Tudo tão simples: basta proibir

Sem quaisquer questionamentos, as novas tábuas da lei são apresentadas à população e defendidas por esta, ainda que proponham a roda quadrada



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O Brasil é, segundo propaganda oficial e oficiosa (artistas que com valentia defendem o Brasil dos reacionários do PIG) realmente o Senhor do mundo das próximas décadas. Destinado a liderar as nações que deixarão modelos decadentes como Europa e Estados Unidos para trás, cegos pela poeira que o avanço por saltos produzirá, convencidos de que sua hora passou e de que deram ao mundo e à história o que tinham a oferecer – Obama reconhecendo que nosso ex (ou futuro?) presidente “é o cara” apenas confirma o que já se sabe entre nós.

Os modelos ocidentais citados se desgastam em procurar soluções novas para velhos problemas em processo que esgota energia e criatividade e decaem precisamente por isto. O Brasil descobriu que tudo pode ser mais prático se consumir menos tempo e recursos de imaginação: se alguma situação se afigura problemática, se algo é fonte de transtornos, nossa solução é mais eficaz e imediata: a proibição – simples, rápida e segura.

Há alguns anos, estudo demonstrou que homicídios ocorriam em determinada hora – resolveu-se então determinar fechamentos de bares na madrugada. Claro que ninguém fora do pátio do hospício acreditou que bandidos trocariam de profissão, incapazes de adaptar seus horários, mas como era estudo “científico”, as autoridades não aceitaram discutir outras medidas.

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Em Belo Horizonte, tenta-se proibir copos de vidro em bares. Acidentes seriam evitados, alegam os defensores da idéia que, quando anunciada, muitos julgaram tratar-se de alguma anedota. Não o era, assim como a proibição, por motivos ditos ecológicos, das sacolas plásticas em supermercados. Algum iluminado de departamento universitário elabora uma dada pesquisa e pronto, temos como resultado nova legislação acatada por todos que não desejam a qualificação de desinformados e ignorantes: “Se o doutor fulano assim o diz, só pode ser verdade”. Sem quaisquer questionamentos, as novas tábuas da lei são apresentadas à população e defendidas por esta, ainda que proponham a roda quadrada.

Festas no campus da UFMG, espaço supostamente público, foram suprimidas por alegadas agressões a homossexuais numa calourada. Os D.A.s ensaiam protestos que não demovem minimamente a Reitoria que não teme D.A.s de Esquerda, sendo ela própria autoproclamada de Esquerda também. Leitores imaginam que a maioria se queixa? Pelo contrário. Afinal, tais festas, além de palco de bebedeiras e “uso de drogas”, também trazem o doloroso inconveniente de atrair “gente de fora que vem bagunçar” – leia-se funkeiros, gente dos bairros que nada oferecem, cuja presença assusta estudantes de classe média, progressistas.

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Que o Brasil não é nem pioneiro nem solitário no proibicionismo, todos o sabem, mas o que inquieta nas proibições (ou as francas tentativas de tudo proibir) é a motivação de tudo resolver, de aplacar males, com a crença (preciso escrever que é ingênua?) na importação dos modelos de engenharia comportamental que prometem o mundo perfeito, sem “doenças sociais”, num cientificismo anacrônico, sem as defesas que sociedades onde a prática do debate é mais antiga, ininterrupta e, portanto, mais solidificada que em nosso País dispõem contra essa forma voraz de autoritarismo. Enquanto nos demais países encontra-se a barreira dos direitos conquistados e defendidos por população pouco devota na autoridade da casta acadêmica, aqui encontra, se encontra, a queixa cabisbaixa, entredentes, em murmúrios emitidos quando os ditos direitos cessam de existir da madrugada para a manhã.

Autoridades não eleitas desejam legislar sobre letras de funk “sexistas”, concursos de beleza idem, anúncios de lingerie ibidem, até mesmo enredos de novela que porventura possam sofrer a mesma acusação. Gostam do ofício de censores, certamente suspiram fantasiando censurar retroativamente romances reacionários, desrespeitadores de “questões de gênero”.

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Registram-se acidentes com carros importados em nossas vias – eles rodopiam, capotam, logo são perigosos. Proibi-los parece ser a solução. O aumento do IPI decerto foi para isto mesmo.

Fernando Pawlow, 38 anos, autor do blog "Fernando Pawlow-cadernos"

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