A metralhadora giratória de Frei Betto

Em entrevista ao Bahia 247, autor premiado fala de Lula, de Dilma e diz que os jovens precisam de mais utopia

A metralhadora giratória de Frei Betto
A metralhadora giratória de Frei Betto (Foto: Divulgação)


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Escritor com mais de 52 livros publicados e um prêmio Jabuti na estante, religioso dominicano, militante de movimentos sociais e mais uma série de coisas: este é Carlos Alberto Libânio Christo, que assim pelo nome você não vai saber quem é... Trata-se de Frei Betto, ex-coordenador do programa Fome Zero no governo Lula, que esteve em Salvador nesta semana para participar de um evento. Tal qual um pop star, ele mal conseguia se mexer entre os milhares de leitores que o abordavam – entre um abraço, um autógrafo e um afago, Betto conversou rapidamente com o Bahia 247. Confira abaixo.

Bahia 247 – Qual a grande diferença entre Lula e Dilma?

Frei Betto – A grande diferença é que ele é homem e ela é mulher. Agora, os dois são afinados na política brasileira e na linha de governo, isso é muito bom. Os governos Lula e Dilma foram os melhores da nossa história republicana. Desde o primeiro mandato do Lula, houve a priorização do social: no Brasil sempre se deu muito dinheiro para as empresas, o que era considerado investimento, enquanto a verba para os pobres eram gastos. Este tipo de política mudou, o que é muito bom. Dou todo apoio à maneira como a presidente Dilma vem levando seu governo – priorizando o social e punindo os corruptos.

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Bahia 247 – O senhor pode ser considerado como o pai do programa Fome Zero. Está satisfeito com ele?

FB – Saí do governo justamente por discordar de algumas coisas que não vem ao caso dizer, mas o Fome Zero foi desvirtuado, ele tinha um caráter emancipatório e foi substituído pelo Bolsa Família, que tem um caráter compensatório. O Bolsa Família é bom, melhor que ele exista, pior seria se não existisse. Eu, como bom mineiro que sou, desconfio que esse novo programa do governo Dilma; o Brasil sem Miséria, talvez seja o resgate do Fome Zero. O fato é que eu não acredito, aliás, não existe erradicação da miséria sem uma reforma agrária decente.

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Bahia 247 – Como seria a reforma agrária ideal pro senhor?

FB – Eu não sou técnico, mas a reforma agrária ideal seria aquela que acabasse com a miséria no campo e beneficiasse sobretudo o pequeno agricultor.

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'Não existe erradicação da miséria sem uma reforma agrária decente'

Bahia 247 – O que o senhor pensa deste Código Florestal vigente no Brasil?

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FB – Acho que esse código deve ser jogado no lixo! Ele só favorece os grandes latifundiários e o agronegócio, e nós precisamos de um Código Florestal que proteja a mata brasileira, que proteja o nosso meio ambiente.

Bahia 247 – Qual o papel da juventude na política brasileira?

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FB – Acho que a juventude de hoje em dia precisa mais de utopia, os jovens estão carentes de utopia, antigamente nós tínhamos muita. Acho que a União Nacional dos Estudantes (UNE) representa mais o governo junto aos estudantes, do que os estudantes junto ao governo. É preciso revitalizar o movimento estudantil no Brasil. Atualmente, vejo os jovens sem valores ideológicos, muito ligados a bens de consumo, presos dentro de shoppins centers...

Bahia 247 – O que o senhor pensa da abertura gradativa de Cuba ao capitalismo?

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FB – Acho que os Estados Unidos têm colocado mais e mais pesquisadores dentro da ilha, e o que mais os decepciona é que a cada nova pesquisa eles constatam que o povo de Cuba apoia o regime socialista. Eu prefiro o socialismo ao capitalismo, porque em Cuba as pessoas não morrem de fome. Inclusive, digo ao Fernando Morais (escritor e jornalista) que nós somos irmãos em Castro e em Cristo. As pessoas não podem deixar de ler este último livro dele (Fernando Morais), "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", que tem a ver com o tema. Vou morrer socialista e cristão, disso faço questão!

Bahia 247 – É papel da Igreja combater a corrupção?

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FB – Não, é papel da igreja denunciar que há corrupção. O papel do governo, da polícia e do sistema jurídico é combater a corrupção. As pessoas fazem confusão em duas coisas sobre mim, mas eu sempre faço questão de explicar: nunca fui padre nem filiado a partido politico nenhum. Sou apenas um religioso que luta por causas sociais. Comecei na vida religiosa aos 20 anos, admirava a ordem dominicana e fui experimentar ser religioso. Não queria me arrepender de não utilizar um dom que Deus me deu e aproveitá-lo da melhor forma.

Bahia 247 – O senhor tem acompanhado essas denúncias contra o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, qual sua opinião sobre o caso?

FB – Tenho acompanhado! Espero que isso tudo seja investigado, apurado e punido aquele que for comprovadamente corrupto. Disse e repito: não acredito em ética na política, acredito em ética da política.

Bahia 247- O que o senhor pensa da democratização dos meios de comunicação?

FB – Ainda falta muito pra democratizar a mídia no Brasil, mas vejo as novas tecnologias, as redes sociais como um novo caminho para a informação. Acho que censura é quando o maior jornal do país não me entrevista. Sou contra a censura, tem que haver o controle social do estado e não da imprensa.

'Tem que criminalizar os homofóbicos, eles tem que ser punidos'

Bahia 247 – Quem é Deus pro senhor?

FB – Amor!

Bahia 247 – O que o senhor acha da bancada evangélica no Congresso que é contra os direitos dos homossexuais?

FB – Eu acho que tem que criminalizar os homofóbicos, eles tem que ser severamente punidos.

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