A onda cult da música brasileira
Temos uma infinidade de novos, talentosos e belíssimos artistas, que fogem de rótulos e desconstroem os conceitos atrasados da MPB
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De repente um amigo me entregou um disco para escutar. Pus o som com carinho e ouvi atentamente todas as faixas, porém, nada do que estava ali me provocava qualquer emoção. Diante da formação musical que tive, na qual escutávamos um disco ou uma música para nos emocionar, tornou-se impossível continuar aquela audição.
A reação do companheiro que me emprestou o CD? ‘Escute um pouco mais, acho que você ainda não compreendeu o trabalho dele!’ Peraí: ‘compreendeu’?
Sou de um tempo onde escutávamos um disco sem convencimento ou explicação. Mas vemos atualmente na cena musical brasileira uma gama de artistas que conquistam adeptos fiéis, intelectuais de orelhas de livro, que tentam a todo custo nos convencer de que determinado artista é maravilhoso. Muitas vezes, pelo simples fato de pousar de esquisito, diferente ou de produzir arranjos horríveis e timbres deploráveis, como se fossem a grande novidade.
Não consigo assimilar uma música em que a pose vem antes da própria música.
Temos uma infinidade de novos, talentosos e belíssimos artistas, que fogem de rótulos e desconstroem os conceitos atrasados da MPB. Ousados e desprendidos, nomes como Tiê, Vanguart, O Teatro Mágico e outros figuram de forma consistente, conquistando público pelo talento e não pelo convencimento. Porém, estes citados notadamente têm como prioridade a qualidade no trabalho que fazem, e sabem, sem pieguices, construir uma estética que vai da sonoridade à roupa que vestem.
Na onda cult muitos meios de comunicação ditos também cults, propagam essas produções ‘de convencimento’ para seus soldados ‘ripongas’, que empunharão a bandeira da excentricidade barata e tentarão a todo custo conquistar público para seus artistas.
Mas, atenção! Caso esses artistas consigam um número significante de adeptos, os cults logo os abandonarão, pois não é cult escutar um artista popular; como um bar ruim, eleito por meia dúzia de pessoas como um excelente local de discussão sobre os problemas do país. Mas se o dono do bar reformar o local? Rapidamente buscarão outro ‘pé sujo’ para reafirmar a sua supremacia intelectual.
Khalil Gibran é cantor, compositor e produtor cultural.
www.twitter.com/khalilgoch
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