Capitão América é soldado de chumbo hi-tech

O enredo lembra as aventuras de Indiana Jones e aqui vai uma dica: se você quer ver um bom filme sobre esse período histórico, entre numa locadora (ainda existe isso?) e procure a letra "J", de John Wayne



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Tenho dificuldade em ver filmes de super-heróis no cinema. Não sei por que, mas de uns tempos para cá, fico incomodado quando um desses mutantes da Marvel ou da DC Comics aparece nas telonas salvando o mundo de uma tragédia nuclear ou das mãos de um vilão bem demente.

Fui ver Capitão América: O primeiro vingador outro dia e a mesma sensação me abateu. Acho que é o peso da idade, o espectro da nostalgia rondando minha alma, não sei explicar, mas tenho quase certeza que os heróis de antigamente, pelo menos o das histórias em quadrinhos, os que habitavam minha infância, eram mais reais, verdadeiros do que os de hoje. Talvez por culpa dos efeitos especiais que dão uma maquiada na fantasia e, no caso do Capitão América, até na História mesmo. Sim, porque na fita dirigida por Joe Johnston (Mar de fogo e O lobisomen), a 2ª Guerra Mundial parece a guera do futuro, a guerra do fim do mundo e nem estamos falando de H.G. Wells.

O enredo lembra as aventuras de Indiana Jones e aqui vai uma dica: se você quer ver um bom filme sobre esse período histórico, entre numa locadora (ainda existe isso?) e procure a letra "J", de John Wayne, ou até mesmo "C", de Charles Chaplin, que só fez um sobre o gênero, mas o melhor de todos, O grande ditador, de 1940.

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Franzino e subestimado, Steve Rogers (Chris Evans) alimenta um sonho desde que o pai morreu em combate: dar a vida pela pátria. Ele já foi recusado em cinco alistamentos, mas nunca desiste. A persistência, aliás, é um de suas grandes qualidades. Não dá o braço a torcer nem mesmo quando lhe enchem a fuça de bolacha pelos becos da vida. "Eu estava dando uma lição neles", desconversa, sempre que sua valentia é contestada.

Um dia, como num passe de mágica, um anjo da guarda surge em sua vida. É o renomado cientista judeu Abraham Erskine, vivido pelo ótimo Stanley Tucci, o patinho feio de Hollywood que transforma suas atuações, por menor que seja, em momentos marcantes, inesquecíveis.

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Assim como Hitler, Erskine nutre um patriotismo sem igual por sua nação, por sinal a mesma do grande vilão da História, mas usa seus talentos para correr em outra direção. É quando nasce o Capitão América, a quintessência do ufanismo norte-americano. "Não ganhe a guerra sem mim", avisa o herói a um de seus colegas, antes de ser transformado numa máquina de guerra.

Símbolo do patriotismo estadunidense, o personagem, criado em 1941 pela dupla Joe Simon e Jack Kirby, parece meio deslocado diante dos tempos de euforia pacifista alimentado pelo governo Barack Obama, meio que um soldadinho de chumbo hi tech. Fora do contexto social e, sobretudo, político, dos dias de hoje, a nova sensação dos cinemas mundiais não passa de mera aventura cinematográfica que traz na sua essência os elementos primordiais do cinema do futuro, aquele que transforma pequenos detalhes audiovisuais em grandes espetáculos. E faz isso bem.

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Bonitão, o ator Chris Evans, transformado numa espécie de manequim hollywoodiano, até que demonstra certo traquejo para a coisa, mas são os atores coadjuvantes quem roubam a cena. Além do citado Stanley Tucci e Hugo Weaving, soberbo como o Caveira vermelha, merece destaque o experiente Tommy Lee Jones e sua famosa carranca mortuária que lembra a figura decadente do cantor e músico de jazz Chet Baker. A melhor piada do filme é protagonizada pelo seu personagem, um militar ranzinza de alta patente que ainda faz guerra à moda antiga, daí sua incredulidade, diante do super recruta da América. "Uma guerra não se faz com bondade, mas com bravura", argumenta.

Interessante o sutil jogo de metalinguagem que coloca em cena outros personagens da Marvel, daí a figura irreverente de Howard Stark (que no "futuro" será o pai de Tony, O Homem de Ferro), e a narrativa flui que é uma beleza, mas Capitão América está longe de ser uma obra-prima desse gênero cinematográfico que gera milhões e milhões de dólares, brotando nas salas de cinema tal qual a Hidra nazista do filme.

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O escudo do herói patriota pode até ser maneiro à beça e sua motoca mais incrementada do que o carro do Batman, mas ainda prefiro as aventuras desse super soldado nas páginas dos quadrinhos. Porque no cinema, a impressão que a gente tenho é que todos os heróis e vilões são iguais.

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