Adote um careta

A sociedade chegou a tal ponto que hoje não fazer coisas tipo beber, fumar ou usar drogas é completamente out e excludente



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Ontem eu estava na fila do caixa de uma livraria, quando ouvi uma funcionária espirituosa travar um diálogo fictício com um cliente:

- Que bacana, um senhor distinto e elegante comprando um livro sobre como parar de fumar – disse a sorridente funcionária

- Não, minha, filha, isso é pra minha mulher. Eu não fumo – respondeu o não menos sorridente cliente

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- Ah, sim, desculpe. É que hoje em dia todo mundo fuma. – indagou a agora ativista funcionária

- Queísso, eu te entendo. É que eu sou da época em que fumar era tolerável e era normal, mas hoje em dia parece que é obrigatório.

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Em princípio achei grosseira a resposta do senhor, mas tendi a concordar em alguns segundos. A sociedade chegou a tal ponto que hoje não fazer coisas tipo beber, fumar ou usar drogas é completamente out e excludente. E, como se isso não bastasse, as pessoas olham diferente pra um sujeito assim. Afinal, um sujeito que não bebe, não fuma e não usa nenhum tipo de drogas deve ter algum problema! E se você for, como eu, adepto de formas mais “ortodoxas” de sexo então, você definitivamente tem algum problema.

- Vai um tapinha? – me pergunta bob, nome fictício, claro.

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- Não, não, valeu.

- Ah tá, parou, né?!

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- Não, eu não fumo.

- Pais opressores? É, os meus também eram assim…

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- Não, eu não fumo. Nunca fumei.

- Porra, você deve beber pra cacete então!??!

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- Não, eu também não bebo… – respondo, já envergonhado de minha abstinência…

- Qual o seu problema?

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- Eu, problema? Acho que nenhum, por que?

- Nada, nada… É que… será que você podia dar licença? Não é preconceito não, longe de mim, mas é que.. Ah!!Você me entende, né?! A gente não vai ficar muito a vontade com alguém assim por perto…

E por aí vai. Você passa a ser um alienígena. E com relação a sexo a coisa piora. “Como? Você não iria pra cama com sua prima, o namorado dela e quatro anões vestidos de Praga do Xou da Xuxa??”. Acreditem, tem quem não curta. Sexo pra mim são duas pessoas, e no meu caso, uma outra pessoa feminina. No máximo duas femininas, mas essa fantasia já vem no pacote homo sapiens sexo masculino. E só. Nunca tive pensamentos sodomitas com homens, crianças, animais, eletrodomésticos, hortifrutigranjeiros ou marinheiros suecos. Nem uma vez sequer. Não vejo nenhum problema nisso, que fique claro. Nem em quem gosta, claro, cada um com seu cada um, já diz o samba popular. Mas, como se dizia na época que 69 era só uma posição, e não o número de pessoas envolvidas na transa: comigo não, violão! Daqui a pouco vão criar um grupo de ajuda, algo como Caretas anônimos.

- Bom, vamos começar a reunião de hoje. Primeiro, pra desinibir, digam seus nomes e contem o que os trouxe aqui ao C.A.

- Ééé, meu nome é Roberto, só bebo nos fins de semana, só fumei maconha três vezes e nunca fui a uma suruba… Mas eu quero largar essa vida careta! – diz, cabisbaixo, o primeiro ao lado da conciliadora.

- Pode deixar, vamos ajudá-lo Próximo.

- Eu sou o André. Parei de cheirar faz um ano, e não posso fumar por que só tenho vinte e cinco por cento da capacidade pulmonar… Mas eu quero voltar! Essa caretice ta acabando comigo! Minha família ta ameaçando me deixar…

- Calma, vai dar tudo certo. E você, de cabeça baixa? – Fala ela, apontando pra mim.

- Bem, eu, er, eu sou o Leonardo. Não bebo, não fumo, não uso drogas, não sou bicha e nunca tive uma ereção pensando na minha namorada na cama com a Simone, o Michael Jackson e o vampeta vestido de tirolesa…

- Como?? NUNCA fumou? Nem uma surubinha sequer, de leve???

- Bem... Não. Nunca.

- Escuta aqui, rapazinho, isso aqui é um trabalho sério! Tentamos ajudar pessoas caretas, mas ninguém aqui faz milagre… Pelo amor de Deus, é cada maluco que me aparece.

Já me aconselharam até a procurar ajuda profissional pra me “libertar dos meus preconceitos”. Pensei em fundar uma ONG! Vamos fazer bandeira e camisas com escritos como “maconha: prefiro orégano!”, “ressaca: nunca vi nem comi, eu só ouço falar!”, Suruba é o caralho!” e “tira essa mão da minha bunda!” Agora é só esperar, pois quando restarem muitos poucos de nós, alguém pede uma verba ao Governo pra nos proteger e cria uma reserva só pra gente. Sem fumódromo, claro. É questão de tempo. Questão de tempo.

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