Sombra divina

Conhea o dolo dos hackers brasileiros: o italiano Fabio Ghioni, autor do livro Hacker Republic



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O italiano Fabio Ghioni, tido e havido como o maior espião internético da Europa, é o ídolo confesso dos grupos que têm atacado os sites do governo brasileiro. Para tanto, ele criou um vírus especial, a que chamou de “animaletto”. Ghioni fala claramente das técnicas de invasão de sites oficiais em seu recente livro, Hacker Republic, de resto a bíblia seguida hoje por todos os invasores de sites, em todo o mundo. Você pode ver, falado em italiano, e com legendas em inglês, o próprio Ghioni discorrendo sobre sua arte:

http://www.televisionet.tv/en/science_en/hacker-republic-%E2%80%93-fabio-ghioni-2

O que move os hackers brasileiros a tê-lo como ídolo é o fato de ele ter comandado o “Tiger Team”, grupo de espiões e hackers, montado pela Telecom Italia, para fulminar os concorrentes da companhia italiana, no processo de privatização da telefonia, a partir do mandarinato do ex-presidente FHC. A operadora de telefonia italiana é acusada, pela Procuradoria de Milão, de ter aplicado 120 milhões de euros em atividades ilegais para dominar o mercado nos diferentes países onde atua. Acredita-se que mais de 10% desse total tiveram como destino o Brasil e como finalidade o pagamento de serviços prestados por autoridades, policiais e particulares, além de financiar uma campanha na imprensa favorável aos interesses da empresa e contrária a seus adversários empresariais.

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Fabio Ghioni, Giuliano Tavaroli, e Angelo Jannone, ex-executivos da Telecom Italia, foram denunciados pelo Ministério Público de Milão, com outros 31 envolvidos no caso, por violar sistemas de informática e fazer escutas ilegais contra pessoas na Itália e no exterior em nome da Telecom Italia.

O Tiger Team era um grupo especial do setor de segurança da Telecom Itália. Seu papel era o de pavimentar a expansão da ex-estatal italiana no mundo. As interceptações eletrônicas no Brasil duraram de 2003 a 2005, no contexto da disputa pelo controle acionário da Brasil Telecom entre a Telecom Itália e o Banco Opportunity. As notícias da Itália dão conta de que o grupo conseguiu grampear a imprensa italiana, entrou nos computadores da CIA e da Kroll, de onde sacou a investigação contra ele, acrescentou o material que lhe interessava e entregou à imprensa brasileira.

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A equipe de Fabio Ghioni contava com figuras de proa da espionagem italiana. Angelo Jannone foi tenente-coronel do corpo de carabinieri. Ele trabalhou ao lado do juiz Giovanni Falcone na luta contra a máfia siciliana. E fez-se chefe do setor antifraudes da Telecom Italia para a América Latina. Morou no Brasil em 2004. Marco Bernardini era dono de uma empresa de investigações. Foi contratado na época pelo grupo italiano, mas ao se tornar réu aderiu a um programa de delação premiada e se tornou a principal testemunha do Ministério Público italiano no inquérito sobre a rede de espionagem clandestina e subornos da Telecom Italia no mundo.

Fabio Ghioni era o “hacker de primeira linha” dessa trinca. Nascido em Milão, em 26 de novembro de 1964, prestou declarações pela primeira vez no Palácio da Justiça, em Milão, no dia 15 de novembro de 2007, às 9h35, na presença do procurador da República Nicola Piacente e do sub-oficial carabinieri Vincenzo Morgera.

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Uma das principais fontes de informação sobre a participação brasileira no imbroglio italiano, que era enfiar dinheiro para comprar espiões no Brasil é justamente Fábio Ghioni, que chefiou o esquema de espionagem pela Internet da Telecom Italia. Em audiência referente ao Processo Penal 9633/08, Ghioni prestou depoimento à juiza Mariolina Panasiti, do Tribunal de Milão, em 26 de fevereiro e outro em 26 de março de 2010.

Fabio Ghioni depôs perante a juíza de instrução e confessou-se especialista em estratégias e tecnologias não convencionais de segurança e tido como o responsável pelo esquema de interceptações de informação da Telecom Italia, que alcançou autoridades e o principal jornal italiano.

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Conhecido como “Sombra Divina”, Ghioni chefiou lo grupo de hackers da Telecom Italia, que ficou conhecido como Tiger Team. É acusado de ter manipulado dados furtados da Kroll Associates, a maior empresa de investigações privadas do mundo, para “vitaminar” informações contra o empresário Daniel Dantas, do Banco Opportunity. A Brasil Telecom era acusado de contratar a Kroll para espionar as atividades de dirigentes da Telecom Italia, que travava com o Opportunity uma feroz disputa para assumir o controle da Brasil Telecom, empresa em que os dois grupos empresariais eram sócios. No último dia 14 de junho foi tornada inepta a denúncia contra funcionários e gestores da Kroll no Brasil, acusados de espionar a Telecom Itália na disputa pelo controle acionário da Brasil Telecom. Para a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, o Ministério Público Federal não conseguiu fazer relação entre os acusados e os crimes de corrupção ativa, divulgação de informação sigilosa e receptação de informação. O processo se originou da Operação Chacal, deflagrada pela Polícia Federal em 2004.

Em depoimento anterior, prestado no curso do Procedimento Penal 9.633/08, do Tribunal de Milão, Ghioni afirmou que entre as pessoas subornadas pelo esquema de espionagem montado pela Telecom Italia estão policiais federais e políticos brasileiros. Segundo ele, policiais federais receberam propina da empresa para prestar serviços de segurança particular, no Brasil, a espiões italianos, e também para inserir, numa operação da PF, dados para favorecer interesses da Telecom Italia. A investigação cobre um período anterior ao da célebre Satiagraha.

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Ghioni explicou como funcionava a empresa italiana sob o comando de Marco Tronchetti Provera, maior acionista individual da Pirelli, controladora da Telecom Italia entre 2001 e 2006. Ele acusa Provera de ter tido total controle das atividades ilícitas de espionagem, sobretudo no Brasil, e de ter gastado milhões de euros nessas práticas heterodoxas, obviamente sem avisar aos acionistas. É nesse ninho que Demarco e seus parceiros, investiga-se, teriam se instalado para ganhar dinheiro.

“Ele não tinha forças econômicas para levar adiante a sua campanha; portanto, a Telecom Italia o apoiava, tanto economicamente, através de não sei exatamente quais meios, porém, imagino, faturas emitidas por ele”, sustentou Ghioni referindo-se a Demarco, no último dia 26 de março. O empresário teria arrecadado dinheiro italiano para repassar, no Brasil, a pessoas dispostas a bombardear Daniel Dantas.

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No final de 2009 a juíza Adriana Freis Leben de Zanetti, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que conduz o processo por espionagem do Opportunity contra a Telecom Italia, decidiu suspender a ação no Brasil até receber da Justiça italiana informações sobre as investigações que lá estão sendo feitas, em cujo bojo Ghioni é réu e testemunha.

Fazem ponta no espetáculo personagens como Marco Bernardini e Angelo Jannone. Bernardini, um ex-agente do serviço secreto italiano, que se tornou detetive particular e prestador de serviços da Telecom Italia. Ele é uma das principais testemunhas no processo contra a empresa. Bernardini tem sustentado aos procuradores de Milão que a operadora “pagava a políticos e também à polícia brasileira”. Angelo Jannone foi chefe de Segurança da Telecom Italia para a América Latina. Ex-carabinieri, teria trazido ao Brasil o CD “vitaminado” com as informações da Kroll, para entregá-lo à Polícia Federal. O seu conteúdo foi validado pela PF como legítimo, mesmo sabendo-se da sua origem.

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Para entender o imbróglio

A Telecom Italia é dona da operadora de telefonia celular TIM. Foi também acionista da Brasil Telecom, em sociedade com o Citibank, os fundos de pensão de estatais (Previ, Petros e Funcef) e o Grupo Opportunity do banqueiro Daniel Dantas. Em 2005, os fundos de pensão, em acordo com o Citibank, conseguiram destituir o Opportunity da administração da Brasil Telecom. Foi então selecionada a consultoria Angra Partners para gerir a BrT.

Em 2004, a PF iniciou a Operação Chacal, que investigou suposta atividade ilegal da Kroll no Brasil. Além do trabalho oficial da PF, a Kroll foi alvo também de uma série de ações de espionagem promovidas pela Telecom Italia. Numa delas, em um hotel no Rio, invadiram o computador de um deles e roubaram vários arquivos, que depois foram selecionados e gravados em um CD que foi editado pela equipe de Ghioni na Itália e depois entregue à PF no Brasil.

Em 6 de novembro de 2007, Giuseppe Ângelo Jannone, o homem que denunciou a Kroll de fazer espionagem no Brasil, foi preso na Itália por fazer espionagem. Junto com Jannone, foram presos Alfredo Melloni e Ernesto Preatoni, dois técnicos de informática que trabalhavam no setor de segurança da matriz da Telecom Itália. Era outro núcleo duro do Tiger Team.

O foco principal das acusações de Ghioni é Marco Tronchetti Provera, maior acionista individual da Pirelli, ex-controlador da Telecom Italia entre 2001 e 2006. Ele acusa Provera de ter total controle das atividades ilícitas de espionagem, sobretudo no Brasil, e de ter gastado milhões de euros nessas práticas heterodoxas, obviamente sem avisar aos acionistas. Provera negou essas acusações, em depoimento à Justiça de Milão, prestado no último dia 17 de março. Negou que, durante a sua gestão, a área de segurança da Telecom Italia montou uma vasta rede de grampos ilegais e de suposta corrupção, rede esta que operou sobretudo no Brasil.

Mas Ghioni, sem mostrar provas, sustenta que Provera teve acesso até ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, na tentativa de obter dele verbas para esses serviços de espionagem, que segundo ele “defendiam interesses italianos no exterior”.

Veja alguns trechos dos depoimentos de Fabio Ghioni:

Dinheiro

“Para o episódio da Kroll era necessário também o pagamento de colaboradores, em modo extra-empresarial, digamos.

"[O dinheiro servia também] para pagar investigadores privados, para o pagamento de consultores, digamos não convencionais, e havia muitos destes na América Latina, para pagar informantes e oficiais de Polícia Judiciária na América Latina".

“Somas eram destinadas a remunerar as atividades não convencionais, ou seja, aquelas ilícitas, fora do conhecimento, digamos, das normais linhas de orçamento, e, portanto, não poderiam estar previstas nessas normas de orçamento”.

Escolta da PF

“No Brasil delineava-se uma situação extremamente violenta contra a Telecom Italia, e eram empregados oficiais da Polícia Federal e tudo o mais para fazer investigações sobre os inimigos, digamos, da Telecom Italia...por exemplo, todas as vezes que íamos ao Brasil tínhamos a escolta da Polícia Federal que [atuava], digamos, em forma privada”.

Invasão de computadores com vírus:

“Nestes casos, para esconder quem é o verdadeiro alvo, em caso de averiguação de atividade, digamos não-convencional ou ilícita, escolheu-se uma série de pessoas... e enviou-se para todos o mesmo vírus, aquele que depois foi chamado de “animaletto”, que é um vírus, um Troyan, que permite adquirir todas as informações de um computador...foi mandado para sete ou oito pessoas”.

Kroll

“A Kroll é uma multinacional, é a empresa mais importante no mundo nas investigações privadas, trabalha para empresas e para particulares para resolver problemas e além disso trabalha também para o Departamento de Estado americano, com fornecimento de pessoal no Iraque, justamente de controle e vigilância, como eu fazia anteriormente. A Kroll foi paga pelo Fundo Opportunity de Daniel Dantas para fazer frente a uma disputa que havia entre Telecom Italia e o Fundo Opportunity, em relação à titularidade de algumas ações da Brasil Telecom. Para desmoralizar Tronchetti Provera...As informações que a Kroll adquiriu serviriam ou para denunciar eventuais crimes da Telecom, no local, ou para levar o presidente Tronchetti Provera para a mesa de negociações com algum material potencialmente intimidatório contra ele... Eles usavam métodos extremamente não convencionais, desde corrupção de dirigentes, furtos de discos rígidos das nossas sedes, corrupção de agentes da polícia local, no Brasil em particular, a invasão informática”.

Fornecimento de dados ilegais para a PF :

“O que sei é que foram realizadas algumas ações que levaram à investigação e à prisão de todos os agentes da Kroll no Brasil, utilizando como evidência os documentos que havíamos adquirido anteriormente, mais os documentos que Jannone havia adquirido através de um investigador – do qual não lembro o nome que, no entanto, está nos registros – que eu encontrava frequentemente em Miami, e depois, com a atividade de Bernardini porque este, de qualquer maneira, estava no Brasil a maior parte do tempo”.

Remuneração de policiais brasileiros :

“Juiz – Com referência a esta atividade, o senhor descreveu as atividades de invasão informática, mas também eram utilizadas somas para remunerar os pertencentes às forças da polícia, por esta operação destinada à prisão dos funcionários da Kroll?

Ghioni – Sim, sim, funcionários da polícia. No Brasil funciona de um modo um pouco particular, pelo que eu pude ver, então, digamos que a polícia deve ser amiga, para permitir que se faça um certo tipo de operação.

Malas

Ghioni falou muito mais: disse que a Telecom Italia mandou ao Brasil uma mala de euros com a finalidade de comprar um senador, agentes de espionagem, policiais federais e inocular vírus informáticos nas maiores empresas de telefonia do mercado brasileiro. E mais: para garantir o transporte da propina, o pessoal da Telecom Italia contou, no Brasil, com proteção e escolta de agentes do serviço secreto italiano, o Sismi, para evitar que fossem revistados por autoridades brasileiras — o Sismi (Servizio per le Informazioni e la Sicurezza Militare) mudou de nome para Aise, em agosto de 2007.

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