“A tragédia convida a perceber o inimigo como um ser humano”, diz professora

Em entrevista à TV 247, a professora de língua e literatura Grega da USP Adriane da Silva Duarte leva-nos a um entendimento profundo do significado da fortuna dramática grega

Adriane da Silva, professora de Letras da USP
Adriane da Silva, professora de Letras da USP (Foto: Reprodução)


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Por Victor Castanho, 247 - Em entrevista à TV 247, Adriane da Silva Duarte, professora de língua e literatura Grega da Universidade de São Paulo, leva-nos a um entendimento profundo do significado da fortuna dramática grega, evitando lugares-comuns e explorando ideias belíssimas. “O impulso dramático é algo que a gente pode considerar inato ao ser humano”, diz a professora ao falar sobre a origem do drama na Grécia antiga, e acrescenta “que o que a gente vê na Grécia é diferente, na medida em que esse impulso dramático assumiu conotações literárias”. 

Na Grécia antiga, durante a virada do século VI a.C. para o V a.C., o impulso dramático, como diz Adriane, toma a conotação literária, ou seja, é organizado, permitindo com que a atividade teatral se tornasse sistemática – com um público e veículo de transmissão definidos nos grandes festivais dramáticos. Segundo a professora, o século V a.C. foi o período áureo da produção teatral e embora o drama tenha sido continuado em outros séculos, “a verdade é que nunca mais vai ter a mesma relevância que teve durante o século V a.C. na cidade de Atenas”.

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Falando sobre a visão de Aristóteles sobre a arte dramática, Adriane nos revela o papel importante que o filósofo atribui a esse gênero literário na formação da alteridade. Discorrendo sobre o conceito de catarse, Adriane diz que Aristóteles cria que a arte exercia um papel essencial no público pois através dela “o espectador se sujeita [às emoções] de forma controlada, mediada pela arte, e quando ele vier a sofrer [com uma situação semelhante à mimetizada pela arte] na vida real [...] ele já vai ter instrumentos para lidar com essa emoção”. A catarse é um processo de expurgação das emoções, como diz Adriane, no sentido de “estar promovendo um contato controlado, mediado pela arte, com as emoções''. O resultado positivo é que “isso resulta no equilíbrio do cidadão, e portanto torna mais fácil conviver em grupo”.

A isso também se adiciona o papel didático da arte. Comentando sobre a peça “Os persas”, de Ésquilo, Adriane nos revela que “a tragédia convida a perceber o inimigo – o bárbaro – como um ser humano sujeito às mesmas circunstâncias que nós”. “Quem é o personagem que sofre na história?”, pergunta a professora, respondendo em seguida: “é o persa, é o bárbaro, é o inimigo!” – e quando a plateia assiste essa peça, Adriane diz “você é convidado a experimentar compaixão pelo inimigo derrotado, e que sofre, porque é dele que se trata, e medo de estar no lugar dele”. Dessa forma a fortuna dramática grega nos demonstra um exercício de empatia. Vemos que todos somos humanos e fadados a sofrer e, assim, devemos nos compadecer uns dos outros.

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