Subcultura e desenvolvimento

Precisamos urgentemente de um caldo de cultura mediante educação, ensino e renda per capita, muito longe do cenário internacional



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Cogitamos de passar a ingressar nas fileiras dos Países Desenvolvidos e de Primeiro Mundo, enquanto prosperamos o modelo econômico a fim de que permaneça entre as grandes potências mundiais.

No entanto, sem qualquer pessimismo, estamos distantes de atingirmos o nivelamento necessário por uma série de razões.

A nossa mídia tem sido o principal problema, a pedra no sapato, colocando em relevo o futebol, artistas, cantores, premiando condutas políticas ilegais, fazendo alardes com os falsos pregadores de plantão.

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Atônitos e estarrecidos assistimos a vitória do Barcelona, que facilmente derrotou o clube brasileiro, repetindo a mesma glória de 18 meses atrás, quando se consagrou a Espanha campeã do mundo.

Há um estardalhaço incomum no Brasil, que sempre desponta como país do futuro, cujo futebol se apresenta como do passado, cheia de falcatruas, papel dos cartolas, e um excesso de jogos.

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Na realidade, o futebol brasileiro é marcado pela quantidade de jogos e baixa qualidade das partidas e dos atletas.

A remuneração dos técnicos e de profissionais supera, e muito, a expectativa, mas a imprensa sempre mostra destaque e notícia, os craques endeusando-os desnecessariamente.

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Realizar-se-á em 2014 a Copa do Mundo, bilhões de reais serão gastos, muito dinheiro público entrará no ralo, quando poderíamos priorizar a infraestrutura, a saúde, o transporte público.

O inferno do trânsito nas grandes capitais é um fato, mais de 10 milhões de carros novos foram produzidos nos últimos anos e ingressaram em circulação.

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Acontece, porém, que nem ao menos 5% de pistas, estradas e construções foram realizadas, e o metrô anda a passo de cágado.

Continuamos expressando o nosso ritmo novelesco, que desperta a curiosidade e reporta à banalidade, sentimos o gosto de ver a desgraça alheia e não medimos esforços para espionar a vida do vizinho.

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Não nos esqueçamos de que, no ritmo alucinante das grandes cidades e das estradas, somam-se mais de 2 milhões de motos produzidas nos últimos anos, que não apresentam disciplina alguma de circulação.

Elas circulam em todas as pistas, cruzam por todos os lados e não respeitam velocidades.

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Há necessidade de uma revisão de toda essa subcultura secular que nos aprisiona e impede de chegar ao desenvolvimento.

A predominarem o pão e o circo, o cidadão ficará ilhado da participação e de uma manifestação libertária.

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O endividamento é enorme, cada pessoa que nasce já deve quase 5 mil reais, e cada brasileiro mostra, em relação aos bancos, um saldo negativo de mais de três mil reais.

A economia está estranha e muito anômala, podemos dizer que crescemos, mas não nos desenvolvemos, embora uma grande parte dos povos estrangeiros escolha, como opção, o País para fincar trabalho.

Precisamos urgentemente de um caldo de cultura mediante educação, ensino e renda per capita, muito longe do cenário internacional.

Em matéria de concorrência, estamos muito atrasados em relação aos países da África e da Ásia, e agora começamos a fechar duramente o mercado interno.

A cultura individual, a Lei do Gerson, é uma mácula que nos remonta ao tempo da descoberta.

Não investimos nos transportes públicos e as montadoras se permitem empurrar milhões de carros sem qualquer contrapartida ao meio ambiente.

Os portos estão esquecidos e, impressionantemente, as ferrovias são mais atrasadas do que no século XVII nos EUA.

As autoridades e a iniciativa privada, as quais tanto enalteceram as PPPs, não movem uma só palha no sentido de deflagarmos o transporte ferroviário.

Tudo que é feito passa pelas quatro rodas do caminhão, do ônibus, e da indústria do petróleo.

Em pouco tempo, o deslocamento nos grandes centros urbanos será de tal forma caótico, que as pessoas farão como na cidade do México, abandonarão seus carros e seguirão a pé, ou pegarão condução, tipo carona.

As políticas públicas ainda se mostram distanciadas e divorciadas do contexto da sociedade.

Faltam cultura, educação, e alto grau de patriotismo, o simples apoio ao social, mediante bolsas, é incapaz de retirar a população marginalizada do seu estado de pobreza.

Temos muitos “Brasis”, eles não se falam, não conversam, um é adiantado, outro é por demais atrasado, a renda bem concentrada, os salários corroídos pela inflação.

Desde o surgimento do Plano Real, hoje uma nota de cem reais não permite uma compra comum em supermercados, já deveríamos ter a nota de 200 e também de 500 e quem sabe até de mil reais.

Forte nesse ponto, precisamos deixar de lado a noção de um País da terra das chuteiras, e criar, no esporte, uma musculatura que vá ao encontro de todos, nos últimos jogos Panamericanos tivemos um desempenho atrás de Cuba, e isso revela que os patrocínios estão longe de atingirem suas metas.

A reviravolta implica na revisão do que está sendo feito hoje, para cotejarmos com o passado e, a partir dos desacertos, construirmos um futuro menos traumático.

A continuar dessa forma, não teremos a menor chance de levantarmos o caneco da Copa de 2014 e, em relação às obras, infraestrutura e transportes para os milhões de visitantes, tudo isso é uma incógnita, mas uma coisa é absolutamente certa, a cada dia o futebol passa a ser um esporte como qualquer outro, e as inúmeras conquistas pretéritas apenas revelam que, no pluralismo esportivo, resta o desafio de uma nova cultura, com mentalidade aberta rumo ao desenvolvimento pretendido de todas as regiões do País.

Saibamos sair do feudalismo retrógrado que nos aprisiona e construamos, em todos os setores da vida social, mecanismos em torno do bem comum, pois, do contrário, a frustração e a decepção não justificarão os investimentos supérfluos feitos com o dinheiro dos contribuintes.

Carlos Henrique Abrão é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo

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