Bolsonaro ridiculariza Brasil, diz presidente da CPI da Covid
Senador Omar Aziz disse em entrevista que a nação brasileira não pode ser ridicularizada pelos demais países do mundo. "Não dá para mensurar quantas vidas vamos perder por causa desse tipo de brincadeira. Qual é a razão de fazer isso? Reunir motoqueiros para fazer uma motociata aí, a troco de quê?", questionou
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BRASÍLIA (Reuters) - O comportamento do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia de Covid-19, questionando a eficácia de vacinas, do isolamento social e de medidas de proteção como o uso de máscaras, ridiculariza o Brasil perante o mundo, afirmou o presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), que disse ainda que a situação não pode ser encarada como em uma mesa de bar.
O senador avaliou, em entrevista à Reuters, que há indícios suficientes para afirmar que foram cometidos crimes sanitários e contra a vida. Ele indicou que algumas das testemunhas já ouvidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) devem passar à condição de investigadas.
"Eu faço um apelo ao presidente. O presidente é chefe de uma nação. A nação brasileira não pode ser ridicularizada pelos outros países do mundo. E esse comportamento ridiculariza o Brasil, os brasileiros", disse Aziz, argumentando que o país tem caminhado na "contramão" do que é preconizado pela ciência e seguido pela grande maioria das nações.
"Esse comportamento, eu faço esse apelo, o presidente teria que se vacinar, mostrar: 'olha, eu estou me vacinando porque isso que te protege'. Ele tinha que ser um líder como foi o (Joe) Biden, como foi o (Vladimir) Putin, como foi o primeiro-ministro da Inglaterra (Boris Johnson), como foram os outros líderes mundiais que se vacinaram. Qual o problema?", questionou o presidente da CPI, referindo-se aos presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, além do premiê britânico.
"Aí não. 'Olha, toma a vacina, hein, se você ficar com a voz fina não vai me culpar'. Ou senão 'se você for mulher e tiver pelo no rosto não vai me culpar, se você virar jacaré...'. Olha só! Isso não é uma mesa de bar", pontuou o senador.
Em reiteradas declarações, Bolsonaro levantou suspeitas sobre a eficácia da vacina e, apesar de já ter idade para se vacinar, ainda não se recebeu a aplicação de um imunizante. Ele também questionou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) segundo a qual os governos poderiam determinar a vacinação obrigatória e em um discurso, quando comentava que o governo não concordava em assumir a responsabilidade por eventuais efeitos adversos das vacinas da Pfizer, afirmou que "se você virar um jacaré, é problema seu".
Aziz lembrou que o presidente reitera e repete seu comportamento, e citou exemplo mais recente, a motociata da qual Bolsonaro participou no sábado em São Paulo.
"Não dá para mensurar quantas vidas vamos perder por causa desse tipo de brincadeira. Qual é a razão de fazer isso? Reunir motoqueiros para fazer uma motociata aí, a troco de quê? Mostrar força política? De ser carregado nos braços? Das pessoas te aplaudirem? Das pessoas gritarem 'mito!'? e daí?", questionou o senador.
"Esse é um apelo que faço ao nosso presidente. Presidente, nos ajude, que a gente possa combater esse vírus", pediu Aziz. "Um vírus que tem ceifado vidas. Vidas de brasileiros... presidente, no seu governo 480 mil vidas já se foram. Não foi no governo de outros presidentes, não, é no seu."
Segundo o parlamentar que comanda os trabalhos da comissão investigativa do Senado, a aposta na chamada imunidade de rebanho e a insistência no chamado tratamento precoce, apontadas em depoimentos e informações já colhidas pela CPI, por parte do governo configuram crimes.
"A imunização de rebanho é crime contra a vida. Essa questão do tratamento precoce é crime sanitário. São crimes que foram cometidos, que a CPI irá fazer um relatório final indicando os nomes para os devidos órgãos fazerem aquilo que é necessário", explicou.
"Há realmente indícios fortes de crimes contra a vida e crime sanitário, e o próprio senador Renan Calheiros (MDB-AL), que é o relator, diz que essas pessoas que foram testemunhas, muitas delas passam a ser investigadas a partir de agora por esses crimes cometidos."
FRENTES DE INVESTIGAÇÃO
Aziz avalia que a CPI ainda deve abordar outras frentes de investigação. Uma delas diz respeito ao financiamento de campanhas a favor do tratamento precoce, por exemplo, assim como se o chamado "gabinete do ódio" esteve envolvido na disseminação de fake news sobre a doença, a indicação de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid e propaganda negativa em relação às vacinas.
A comissão também deve centrar o norte de suas apurações em buscar elementos que caracterizem o comportamento de Bolsonaro.
"O que não dá para compreender é como é que Médicos Pela Vida compra uma página no Globo, na Folha, no Estadão, e compra vários locais para defender uma ideia. Com que dinheiro? Tá certo? É muito estranho", disse, referindo-se a grupo de médicos que defende o uso de remédios sem eficácia contra a Covid como a cloroquina e a ivermectina.
"Nós vamos para cima desses laboratórios agora, vamos saber como é que foi essa propagação, quanto se gastou. Se gastou mais dinheiro através da Secom (secretaria de Comunicação da Presidência da República) para propagar tratamento precoce do que para propagar isolamento, uso de máscara, uso de álcool em gel. Estamos chegando. Você vai ver no relatório final qual era o comportamento do governo em relação a isso", disse o senador.
Aziz lamentou o fato de testemunhas negarem, distorcerem ou simplesmente omitirem informações ou até declarações delas mesmas em situações anteriores.
Questionado se "enrolação" no depoimento de muitas das testemunhas teria como objetivo proteger Bolsonaro de uma eventual responsabilização, o parlamentar afirmou que "eu acho; impressionante".
Para o senador, a CPI já "descobriu que eles nunca quiseram comprar vacina" e, ao ponderar que não deve haver prorrogação dos trabalhos da comissão, arrisca até a já citar um legado dela.
"A CPI já fez um grande ganho, obrigou o governo a correr atrás de vacina", avaliou.
(Por Maria Carolina Marcello e Ricardo Brito)
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