Nise Yamaguchi integra grupo de médicos pró-cloroquina que recebeu verba do governo Bolsonaro

Passagens foram compradas para que os médicos participassem do Dia Nacional da Conscientização para o Cuidado Precoce, que estaria agendado para 2 de outubro de 2020. Evento foi cancelado após repercussão negativa nos veículos de imprensa

Nise Hitomi Yamaguchi
Nise Hitomi Yamaguchi (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)


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Paulo Motoryn, Brasil de Fato - O governo Bolsonaro gastou mais de R$ 11,2 mil em passagens e diárias de viagens para um grupo de médicos ir à Brasília participar de um evento de estímulo ao tratamento precoce que acabou sendo cancelado. 

Entre eles estava Nise Yamaguchi, que confirmou ter utilizado a passagem paga pelo governo para ir a Brasília durante depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (1). "Eu pagava minhas passagens. Só uma vez que o governo quem pagou", disse. 

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Além de Yamaguchi, os médicos Paulo Olzon Monteiro da Silva, Anthony Wong e Paulo Mácio Porto de Melo também usufruíram dos trechos aéreos e da ajuda de custo mesmo após o evento ao qual eles seriam convidados ter sido revogado dias antes de sua realização. 

Outras duas integrantes do grupo de profissionais da saúde, Rute Alves Pereira e Costa e Luciana de Nazaré Lima da Cruz, também tiveram as passagens emitidas pelo governo federal, mas não utilizaram. As informações foram obtidas pelo Brasil de Fato no Portal da Transparência. 

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De acordo com a justificativa oficial, as passagens foram compradas para que os médicos participassem das atividades do Dia Nacional da Conscientização para o Cuidado Precoce, que estaria agendado para 2 de outubro. O evento, no entanto, foi cancelado após repercussão negativa nos veículos de imprensa. 

Dia do cuidado precoce 

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Em 25 de outubro, o Ministério da Saúde chegou a anunciar o dia de estímulo ao cuidado precoce em seu site (o link ainda está disponível). De acordo com órgão, a data seria "mais um marco da campanha #NãoEspere, que reforça a importância das medidas de prevenção recomendadas pela pasta no enfrentamento à Covid-19". 

O objetivo, segundo a pasta, seria "garantir o direito e acesso da população ao tratamento precoce e evitar o agravamento da doença, reduzindo complicações, internações e óbitos". Todas as justificativas citam logo no início que a viagem seria "a convite da secretária Mayra Pinheiro". 

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Em depoimento prestado à CPI da Covid, a secretária  disse que o ministério nunca ordenou o uso de cloroquina e hidroxicloroquina como tratamento precoce, mas sim estabeleceu uma orientação sobre "doses seguras". Ela também ressaltou uma suposta diferença entre os termos "cuidado precoce" e "tratamento precoce". 

Quatro dias depois de divulgado, porém, o Dia Nacional da Conscientização do Cuidado Precoce foi adiado pelo Ministério da Saúde, conforme noticiado em 30 de setembro pelo jornal Correio Braziliense. 

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A decisão ocorreu, segundo o jornal, um dia depois do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter vetado a promoção de medicamentos como cloroquina e ivermectina.  

Na ocasião, a assessoria de imprensa da pasta disse, por meio de nota enviada ao jornal de Brasília, que a “ação de conscientização para o tratamento precoce da Covid-19 está sendo planejada, e não tem data de lançamento definida”. 

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Apesar do recuo, dias antes o próprio Eduardo Pazuello havia divulgado o Dia do Cuidado Precoce, durante a 7ª Reunião Ordinária da Comissão Intergestores Tripartite 2020.

“Uma rápida chamada quanto ao dia do atendimento precoce, da conduta precoce, que é o dia 3 de outubro. (...) É o esforço nacional que o SUS está fazendo para divulgar as melhores práticas, para que possamos salvar mais vidas”, disse Pazuello no discurso. 

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“Uma do paciente que tem que entender o que nós estamos falando com relação ao atendimento precoce e outra para o profissional de saúde, que tem que se sentir confortável na hora que prescreve uma medicação para poder fazer frente a uma doença tão inédita como a covid-19”, completou o general da ativa.  

Procurado pela reportagem na manhã desta segunda-feira (31), o Ministério da Saúde não respondeu aos pedidos de posicionamento. A reportagem questionou se algum dos médicos beneficiados pelas passagens e diárias reembolsou o valor ao governo federal. Procurados, os profissionais de saúde não retornaram os contatos. 

Quem é quem na tour do tratamento precoce 

Nise Yamaguchi 

A médica e entusiasta do uso da cloroquina no tratamento da covid-19 Nise Yamaguchi presta depoimento nesta terça-feira (1°) na CPI da Covid no Senado. 

Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, é uma figura chave para mostrar como funcionou o gabinete paralelo do governo Bolsonaro na gestão da pandemia, composto de negacionistas que se recusaram a seguir as diretrizes científicas no combate à Covid-19. 

Esse grupo paralelo que contou com a participação da médica também cogitou mudar a bula da cloroquina, para incluir a covid-19 entre as doenças que poderiam ser tratadas pelo remédio. 

Reportagem do site The Intercept Brasil, publicada nesta segunda-feira, com dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, mostra os registros da ida da médica à sede do Ministério da Saúde no ano passado. 

De acordo com a lista, Nise Yamaguchi esteve no prédio em pelo menos quatro datas em junho, julho e dezembro de 2020. Em duas delas, a médica passou pela recepção mais de uma vez, nos períodos da manhã e da tarde – o que indica que teve reuniões que ocuparam todo o dia. 

Antyhony Wong 

O médico pediatra Anthony Wong morreu em 15 de janeiro. Toxicologista, criticava medidas de prevenção contra o coronavírus e defendia o uso de hidroxicloroquina para o tratamento de Covid-19. 

Paulo Mácio Porto de Melo 

Paulo Mácio Porto de Melo é mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficial, graduado em medicina e especialista em neurocirurgia pela Unifesp, além de presidente do departamento de Neurocirurgia Vascular e do Departamento de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. 

Paulo Olzon Monteiro da Silva 

Clínico geral da Universidade Federal de São Paulo.

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