um filme é porque quer falar de algo que lhe toca profundamente. E isso é grande! Isso ecoa.”
*Colaboração de Wanderley Andrade
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