Da produção de aves à falta do que comer: conheça Dona Ana Dalva, personagem de Povo Preso

Filme que ouviu pessoas no interior do Nordeste sobre a prisão de Lula busca apoio financeiro para continuar a segunda parte da filmagem

Dona Ana Dalva, personagem de Povo Preso
Dona Ana Dalva, personagem de Povo Preso (Foto: Reprodução)


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Por Carlos Fraga e Bruno Bravo, documentaristas - Viajamos por Pernambuco e pela Paraíba em setembro de 2018 para conversar com pessoas que haviam deixado a fome e a miséria em meados da década passada sobre a prisão de Lula e a impossibilidade de tê-lo como candidato a presidente nas eleições daquele ano. Os personagens que encontramos e suas histórias estarão no filme Povo Preso, que busca apoio financeiro coletivo, pelo site Catarse, para entrar em sua segunda e última fase de produção.

Depois de passar por Brasília Teimosa, na periferia do Recife, e Caetés, no sertão de Pernambuco, chegamos a Monteiro, interior da Paraíba. As pessoas que encontramos pelo caminho estavam tensas, angustiadas, tristes. Àquela altura, dois anos após o golpe que tirou o povo do orçamento público, já era visível a destruição dos direitos históricos dos trabalhadores, conquistados desde a Era Vargas, passando pelas políticas públicas adotadas nos governos de Lula e Dilma. O medo de um caminho sem volta estava estampado nos rostos daquelas pessoas. Elas sabiam que tudo podia ficar ainda pior.

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O TSE já havia cometido o segundo golpe contra a democracia ao impedir Lula de disputar a eleição, mesmo não tendo sido julgado em terceira instância e havendo amparo legal e ampla jurisprudência a favor do ex-presidente. Esse pequeno intervalo entre o banimento político de Lula, em 1º de setembro, e a formalização da candidatura de Fernando Haddad, no dia 11 do mesmo mês, significou uma espécie de limbo para a população mais pobre e vulnerável, representada por homens e mulheres do sertão que contaram suas histórias para nós.

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Nesse purgatório, ainda havia espaço para a esperança. Os olhares ternos e os sorrisos tímidos em meio à desolação surgiam nos raros momentos em que a libertação de Lula a tempo de disputar as eleições parecia uma possibilidade real. Deus era sempre evocado para a missão de permitir o voto livre, àquela altura já banido pelos arranjos subterrâneos dos superiores juízes eleitorais com as oligarquias brasileiras e seus congêneres externos.

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Em nossos arquivos guardamos uma imagem que reflete precisamente o que estava acontecendo naquele período histórico. Era o sítio de uma senhora chamada Dona Ana Dalva. Além da propriedade da terra, da pequena produção, ela havia conseguido estabelecer uma criação de aves. Isso tinha acontecido durante os governos de Lula e Dilma e não havia risco aparente. Mas depois de construir toda a estrutura do aviário, com telhado e o equipamento necessário, as encomendas foram caindo até não conseguir vender mais nada. Ninguém tinha dinheiro para comprar. Aquela estrutura física ficou ali, sem sentido. E como símbolo da destruição que já estava em curso e que se aprofundaria em breve.

Segundo Mônica Mora, em a Evolução do Crédito no Brasil entre 2003 e 2010 (IPEA, Rio de janeiro, 2015), “o crédito aumentou expressiva e continuamente durante o governo Lula, inclusive após a crise de 2008. Assim, o volume de crédito, que representava 24,6% do Produto Interno Bruto (PIB), em dezembro de 2003, atingiu 45,2% do PIB, em dezembro de 2010”. 

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Na primeira década dos anos 2000, a renda dos 50% mais pobres subiu 69%, segundo o economista e ex-presidente do IPEA, Marcelo Neri. Entre 2001 e 2011, as transferências por meio do Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), colaboraram com 15% a 20% na redução da desigualdade de renda.

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As políticas de transferência de renda e de crédito no início deste milênio, faziam parte do que Cássia Heloisa Ternus e Bruna Taize de Medeiros chamam de “crescimento pró-pobre no Brasil” (Revista Cadernos de Economia, Chapecó, v. 22, n. 38, p. 76-89, 2018).

Muitas vezes pensamos em Dona Ana e nos perguntamos se aquela estrutura finalmente desabou sobre o seu terreno, exatamente como as políticas sociais, que ficam como entulhos, nas gavetas de ministérios, apenas para deixar muito claro, num ato de crueldade institucional, que o governo de Jair Bolsonaro não apenas privilegia um grupo econômico de privilegiados, mas promove a tortura moral e emocional dos brasileiros mais pobres.

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Veja trecho do depoimento de Dona Ana Dalva:

Povo Preso é um documentário em progresso. Continuaremos contando, aqui no Brasil 247, um pequeno trecho da história de alguns dos personagens reais do filme. Das conquistas do governo Lula à perda de direitos com o golpe contra Dilma e a prisão do ex-presidente. 

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Estamos em busca de parceiros para continuar filmando pelo Brasil e contando essa história até a posse do novo governo. 

Clique aqui no link do Catarse, conheça o projeto e participe!

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