As mãos sujas de Paulo Betti
Fazer política sujando as mãos, vá lá. Mas teatro também?
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Patrícia Lobo
“Política não existe sem mãos sujas. Não dá pra fazer sem colocar a mão na merda.”
Quem foi o filósofo que cunhou essa frase?
Maquiavel? Rousseau? Nietzsche? FHC? Lula?
Não, quem disse isso foi o ator Paulo Betti, em plena crise do Mensalão.
De todos os artistas brasileiros, era quem tinha mais gana em defender o então presidente Lula e o PT naquela época. Uma determinação quase suspeita.
E era. Agora sabemos pela revista Época que Paulo Betti não colocou a mão na merda, mas sim num portentoso cofre. O publicitário Marcos Valério, aquele das agências DNA e da SMPB, molhou as mãos do ator em R$ 255 mil e o ator disse que o dinheiro foi destinado ao patrocínio do grupo Casa da Gávea.
Diante disso, eu me pergunto:
- Pô, Paulo, para fazer teatro também precisa colocar as mãos na merda? Será que a gente tem que engolir isso?
Ah Paulo Betti, se for assim, eu também quero me banhar nesse pântano. Também quero mamar.
No Brasil, existem inúmeros grupos de teatro que realizam trabalhos primorosos. Muitos deles precisam de recursos, públicos ou privados, para tentar produzir algo digno, pois o mercado, aqui, ainda não valoriza como deveria as produções teatrais. Mas a aplicação nem sempre é feita de forma eficiente.
Uma lei de fomento que foi colocada em vigor no governo Marta Suplicy, em São Paulo, beneficiava alguns grupos durante um ano no montante de R$ 200 mil, desde que um determinado número de peças fosse produzido, entre outras exigências. Essa verba era para produção, realização, salário dos atores, manutenção, dramaturgia, direção, figurino, arte, enfim, envolvia muita gente.
Existem grupos na região central de São Paulo que ainda têm conchavos com o poder público. Basta abrirmos bem os olhos. No governo Serra, muitos patrocínios estranhos foram feitos. Já pensou se ele ganhasse as eleições para presidência? Ah, muita gente ia mamar. “Teatros à margem”. À margem do dinheiro público é que não era.
Não adianta, parece que cada um, na esquerda, na direita ou no centro, tem o seu preço. Pode demorar, mas um dia a casa cai e ficamos sabendo.
O problema é que são sempre os mesmos mamando nesta verba. “Restaure-se a moralidade ou nos locupletemos todos”, já disse alguém no Brasil.
Outra coisa estranha no mundo artístico é a tal contrapartida social que alguns patrocinadores exigem. Se um artista pensar em montar uma peça de um escritor francês moderno logo será barrado, pois os que mamam já prepararam projetos enfatizando periferias paulistanas, favelas cariocas e sertão.
Será que a arte está confinada à tragédia social brasileira? Será que o artista não pode ser livre para falar do que bem entender? Ah, mas aí ele corre o risco de não ter acesso à merda, ou melhor, ao cofre.
Paulo Betti, se é para mamar, eu também quero!
• Patrícia Lobo é escritora e designer
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