Sader: resta à direita da AL se refugiar na mídia

Segundo sociólogo Emir Sader, na falta de projetos, direita latino-americana se refugia em setores da mídia para formar cadeias que resistem a transformações democráticas; “combinando campanhas terroristas”

Segundo sociólogo Emir Sader, na falta de projetos, direita latino-americana se refugia em setores da mídia para formar cadeias que resistem a transformações democráticas; “combinando campanhas terroristas”
Segundo sociólogo Emir Sader, na falta de projetos, direita latino-americana se refugia em setores da mídia para formar cadeias que resistem a transformações democráticas; “combinando campanhas terroristas” (Foto: Roberta Namour)


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por Emir Sader, publicado na Rede Brasil Atual

A direita latino-americana já teve várias fisionomias: economias primário-exportadoras e regimes políticos oligárquicos, ditaduras e governos neoliberais. Nenhuma parece suficientemente atraente para fazê-la voltar ao governo onde deixou de sê-lo. O modelo primário exportador sofreu golpe mortal com a crise de 1929. As ditaduras serviram para brecar avanços políticos das esquerdas surgidas ou fortalecidas na reação àquela crise.

O projeto neoliberal parecia ser a boia de salvação das forças mais retrógradas das sociedades latino-americanas, permitindo que a direita trocasse de roupa, aparecendo como força “modernizadora”. Contra um Estado qualificado como parasitário, pela livre circulação dos capitais que supostamente permitiria reativar economias e promover o mercado e o grande empresariado como os agentes mais dinâmicos da sociedade, surgia uma “nova direita”.

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Essa fisionomia foi ajudada pela adesão de forças antes próximas ao campo popular. Partidos de origem nacionalista como o PRI mexicano e o peronismo, social-democratas como a Ação Democrática da Venezuela, o Partido Socialista do Chile, o PSDB no Brasil, entre outros, seguiram a trilha dos partidos socialista da França e da Espanha, pioneiros a “aderir”. O historiador Perry Anderson constatou em seu texto Balanço do Neoliberalismo que não tinha havido um modelo tão abrangente como o neoliberal. Se ainda no começo dos anos 1970 um conservador como Richard Nixon tinha afirmado “somos todos keynesianos” – confessando a hegemonia do modelo conhecido pelo Estado indutor do desenvolvimento e do bem-estar social –, não muito tempo depois até a social-democracia internacional dizia o oposto: “Somos todos neoliberais”.

A esquerda histórica era desqualificada como superada, marginalizada dos grandes movimentos da globalização. Políticos oligárquicos eram reciclados para o liberalismo de mercado. Projetava-se o século¬ 21 como o século da nova direita.

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O modelo, pujante no seu início, revelou no entanto seus limites. As crises financeiras se multiplicaram – do México à Coreia do Sul, do Brasil à Rússia, da Argentina à Grécia.Depois de ter sido o continente que teve mais governos neoliberais e nas suas modalidades mais radicais – com os de Pinochet no Chile (1973-1990) e Menem na Argentina (1990-2000) –, a América Latina viu florescer governos antineoliberais. Esses governos ocuparam lugares amplos no campo político, deslocando a direita tradicional, agora associada à nova direita. Diante do pacto político na região de não aceitar governos que se estabelecessem pela força, como tentou-se, sem sucesso, na Venezuela, esse segmento teve de buscar outras vias e espaços.

Novos governos – Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador – se consolidaram por atuar nos pontos mais frágeis do neoliberalismo: promovendo a centralidade das políticas sociais no lugar da dos ajustes fiscais. Recuperando o papel do Estado como indutor de crescimento e de direitos sociais, no lugar da centralidade do mercado. Priorizando diálogo regional em vez de tratados com os Estados Unidos.

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A direita teve de se refugiar onde mantém espaços de poder privilegiados – os meios de comunicação. Em situação monopolista, pelo poder do dinheiro e pela articulação com lobbies internacionais, se criam cadeias de formação antidemocrática da opinião pública, com poder de pressão sobre governos. A direita consegue desgastá-los, mas não vencê-los eleitoralmente, pois faltam-lhe plataforma, capacidade de projetar líderes e de conquistar bases de apoio além de decadentes setores das classes médias.

Resta à direita latino-americana promover formas de desestabilização, combinando campanhas terroristas na mídia, mobilizações de setores que resistem às transformações democráticas e apoio internacional, buscar brecar os impulsos desses governos e, eventualmente, ganhar eleições. Essas formas de ação, já derrotadas em várias ocasiões na Bolívia, Equador e Brasil, se concentram agora especialmente na Venezuela e na Argentina. Aí jogam todas suas cartas.

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