Clássico russo, "Anna Karenina" ganha versão hollywoodiana

Produtor britânico é sabatinado por russos em Londres; Anna Karenina é interpretada por Keira Knightley; adaptação estreia no Brasil só em fevereiro

Clássico russo, "Anna Karenina" ganha versão hollywoodiana
Clássico russo, "Anna Karenina" ganha versão hollywoodiana (Foto: Divulgação)


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Opera Mundi -Paul Webster, um dos produtores da primeira adaptação hollywoodiana do clássico "Anna Karenina", de Leon Tolstói, transpirou nervosismo nesta segunda-feira (03/09) diante da plateia na Biblioteca Britânica, em Londres. Estamos na pré-estreia "com enfoque literário" do filme e há muitos russos na sala. Ele apresenta alguns trechos da obra, acendem-se as luzes e a primeira pergunta tem ares magoados. O sotaque é de Moscou: "Mas para quê o cenário surrealista?"

Ajeitando-se no palco, onde está sentado, ombros encolhidos, o produtor passa a sorrir amarelo. "Entendemos que a aristocracia czarista russa vivia como se estivesse em uma peça de teatro. Eles conversavam em francês, usavam o alemão para finanças e falavam em inglês sobre cavalos. O russo era reservado para falar com os criados", afirmou. "Por isso filmamos quase tudo em estúdio, em uma réplica de teatro russo de 1870, como uma ampla metáfora da sociedade na época."

A resposta parece até ter agradado, mas Webster continua algo desconfortável. Ele admite que "Anna Karenina", tragédia do século 19, é um patrimônio cultural russo e sua releitura mexe com a história do país. A produção é bastante audaciosa ao apresentar uma versão longe do convencional, fugindo à linguagem dos dramas de época. O produtor gosta de comparar a empreitada russa com a de "Orgulho e Preconceito" (2005), outro filme de seu currículo. "Escapamos daquilo que é tradicional e chato", disse.

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Assim que o filme começa, fica claro que sua dinâmica é realmente outra, apoiada em uma brilhante justaposição de cenários teatrais, que lhe dá cores e estilos próprios. O bem trabalhado jogo de câmera é uma homenagem à prosa elegante de Tolstói, que tinha como fãs os gênios literários Fiodor Dostoiévski, William Faulkner e Vladimir Nabokov. Mesmo assim, as 2h10 de adaptação, com roteiro de Tom Stoppard, não abordam todas as facetas do livro e mantêm foco firme no drama conjugal da protagonista.

Publicado por Tolstói entre 1873 e 1877 em formato de série, "Anna Karenina" expõe em cerca de 800 páginas os tratos provincianos da aristocracia local, simbolizados pela reação ao adultério de Anna, que a leva ao suicídio, e apresenta o embrião das mudanças fundiárias que estavam por vir com a revolução bolchevique, quase 30 anos depois, através dos dilemas pessoais do fazendeiro Constantin Levin - alter ego de Tolstói.

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Na obra original, as duas histórias são concorrentes. O ponto em comum entre ambas põe na balança a relação entre poder e hipocrisia. No filme, nem tanto. Apesar de o dilema de Levin ser bem retratado na tela (o personagem equilibra-se entre os tratos europeizados da aristocracia e a flagrante pobreza dos camponeses que trabalham para ele), sua vontade de resolver a questão agrária - a seu favor, claro, com a divisão dos lucros nas colheitas-, tão marcante no livro, com autocríticas e conversas politizadas regadas a vodka, ficou de fora do filme. "Se tem alguma coisa do livro que não mostramos no filme? Política agrária", admitiu o produtor.

Mais uma vez reaparece o sotaque de Moscou na plateia, que deve ter feito Webster tremer. A pergunta: "Como foi feita a seleção de atores?" O motivo é bastante claro. O elenco é primordialmente britânico. Anna Karenina é interpretada por Keira Knightley. Seu marido, Alexei Karenin, é Jude Law. O conde Alexei Vronski, por quem Anna se apaixona, é interpretado pelo jovem Aaron Johnson.

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"Escolhemos atores que agregam valor", explicou o produtor. "O importante é que não há americanos", disse, para uma plateia que desabou em gargalhadas.

Mas a descontração durou pouco. "Uma observação: o conde Vronski, no livro, é moreno. E Aaron Johnson é loiro. Por quê?", emendou outro sotaque russo. "Escolhemos o visual dele para ficar com jeito de rock star dos anos 80", disse Webster. E muita gente torceu o nariz.

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Mesmo com todas as controvérsias inevitáveis da adaptação de um clássico, a tragédia hollywoodiana de "Anna Karenina", cuja distribuidora é a Universal Pictures International, entrega o que promete. Uma megaprodução, cerca de 180 cenários impressionantes, figurinos esplendorosos e sacadas engenhosas de como se usar o espaço do teatro - o palco, a plateia, as cocheiras, os camarins - elevam a força do filme com excelentes atuações de uma desafiadora Keira Knightley e de um sóbrio Jude Law.

Uma última pergunta ao produtor Paul Webster: "Como acha que o filme vai ser recebido na Rússia?" "Espero que ele motive discussões, desperte a atenção e que se tenha um debate justo", afirmou, com um quê de poucas esperanças. "É um filme que divide as pessoas. Ou elas amam ou odeiam", disse. A estreia em Moscou está marcada para fevereiro de 2013, assim como para o Brasil.

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Anna Karenina
Reino Unido/França (2012)
130 mins.
Diretor: Joe Wright
Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Johnson, Kelly MacDonald
Estreia: Reino Unido (7 de setembro de 2012), Brasil (1 de fevereiro de 2013)
Distribuidora: Universal Pictures International

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