Capítulo Único
Enquanto escrevo nesse teclado odioso, escuto músicas que baixei de graça na internet. Mas vou logo avisando: sou ético
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Escrevo diante de um computador obsoleto com teclado que falha. E eu nem me preocupo mais em corrigir as palavras erroneamente digitadas. Também não vou comprar outro teclado.
Do meu lado esquerdo, um puff (escreve-se assim?) que ganhei de presente, praga que proliferou nos anos 60. Mais um motivo pra eu detestar esses malditos hippies sujos. Esse puff (decidi que é assim que se escreve) está todo flácido. Eu olho pra ele e me vem à mente a imagem de uma espécie de “homem-plasta”, esparramando pros lados. Mas fazer o que? A Lucy adora deitar nele. A Lucy é minha gata mais nova. Quem não tem filho caça com gato.
Enquanto escrevo nesse teclado odioso, escuto músicas que baixei de graça na internet. Sim, eu baixo músicas de graça na internet. Eu engrosso a legião que lesa as gravadoras e os artistas por não pagar direitos autorais. Mas vou logo avisando: sou ético. Não compro dvd´s e cd´s piratas daquelas bancas fixas de ambulantes armadas na rua. Aliás, é contraditório isso: ambulantes estáticos. Muito menos compro daqueles ambulantes, os sem-contradição, com sacolas pesadíssimas, que perambulam por toda a parte e oferecem seus produtos piratas, geralmente numa sexta-feira, quando estou sentado numa mesa de bar, estrategicamente situada no passeio, tomando uma cerveja gelada. Uma coisa irritante, quase broxante. Eu trabalho o dia inteiro pra chegar no fim da tarde e ingerir de volta tudo o que suei durante o dia, e eles chegam oferecendo suas novidades: - “Doutor, esse aqui nem estreou no cinema, mas eu já tenho. É ótimo. Tá saindo muito. E tem outros, também. 2 é 10, 3 é 15”.
Enfim, escrevo ouvindo música. E olho, então, pro meu lado direito, onde há uma janela aberta. A visão dali é pior do que a visão do puff. Existe um prédio, da altura do meu, que além de tapar minha visão do horizonte impede que o vento circule. Onde eu moro, simplesmente não existe a expressão “corrente de ar”. Não. Aqui não sei o que isso significa. Eu vivo, por assim dizer, numa estufa. Para conseguir ver um pedaço do céu, tenho que me virar de costas para a janela, colar meu corpo à parede e enfiar a cabeça para fora da janela, projetando meu tórax praticamente inteiro para trás.
Além disso, nesse detestável prédio vizinho, há uma janela de apartamento de frente à minha janela. Ali vive um ser (nunca vi o rosto). Vejo apenas tratar-se de um quarto. E quando a janela desse quarto está aberta, vejo uma porta e nela pendurada uma flâmula do Cruzeiro. Mora ali um adolescente nojento, que não gosta de mim. Repito, nunca vi o rosto. Mas concluí que seja adolescente porque vejo mochilas e tênis secando na grade da janela. E esse tal não vai com a minha cara (embora também ele nunca a tenha visto) apenas porque, por duas vezes, gritei: “GAAAAALOOOO”, a plenos pulmões na janela, na final da Libertadores. É o que eu sempre digo: vizinho é sempre um problema.
E está um calor dos diabos aqui. O vento é apenas um desejo inalcançável. Mas espere. O Tempo está mudando. Também, depois do calor que fez hoje o dia inteiro, só poderia chover agora à noite. Muitos trovões. Vem tempestade por aí. E olha que já começou o dilúvio. Que que é isso?? Mas foi tão rápido. Caralho!! Toró descendo. São Pedro abriu todas as torneiras ao mesmo tempo. Nesse bairro é só ameaçar relâmpago que cai a força. Eu vou desligar essa porra de computador velho antes que acabe a lu...
Luciano Gil é de Belo Horizonte e torcedor do Atlético Mineiro
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247