Reparação histórica
Soldados da borracha, que lutaram na Segunda Guerra, podem, enfim, ser indenizados por Brasil e Estados Unidos
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MONTEZUMA CRUZ, especial para o Brasil 247, de CAMPO GRANDE (MS) – Pela primeira vez na história da Justiça Brasileira, uma juíza ouvirá e registrará em autos o testemunho de dez "soldados da borracha" que deixaram suas cidades em estados nordestinos para participar da odisséia do cultivo e da extração do látex de seringueiras nativas na Amazônia Ocidental. O ato está previsto para esta terça-feira, dia cinco, a partir das 14h na sede da Justiça Federal, em Porto Velho (capital de Rondônia) e será presidida pela juíza federal Carmen Elizângela Dias Moreira de Resende, titular da 2ª Vara da Justiça Federal em Rondônia.
Para instruir o processo de indenização dos seringueiros, reivindicada há mais de um ano, a juíza intimou o Governo dos Estados Unidos e a União Federal a responderem por violação de direitos humanos dos seringueiros e seus herdeiros sobreviventes que participaram da chamada Campanha da Borracha, no período da Segunda Guerra Mundial. Nessa campanha morreram cerca de 30 mil homens, de impaludismo, malária e por violência.
Ex-seringueiros e seus herdeiros movem contra os governos brasileiro e norte-americano a ação pelo ressarcimento, já que na maioria das situações, submeteram-se ao jugo e à escravidão na floresta, sem direito a recorrer de pagamentos irregulares. A ação judicial inclui mais de mil pessoas, entre as quais, Antônio Barbosa da Silva, de 87 anos, que chegou a Porto Velho (RO) em 1942, contratado por uma empresa norte-americana. Segundo Barbosa, os governos brasileiro e americano prometeram-lhes o retorno às suas terras e posterior indenização, quando terminasse a guerra. “É por isso que estamos há 67 anos lutando por justiça", afirmou.
Barbosa lembra que os "soldados da borracha" foram vítimas "não apenas dos patrões, mas enfrentaram mosquitos, cobras e onças, tudo de ruim e perigoso na floresta".
O advogado Irlan Rogério da Silva, que defende a causa dos "soldados da borracha" informou nesta segunda-feira que os jornalistas da BBC de Londres, Louise Sherwood, e do jornal "Washington Post", Gary Neeleman, dos EUA, telefonaram ao Sindicato dos Soldados da Borracha, em Porto Velho, informando que pretendem acompanhar a audiência e o andamento do processo. Lembraram a Silva que os países aliados na Segunda Guerra "saíram vitoriosos" e reconheceram a questão da borracha como "fundamental e decisiva à conquista da paz e ao fim do conflito".
Silva acredita que os seringueiros venham esclarecer as condições de exploração humana e degradantes a que foram submetidos no período da guerra. "Eles poderão descrever como o governo brasileiro, financiado pelos Estados Unidos, os entregou ao sistema de escravidão branca na Amazônia. "O Estado Brasileiro, estrategicamente sabia das poucas condições de sobrevivência que tinham aqueles bravos, diante das hostilidades que os esperava na floresta, e diante da ambição de seringalistas que eliminou muitos dos que pretenderam sair da Amazônia por dívidas que nunca tiveram fim", assinalou o advogado. Para Silva, o andamento do processo "é mais um ato da jornada em busca de Justiça".
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