Caetano: David Bowie foi um dos artistas mais importantes do pop

Embora admita "ter perdido o bonde de Bowie", o músico Caetano Veloso reconheceu tardiamente o valor estético de David Bowie, que faleceu nesta semana; "Tudo somado - e a História dando perspectivas diferentes das anunciadas pelos utopistas da minha juventude - , David Bowie foi um dos artistas mas importantes do pop, desde que o rock é rock", afirma

Embora admita "ter perdido o bonde de Bowie", o músico Caetano Veloso reconheceu tardiamente o valor estético de David Bowie, que faleceu nesta semana; "Tudo somado - e a História dando perspectivas diferentes das anunciadas pelos utopistas da minha juventude - , David Bowie foi um dos artistas mas importantes do pop, desde que o rock é rock", afirma
Embora admita "ter perdido o bonde de Bowie", o músico Caetano Veloso reconheceu tardiamente o valor estético de David Bowie, que faleceu nesta semana; "Tudo somado - e a História dando perspectivas diferentes das anunciadas pelos utopistas da minha juventude - , David Bowie foi um dos artistas mas importantes do pop, desde que o rock é rock", afirma (Foto: Leonardo Attuch)


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Por Caetano Veloso, em seu Facebook

"Soube da morte de David Bowie com atraso. Estava entre Austin, Houston e o Rio, sem me comunicar com ninguém. Tardei a admitir que certos emails que abri logo ao chegar estivessem dando conta disso.

Bowie era 4 anos mais novo do que eu e, apesar de ter tido notícias de que ele sofrera ataques cardíacos, sempre tive a impressão de que ele não era uma pessoa de quem eu um dia fosse saber que morrera. Assinalo o fato porque não queria que parecesse que ostento desprezo por figura tão importante na história da atividade a que eu próprio me dedico.

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Na verdade, Bowie e eu nos encontramos, de modo breve e pouco significativo para ambos. Ralph Mace, o produtor dos meus dois discos londrinos (e que tinha colaborado com Bowie) quis aproximar-me dele: cria que eu devia colaborar com seu trabalho. Levou-me para ver um show dele na Round House e depois nos apresentou no camarim.

Eu não tinha gostado do show. Isso deve ter sido em 1970. Sendo de uma geração que se empolgara com o clima contracultural dos anos 1960, eu achava o corte de cabelo dele um prenúncio da adesão dos locutores de noticiários televisivos à rebeldia hippie. Eu gostava dos discos dos Beatles e dos shows dos Rolling Stones. Mick Jagger criava um clima de transformação do mundo em comunhão com a plateia.

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Bowie esboçava uma estilização intencional que, no entanto, era, aos meus olhos, pouco rigorosa. Vi muitas coisas que cresceram nos anos 70 dessa maneira. Por outro lado, toda a dialética do pop, que me interessava, ficava abaixo do significado que o Brasil ganhava para mim. Há a questão geracional: pessoas 10 anos mais novas do que eu se sentiram liberadas pelo estilo de Bowie. Eu me liberara com Jorge Ben, John Lennon e Mick Jagger - além das experiências próprias nossas dos tropicalistas de 1967. Bowie parecia ter surgido para me prender de novo a convenções de palco-e-plateia. Ou seja: perdi o bonde de Bowie.

Só décadas depois é que admiti a grandeza histórica do artista que ele chegou a ser. Vendo o vídeo de "Lazarus", fiquei impressionado com a força expressiva. Nunca nenhuma canção de David Bowie ficou em minha cabeça. Hermano Viana me provou que os discos alemães, com a presença de Brian Eno, eram sonoramente instigantes. E sempre vi que Bowie poderia ser grande só pelo "Walk on the Wild Side" de Lou Reed.

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"Lazarus" me soou mais forte como concepção de arranjo do que quase tudo dele. E a inserção dessa dança meio robótica, meio espiritual que ele fez e refez tantas vezes ao longo da vida (de fato, um dos mais belos ecos dos espasmos de Elvis) transforma todo o vídeo num acontecimento poético. Me lembro de uma entrevista em que ele diz ser o Harry Langdon do Rock.

Beatles e Stones poderiam ser Chaplin e Keaton, mas ele, Bowie, era a figura menor - e talvez a mais lírica. Tudo somado - e a História dando perspectivas diferentes das anunciadas pelos utopistas da minha juventude - , David Bowie foi um dos artistas mas importantes do pop, desde que o rock é rock. Enquanto eu fazia "clips do Fantástico" ele redesenhava-se como capas de revistas de moda ou de móveis modernos. Pôs a obra em Wall Street, casou-se com uma modelo preta, gravou um belo vídeo sobre a morte que aconteceu de ser lançado logo depois de ele morrer. Nesse vídeo ele nos diz que está no céu. E que tem cicatrizes invisíveis. Tem algo das obras de arte arrebatadoras e inesquecíveis."
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