Um bonde chamado desejo

A inacreditvel histria do metr de Salvador, que se arrasta, h uma dcada, a passos de tartaruga



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Elieser Cesar_247 - Inacabada, lenta, cara e com suspeita de superfaturamento, a construção do metrô de Salvador é uma obra que vem deixando a população da cidade a ver navios, há uma década. Sob a responsabilidade do consórcio Metrosal, integrado pelas construtoras Camargo Correia, Andrade Gutierrez e Siemens, as obras já consumiram R$ 1,4 bilhão do erário público, quando a previsão inicial era de R$ 600 milhões. Com um agravante: em dez anos o percurso foi reduzido à metade, de 12 Km que ligaria o centro da cidade ao bairro de Pirajá, passando pelo Pau da Lima, para apenas 6 Km, trecho insuficiente para atender à demanda de transporte para uma população de quase 3 milhões de habitantes, estressada diariamente com os constantes engarrafamento no tráfego de veículos.

É como se alguém encomendasse a construção de uma casa com quatro quartos e dois banheiros e tivesse que se contentar com um imóvel de dois quartos e apenas um banheiro, bancando uma fatura 150% mais cara. Ao se referir as obras do metrô da capital baiana, o secretário-geral do Sindicato da Indústria Pesada, Paulo Roberto Silva dá a exata dimensão do desperdício: "Quem mora no subúrbio terá que ficar pela metade do caminho. É mesmo um absurdo".

Com toda as etapas, o projeto original previa a construção de 40 Km de trilhos, "levando conforto e rapidez a um público estimado em 1 milhão e 100 mil passageiros, já em 2003", conforme a Siemens. Oito anos depois do prazo estabelecido pelo Metrosal o que se vê é o desconforto da população diante de uma obra que parece ter saído de um absurdo kafkiano e que anda em passos de tartaruga.

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Os prazos para a conclusão das obras são refeitos a cada ano. Primeiro, 2003, depois 2008 e, agora, 2014, no bojo da preparação da cidade para sediar os jogos da Copa do Mundo, de acordo com a Prefeitura, quando estariam finalizados 12 Km de extensão.

Há quase três anos, foram adquiridos seis trens, cada um com quatro vagões, com capacidade para de 1.250 passageiros, por unidade. A aquisição foi feita mediante um empréstimo de R$ US$ 50 milhões (R$ 80,5 milhões) junto ao banco do Brasil. A intenção era iniciar a fase de testes (avaliação estática e dinâmica das máquinas), mas nenhum vagão saiu dos trilhos. Foi tudo jogo de cena.

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Antes das eleições do ano passado, numa jogada eleitoreira, parte desses trens ficaram expostos, ao sol e à chuva, no elevado da Rótula do Abacaxi, local de grande visibilidade, que liga as principais avenidas da cidade com as Rodovia BR-324 (Salvador-Feira de Santana). Com isso, praticamente toda a população da cidade pode ver as composições que, até agora, não servem para nada.

Em setembro próximo vai completar três anos que os trens mofam nos galpões da Estação Aduaneira do Interior (Eadi), em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, a um custo de aluguel de R$ 100 mil mensais, bancados pelo Governo do Estado.

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Garantia vencida- Para piorar a situação, executivos da Rotem, a empresa coreana que forneceu as composições, estiveram em Salvador e, diante do que viram, retiraram a garantia das máquinas. A fim de retornar a garantia, os fabricantes teriam exigido um exame de todos os trens e a troca das peças que, por ventura, estejam avariadas. A parte mais sensível ao desgaste são os componentes eletrônicos. A coisa funciona mais ou menos como um computador exposto ao salitre, que não é usado, nem passa por manutenção: o sistema eletrônico pifa.

Segundo uma fonte especializada em transportes de massa, esses trens teriam que ser testados, com todos seus sistemas ajustados, logo que chegaram. Conforme a mesma fonte, toda a operação demandaria 14 meses, o que significa que, nos próximos dois anos, Salvador ainda não verá o seu metrô em operação.

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Por enquanto, os números do metrô de Salvador não passam de abstrações aritméticas, pois de concreto mesmo só a sobras de infraestrutura. Pelo projeto inicial seriam 37.150m² de estações, 31.042 m² de edificações e complexo de manutenção, 170.000 m² de concreto estrutural, 495.000 m² de formas, 70.000 m² de escavação em rocha, 490.000 m² de movimento de terra, 50.000 unidades de dormentes, 3.900 mt de trilhos e 15.000 t de aço. E metrô nos trilhos que é bom, nada.

O secretário da casa Civil a Prefeitura, deputado federal licenciado João Leão (PP) prevê o funcionamento do metrô num prazo de um ano e meio. Segundo ele, a finalização da primeira etapa está orçada em R$ 86 milhões e a segunda etapa em R$ 460 milhões. Por todo esse atraso, o metrô de Salvador, por enquanto, é um bonde chamado desejo.

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