A Justa

Precisamos punir os injustos. Mas quem são nossos investigadores? Quem são os nossos acusadores? Quem são os nossos juízes? Qual o nosso juízo?



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O Mullá Nasruddin, personagem folclórico de tradições orientais, passava pela rua quando viu dois meninos brigando por bolinhas de gude. Parou e perguntou qual o motivo da discussão. Os meninos responderam discordar sobre quantas bolinhas cada um deveria possuir. Nasruddin então perguntou: “vocês querem uma divisão pela justiça de Deus ou pela justiça dos homens?” Prontamente os meninos escolheram o modelo do Criador. “Pois bem”, disse o Mullá, “três para um e cinco para o outro”.

Decisões tomadas pelos tribunais superiores nos últimos tempos tornam legítimo retomar um questionamento antigo: foi feita a justiça? Em um país no qual a mesma está dividida entre descaso aos menos favorecidos, guerra entre advogados e interesses políticos dos abastados, qual jurisprudência tem o justo? O que se sabe de tal qualidade quando tudo está resumido à divulgação de trechos que nem sempre representam o cerne de um processo? E mais: só porque um réu foi absolvido sua inocência está provada?

Consciências se misturam com notícias que, muitas vezes, estão submetidas a interesses financeiros, recalques e mágoas pessoais. Não pode haver justiça sem verdade. Quem somos nós para julgar? Os que estão dentro das togas são capazes? As atuais leis refletem o anseio de justiça da sociedade? Se não, as mesmas devem ser burladas para que alguns atuem como egóicos justiceiros?

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Acusados e acusadores foram transformados em atores de um espetáculo midiático que tem mais a ver com o entretenimento do que com o relato de uma suposta realidade. Servem a demandas ocultas a que, talvez, nunca tenhamos acesso. E os que têm tal ingresso o que podem fazer mediante a força de um Estado invasivo, corrupto, máquina de intrincada engrenagem? O monstro se impõe. Cheio de grampos, escutas, câmeras e endoscopias no vazio do estômago de uma sociedade dividida entre o fascínio pela desgraça alheia e o temor pela invasão da própria privacidade.

A pressa em julgar, a precipitação em apontar dedos e a manipulação diabólica se estabelecem na mesma profundidade de certezas etílicas trocadas em mesa de bar. O réu é conhecido a partir da difamação prévia e não como alguém suspeito, que vive sob as regras do Estado de Direito, e deve ser acusado e julgado conforme as leis, não de acordo com a gritaria das praças. Caso contrário, na busca por bodes expiatórios, intimidades são invadidas, reputações acabam destruídas e a fumaça não revela o fogo da verdade.

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Como confiar naquela que deveria nos trazer a paz de estarmos alinhados à ética, quando os agentes da lei ficam subordinados a desvios de função e de caráter? Para estranho lado pende o prato. Ao fim, o Judiciário é a ponta visível de uma árvore com raízes profundas – livra o crime cometido pelo mesmo Estado a quem ele mesmo representa. E assim seguimos livres do peso da Justiça, mesmo clamando por ela.

A Probidade está no íntimo de cada um, em segredo que nos revelaria. Cada alma sabe o que fez e o que deixou de cumprir. Ir até os confins de si, como detetive honesto e honrado, seria ideal de integridade. Não é essa a investigação que temos feito. A devassa é sempre na moral alheia e assim, em tudo, esquecemo-nos do nosso próprio caso, relegado a protelações e outras instâncias. É certo que ninguém deve testemunhar em favor de si mesmo. A quem podemos, então, recorrer?

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Precisamos punir os injustos. Mas quem são nossos investigadores? Quem são os nossos acusadores? Quem são os nossos juízes? Qual o nosso juízo?

Cada decisão é um imenso abismo. O homem nunca terá acesso à sabedoria da Justiça divina, e a nós não é cabível uma divisão "cinco para um, três para o outro". A nós é devido apenas zelar para com que as leis dos homens sejam cumpridas, ou mudadas, de acordo com uma sociedade que quer e precisa ser mais justa.

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