A invasão agrobrega!

O que me proponho a tratar aqui é sobre uma indústria cruel e a maneira como ela interfere no comportamento de músicos e público



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Inicio este texto pedindo licença ao meu amigo Lobão para utilizar a expressão que intitula o artigo, cuja genialidade da criação pertence a ele.

Amigos leitores, antes de tudo gostaria de esclarecer que a minha abordagem não é exatamente uma crítica ou uma desfeita a qualquer artista como pessoa. O que me proponho a tratar aqui é sobre uma indústria cruel e a maneira como ela interfere no comportamento de músicos e público.

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Cito narrativa do que me ocorreu na semana passada, quando da visita a uma cidade do interior do Ceará. Estava eu chegando à cidade quando deparei com um imenso outdoor cuja fotografia apresentava um novo cantor do tão falado sertanejo universitário. Até aí tudo normal, porém, a imagem me causou uma grande surpresa: o artista da fotografia era um velho conhecido que, até então, era um cantor e compositor que atuava com a chamada MPB nordestina. Para esclarecer melhor, seu trabalho seguia uma linha parecida com a do Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Vital Farias e outros desse nível. Na fotografia, o meu amigo aparecia com o cabelo espalhado com gel, camisa xadrez, acompanhado de mais dois artistas com enormes chapéus na cabeça. Aquela visão me fez pensar o quanto a exposição midiática pode interferir no cotidiano da nossa cena criativa.

Fortaleza é uma cidade que até então não tinha a menor afinidade com a música sertaneja, porém, agora está repleta de duplas de jovens que sonham em ter a mesma conta bancária do Luan Santana. Parece-me que o Luan Santana realmente acredita e gosta do que faz, não estou aqui para julgar este ou aquele, mas sim a inserção forçada de uma linguagem que nada tem de sertaneja e muito menos de universitária. Eu, como um filho do sertão nordestino, posso afirmar isso categoricamente.

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Esse comportamento, infelizmente, não tem sido privilégio do Ceará. Em todo o país as lojas de chapéus e roupas xadrez têm lucrado cada vez mais. Um reflexo da expansão do ‘mais do mesmo’: garotos com as mesmas roupas, cantando a mesma música, a mesma melodia, os mesmos arranjos, o mesmo gel no cabelo, o mesmo comportamento no palco e a mesma falta de originalidade.

Tenho um imenso respeito pelas duplas sertanejas e também respeito os artistas que acabam embarcando nessa onda ‘universitária’. Muitas vezes o sonho do reconhecimento e da melhoria de vida leva artistas a enveredarem por caminhos diversos. É difícil manter uma linha de trabalho num país onde os investimentos em cultura são cada vez mais cerceados pela política e por grandes esquemas. O grande problema é que fica mais difícil a vida de quem luta por imprimir uma marca, um estilo. As produções estão mais caras, as bilheterias estão falindo e os artistas sentem-se desamparados por políticas públicas que incentivem de forma mais consistente a produção artística nacional e, principalmente, o consumo diversificado dos produtos culturais brasileiros.

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Khalil Gibran é cantor, compositor e produtor cultural.

www.khalilgibran.com.br

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