A Estética é a Mensagem

A decadência que nós assistimos marca um renascimento, e não a morte da cultura humana. Um renascimento instantâneo vivenciado ao mesmo tempo por bilhões de pessoas



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Estamos assistindo nestes anos, a uma transformação sutil mas profunda, e vemos uma nova era em que a estética visual e sonora entra nas nossas vidas, para causar um salto quântico da percepção do ser humano.

No passado, um evento acontecia e não se repetia. Era observado por poucas pessoas e à distância. Cada uma das testemunhas tinha uma observação particular e diferente. Em que acreditar, era um ato de fé. Eventos de movimentos rápidos não eram observáveis e, para detalhes super pequenos, o olho humano nunca foi preparado.

Agora podemos testemunhar o ataque do jogador em slow motion; foi uma falta ou não? Repetimos a cena dez vêzes até termos certeza. Mais uma vez na segunda à noite, vemos um pé gigante na tela, lentamente entrar nas pernas da vítima, e a curva da queda ao chão, Noticiamos uma estética que até hoje os humanos nunca conhecerem: a euritmia do jogador rolando na grama, desesperado e com dor . Assistimos o drama da prorrogação, olhando as gotas de suor e as lágrimas do perdedor, vinte vêzes maior do que na vida real. bigger than life, maior que a vida, em todos os sentidos. Atos de agressão transformam-se em apresentação de beleza na telona.

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Ouvimos novos mundos inteiros, paisagens do microcosmo e dos planetas distantes. Estudamos o movimento das asas do beija-flor em slow motion, aprendemos pela primeira vez na história da humanidade como o cão, nosso melhor amigo, bebe água. A dança complexa da sua língua que dura menos de um meio segundo, acaba de encher um programa de meia hora na National Geographics e vamos ver essas realidades até hoje escondidas, ainda muito mais vêzes com os nossos filhos e netos.

Ilusão ou verdade? Esta imagem contém apenas valores de uma verdade matemática. Nem um pixel é falso ou foi adulterado. Mas na natureza esta manifestação não é observável, mas faz parte de uma coleção de possibilidades infinitas de números irracionais, chamados de cardinais transfinitos. O que define o conteúdo de verdade nesta imagem, além da sua estética, que seria a sua mensagem?

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Assim vai chegando uma nova perspectiva do nosso Universo, e, com ela, uma nova visão de nós mesmos, uma visão ampliada mil vêzes, superando os limites da nossa percepção do tempo e do espaço. Falta o odor do hálito, falta sentir a dor do cara ferrado, mas tudo bem assim, porque a bala passou na cabeça do sujeito na tela, e não na sua.

Tudo isso em alta definição e com cores vibrantes. De novo, bigger than life! Vemos as espinhas nas caras das pessoas na telona e a barba mal feita, a gota de ketchup na roupa, e as caspas na gola do paletó. Vemos detalhes que, na vida real, nos escapam. Mudamos para Sherlock Holmes em vez de um Dr.Watson.

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Esta perspetiva microscópica da platéia, precisa de um novo modo de gravar e editar as imagens e os sons dos espetáculos. A cena mesma ganhou uma importância quase acima daquela dos atores, tornando os diálogos mais imbecis nas novelas, em festas estéticas de visões de paisagens ou de indoors. Com isso a mensagem não é mais a semântica das palavras faladas, ou os gestos dramáticos e significantes dos protagonistas, mas, a estética do surround e do background. O suspiro da atriz se perde no crescendo da trilha sonora e a máscara do vilão, no brilho da pintura e do cromo do carro importado atrás dele. Em suma, o paradigma de "A mídia é a mensagem" se estendeu e se extrapolou para chegar a um novo patamar:

A estética é a mensagem.

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Uma grande parte do conteúdo semântico neste novo paradigma segue ainda as regras estabelecidas por Adorno e tão lamentado por Foucault: o 'Inhalt', o sentido intrínseco das mensagens, está em queda livre, em ambos, na qualidade e no nível humanístico. Cadê o Gehalt, o conjunto do conteúdo e da forma?

A deterioração dos valores está chegando em baixo do medíocre e da crítica, com a vaidade vazia de um Justin Bieber, e o mal gosto de um Rafinha Bastos. O complexo Bieber-Bastos parece reivindicar os ícones da crítica social moderna, mais ainda do que o voyeurismo e a banalidade do Big Brother. Mas estes extremos acabam por ironizar as suas próprias existências e assim, verificamos de fato, uma bifurcação em novos sentidos de percepções e transcendência do passado, através de farsas ridículas e absurdas.

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Assim transforma-se a Lei

“A qualidade do conteúdo é inversamente proporcional à qualidade da mídia”

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em

“A novidade e a particularidade da informação é proporcional aos novos meios tecnológicos da mídia”.

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A decadência que nós assistimos marca um renascimento, e não a morte da cultura humana. Um renascimento instantâneo vivenciado ao mesmo tempo por bilhões de pessoas, nas cidades e nas aldeias do mundo inteiro. A recepção do sinal dos satélites lá em cima no céu, é independente do racismo e do elitismo em baixo, na terra.

Com a transformaçao estrutural das mídias de alta tecnologia, chega uma transformação dos criadores de conteúdo e de forma: o boêmio que sonha sozinho com a chegada da fama, foi substituído pelos nerds e hackers que, na maior parte. preferem permanecer anônimos. O roadshow do Stradivarius foi visto só por alguns do seu tempo, e o Mozart fez o seu tour nas elites da Europa, mas as melodias eletrônicas dos toques dos celulares são ouvidas no mundo inteiro.

Pela primeira vez na história humana, os cientistas e os tecno-freaks se unem num movimento global para criar novas formas de estética. Vemos uma estética prática e não elitista, que entra e pervade todos os aspectos da experiência humana no nosso tempo. Assistimos as vidas das bactérias e rimos dos atos impossíveis nos cartoons. Quase não precisamos mais de atores humanos, bastando escolher um avatar, e então se vai em frente com o controle remoto.

O pincel do artista que se encantava com as curvas do corpo feminino e com o carmim dos lábios sensuais, agora está aposentado. No lugar dele, achamos os algorítmos para os B-splines e para os gradientes gerados para a simulação matemática de sombras. As cores usadas pelo gênio artístico, misturadas numa paleta de tintas, não mais aproximam a visão do pôr-do-sol. Essa visão tem agora um número como #00024700 ou rgb(247,24,7) e é extraída de uma paleta virtual de 64 milhões de cores. A perspectiva da arquitetura não depende mais do olho do artista, mas simplesmente de uma extensão algébrica de uma fórmula que muda 2D em 3D. A sectio aurea não sai mais da mente estética de uma pessoa talentosa, mas é agora hard-coded. As formas abstratas não chegam mais com o abuso de absinto, mas com um plug-in no photoshop e as imagens ainda mais fantásticas não foram produzidas nas mirações psicodélicas, mas são resultado de algorítmos pela computação de números irracionais. Esquece o pi e o phi, agora usamos o z dos números transfinitos.

Enfim, as animações e os desenhos se misturam no computador com os dados de gravação de vídeo, de cenas da vida real. Desse modo, a ilusão de uma realidade artificial que nunca antes se vira, e nunca poderia existir nem como hipótese, chegou à perfeição. Ao mesmo tempo o quantum leap no testemunhar a estética na natureza, e nas fantasias mentais dos seres humanos do nosso tempo, nos leva a uma nova consciência na nossa humanidade. Com efeito, a polaridade ilusão-verdade, o Trug und Wahrheit de Adorno, acha sua transcendência. O resultado é estética, e a estética passa a ser a mensagem.

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