A lição de Cannes
Criado para fazer frente s ingerncias fascistas durante a dcada de 1930, o festival no poderia engolir as zombarias de Lars von Trier
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Natália Rangel_247 - Pela primeira vez na história do Festival de Cannes um participante é declarado persona non grata ao evento e convidado a se retirar. Lars von Trier até ensaiou um pedido de desculpas depois de declarar em coletiva de imprensa que era nazista, tinha prazer em sê-lo e entendia Hitler, mas a direção do festival foi irredutível e anunciou oficialmente na quinta-feira 19 que ele está expulso da tradicional festa do cinema por tempo indeterminado. No ofício, a mesa diretora do festival também lamentou que Trier tenha usado Cannes como palanque para suas declarações. O cineasta já é conhecido como um enfant terrrible no meio cinematográfico – é genioso, provocativo e adora chocar seus interlocutores.
Desta vez, no entanto, ele errou na dose e pinçou ponto nevrálgico da história do próprio festival, que foi criado na década de 1930 justamente para se opôr à mostra de Veneza que vinha sofrendo sucessivas ingerências dos governos fascistas da Alemanha e da Itália. O ministro de Belas Artes da França naquele período, Jean Zay, propôs então a fundação de um festival internacional de cinema no país e em junho de 1939 aconteceu sua primeria edição. Louis Lumière, precuror desta arte, foi o primeiro presidente do júri. Depois disso a guerra impôs ao evento um longo silêncio que terminou em 1946. O comprometimento do festival com a liberdade e o humanismo volta a ser afirmado em 1968, quando as exibições foram interrompidas em solidariedade a greve dos operários e estudantes. Questão de ordem proposta por um grupo de notáveis formado por Louis Malle (demissionário do júri), François Truffaut, Claude Berri, Jean-Gabriel Albicocco, Claude Lelouch, Roman Polanski e Jean-Luc Godard. Trier escolheu tema errado para suas zombarias.
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