Bruce Gomlevsky e o seu Cyrano de Bergerac

"Sou um bobo no amor, um romntico!", diz o ator Bruce Gomlevsky sobre a pea de Edmond Rostand



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Lúcio Flávio_especial para Brasília 247 - Montar a clássica peça "Cyrano de Bergerac", de Edmond Rostand, escrita em 1897, em cartaz até o dia 21 de agosto, no CCBB de Brasília, era um sonho de adolescente de Bruce Gomlevsky. Remonta os tempos em que fazia teatro amador com a idade de 16 para 17 anos. Bem antes, diga-se de passagem, de pensar em encarnar o roqueiro Renato Russo nos palcos na peça que levou mais de 200 mil pessoas ao teatro.

"A primeira vez que entrei em contato com essa obra do Rostand foi através do filme protagonizado pelo Gérard Depardieu", revela o ator ao Brasília 247, referindo-se à produção cinematográfica de 1990 dirigida por Jean-Paul Rappeneau. "É engraçado porque coincide com a época que começo a fazer teatro. Apaixonei-me pelo personagem, pelo romantismo dele, pela coragem, pela bravura, pela honra, pela ética, é um daqueles papeis que ficam armazenados em seu HD".

Superprodução que conta com um elenco de 14 atores, entre eles a irmã Yasmin Gomlevsky, "Cyrano de Bergerac" versa sobre temas em desuso na esquizofrenia e correria dos dias atuais como a amizade sincera, o amor idealizado, utopia e ética e, sobretudo, o romantismo. "Sou bobo no amor, um romântico, me identifico com esse tipo de poeta que foi o Renato Russo ou o Cyrano de Bergerac", baliza o ator para deferir. "Nem sei se tem mais espaço para o romantismo hoje em dia, até fico me perguntando onde é que estaria o Renato Russo hoje, o Cazuza, será que existiria espaço para os netos de Rimbaud?", provoca, citando o mítico poeta francês do século 19, autor da clássica obra "Uma estadia no inferno".

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Para trocar as guitarras pelo florete, no entanto, foram necessários três anos de duelo na difícil missão de captação de recursos. Empreitada finalmente conquistada com o apoio do CCBB do Rio de Janeiro e Brasília, além do Ministério da Cultura. Ousado, Bruce Gomlevsky não se intimidou pela grandiosidade do personagem, espécie de símbolo do amor platônico e idealizado, do romantismo sincero. O paralelo com Renato Russo é inevitável. Não apenas no espectro romântico, mas também na preocupação conceitual do projeto, com clara tentativa de unir num mesmo torvelinho criativo, arte popular e teatro de qualidade.

"Por que, não Cyrano? É um clássico, não tem nada a ver, esteticamente, com a peça sobre o Renato Russo e eu gosto de me superar, de enfrentar desafios, de me renovar, de me reinventar", conta, explicando as motivações que a fizeram encarar o projeto. "Assim como Cyrano de Bergerac, o Renato é um poeta romântico. Eu quero tocar fundo o coração das pessoas. Com "Renato Russo – A peça" eu consegui fazer isso e Cyrano de Bergerac é uma tentativa de fazer teatro de qualidade, de arte, mas que seja popular ao mesmo tempo", compara.

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A trama, ambientada no século 16, nos tempos de Shakespeare, narra a história de um espadachim fanfarrão, meio bonachão, mas dono de caráter singular que ama perdidamente a prima Roxane (Julia Carrera). Por conta de um nariz avantajado, se sente intimidado para se declarar ao amor de sua vida. Homem honrado e ético, prefere ajudar o medíocre cadete Cristian (Sergio Guizé) a conquistar o amor que tanto almeja, recorrendo ao seu talento com as palavras. Surge aqui o mito da Pedra de Bolonha, descrito com lirismo comovente por Goëthe, em "Os sofrimentos do jovem Werther", obra escrita mais de um século antes da trama de capa e espada narrada por Edmond Rostand.

"A peça fala de um homem que é apaixonado por uma mulher e que perdi uma vida por causa desse amor não correspondido", detalha Bruce. "A peça não é maniqueísta, não existe vilão ou mocinho, fala de personagens que cometem desatinos de amor e habitam um mundo de ética e de honra", explica.

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Para compor o personagem, Bruce Gomlevsky foi buscar subsídios não só na obra original, mas também nas adaptações para o cinema. Além da famosa versão com Gérard Depardieu, também recorreu à clássica trama de 1950, protagonizada pelo ícone latino-americano José Ferrer. Mas é categórico ao defender o trabalho de tradução de Marcos Daud, responsável pela versão em português do texto. "Assistimos a todos os filmes, inclusive uma montagem do Kevin Kline, para a Broadway, realizada ano retrasado", detalha. "Mas a nossa tradução não partiu de nenhuma modelo cinematográfico, o Daud conhece muito bem o original, conhece inclusive várias traduções para o inglês, entre elas uma do Anthony Burguess (autor de "Laranja mecânica"). Nós tentamos fazer o nosso Cyrano, quis fazer o Cyrano do Bruce", esclarece.

E o nariz afinal, incomoda? "Estou acostumado, no início dava um medinho dele cair, mas a cola é boa, nem precisasse da prótese, poderia usar o natural mesmo", brinca, tirando sarro do seu "botão de rosa", citando uma passagem do texto de Rostand.

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Não deixe de se entusiasmar com os momentos mais excitantes dessa montagem, simbolizados não apenas pelo romantismo sincero dos personagens, mas também pelos viscerais e realistas duelos de floretes, resultado de árduos e diários exercícios de esgrimas. "Foram três meses de preparação de aula de esgrima com o Gaspar Filho (também no elenco como o Conde de Guiche), um dos maiores espadachim do Rio de Janeiro", conta. "Cyrano é um espetáculo que me exige muito, tem muito texto, muita luta, tenho que dosar minha energia durante o dia", revela Bruce, encantado com o carinho do público brasiliense.

"Por conta dessa montagem, sou meio atlético nesse sentido", revela Bruce, encantado com o carinho do público brasiliense. "É um prazer muito grande estar aqui, ainda mais nesse teatro onde estreou nacionalmente a peça sobre o Renato Russo". O público de Brasília sempre me recebeu bem e é muito receptivo, sou apaixonado pela cidade", elogia o ator carioca.

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