Ex-paciente da Prevent Senior: 'sou testemunha de política criminosa'

Depoente afirmou que operadora tentou convencer sua família a autorizar o desligamento dos aparelhos “para ter mais conforto”. Ex-médico da Prevent relatou que “‘kit covid’ era prescrição obrigatória”

Tadeu Frederico de Andrade e Walter Correa de Souza Neto;
Tadeu Frederico de Andrade e Walter Correa de Souza Neto; (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)


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Rede Brasil Atual - Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (7), o paciente da Prevent Senior Tadeu Frederico de Andrade relatou que, enquanto esteve intubado, a operadora tentou convencer sua família a autorizar o desligamento dos aparelhos. Segundo denunciou, a empresa tentou enviá-lo para “cuidados paliativos” e, para convencer os familiares, apresentou prontuário de outro paciente. Antes de iniciar a oitiva, Tadeu Andrade pediu a palavra e declarou ser uma “testemunha viva de uma política criminosa dessa corporação” e queria falar “em nome de muitas vítimas que hoje não têm mais voz”. Emocionado, afirmou que, enquanto esteve doente, seus familiares “lutaram (contra a Prevent Senior) para que não viesse a óbito”.

Em seu relato, o paciente contou que os problemas com a operadora já começaram no primeiro atendimento, feito por consulta remota em dezembro. Segundo Tadeu, ao relatar seus sintomas, principalmente febre, a médica que o atendeu enviou o “kit covid”, por meio de motoboy. “Eu estranhei o protocolo de enviar remédio em casa. Nunca vi isso. O médico prescreve a receita e você adquire o remédio. Isso se dá também após exames, o que não ocorreu”, disse aos senadores.

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‘Estaria morto’

Ao prosseguir seu relato, Tadeu disse que tomou os medicamentos conforme prescrito, num “tratamento” que durou cinco dias. Mas piorou. Pouco dias depois, internou-se em unidade da Prevent Senior em São Paulo, onde precisou ser intubado por estar com covid-19 e pneumonia bacteriana avançada.

Os médicos da operadora passaram, segundo contou, a afirmar aos familiares que o quadro de Tadeu era irreversível e que ele não tinha mais cura. Disse ainda que uma médica da Prevent Senior disse às suas filhas que, ao ser transferido para os cuidados paliativos, “teria maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias”. As filhas não concordaram com o procedimento.

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“Fiquei 30 dias na UTI. Uma das minhas filhas recebeu um telefonema informando que passaria a ter cuidados paliativos, no leito híbrido. Felizmente, minha filha não concordou. Duas horas depois, a mesma médica iniciou os tratamentos paliativos e recomendou o fim da hemodiálise. No prontuário, ela escreveu que a minha filha concordou. Era mentira”, afirmou.

Ainda segundo o paciente, os médicos apresentaram, como se fosse dele, um prontuário de outra pessoa, que apresentava comorbidades que nunca teve. “Nessa reunião, eles tentaram convencer minha família de que, pelo prontuário na mão, eu tinha marca-passo, comorbidades arteriais e que eu tinha uma idade muito avançada. Esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marca-passo.”

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Tadeu disse que, a insistência da Prevent Senior fz seus familiares ameaçarem ir à Justiça e à imprensa para denunciar a conduta da empresa e garantir que ele continuasse na UTI. “Em poucos dias depois (se fosse transferido), eu estaria morto”, disse, chorando. O senador Otto Alencar (PSB-BA) afirmou que ele “seria assassinado”. “Sim, senador”, concordou o depoente.

Sem autonomia médica

Depois do depoimento de Tadeu, o relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL) inquiriu Walter Correa de Souza Netto, ex-médico da Prevent Senior. O profissional criticou a operadora por adotar um regime hierárquico que classificou como mais restritivo que em instituições militares. “Extremamente rígido”, afirmou.

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Logo no início do depoimento, Walter disse que o que ocorreu com Tadeu não é exceção. “A Prevent Senior é especialista em números, não em pessoas“. Durante a oitiva, o médico confirmou que havia um protocolo para receitar remédios comprovadamente ineficazes para o tratamento da covid-19.

“O médico não tinha autonomia. Nunca vi uma hierarquia tão rígida quanto na Prevent. As pessoas tinham receio de contrarias as ordens. O ambiente era hostil com a cultura da obediência. Eu recusei prescrever o kit, fui repreendido. Eu tinha rejeição ao modelo e desencadeou na minha demissão”, contou aos senadores.

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A falta de autonomia médica na Prevent também respingava na segurança dos profissionais, segundo ele. “Teve uma época que a Prevent proibiu de usar máscara lá dentro. Havia um surto de covid lá dentro, amigos intubados. Eu peguei uma máscara N95 para usar no plantão. A coordenadora mandou eu tirar porque ‘assustaria os pacientes’. Minha vida pouco importou e trabalhei sem máscara”

Walter relatou ainda que, em algumas ocasiões, profissionais de enfermagem exerciam funções de médicos e ministravam o “kit covid” a pacientes. “Havia enfermeiros atendendo os pacientes como se fossem médicos, e os doutores só carimbavam. Virou uma produção em série de distribuição de kit, não havia mais avaliação. Se chegasse com sintoma gripal, tomava o kit e ponto. Uma prática inadequada e até criminosa.”

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