Problemas políticos prejudicam Projeto Rondon em Ipixuna (PA)

Professora que coordena a equipe da Universidade de Uberlândia afirma que não houve preparação por parte da prefeitura para receber os estudantes; cerca de 380 rondonistas promovem palestras e oficinas sobre temas diversos no Estado, durante duas semanas

Problemas políticos prejudicam Projeto Rondon em Ipixuna (PA)
Problemas políticos prejudicam Projeto Rondon em Ipixuna (PA) (Foto: Wilson Dias/ABr)


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Agência Brasil - Uma questão política no município de Ipixuna do Pará está prejudicando as atividades de uma das 19 equipes do Projeto Rondon. A dois meses das eleições municipais, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou, no último dia 10, o mandato do prefeito Evaldo Cunha (PT) por abuso de poder econômico e compra de votos. Com isso, assumiu o segundo colocado nas eleições de 2008, José Orlando Freire (PSDB).

Os rondonistas chegaram a Ipixuna no início da semana e já enfrentaram problemas como a falta de água, de energia e comida. De acordo com a professora que coordena a equipe da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Tatiana Carneiro de Resende, 37 anos, não houve preparação por parte da prefeitura para receber os estudantes. "O prefeito que foi cassado não estava com tempo para nos receber. Acho que a cabeça dele estava mais voltada para resolver os problemas políticos".

Na terça-feira (10), manifestantes bloquearam a rodovia BR-010, a Belém-Brasília, por algumas horas com pneus queimados. Segundo Tatiana, a tensão entre os rondonistas nesse dia foi muito grande, pois eles viram as manifestações, mas não entendiam o que estava ocorrendo. "Começamos a ser abordados na rua, perguntaram se éramos do partido político que entrou no lugar do prefeito cassado, porque usamos camisetas amarelas".

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A professora acredita que a questão política é muito forte na vida da população do município. "A gente vê que as pessoas estão muito mais ligadas a isso [política] do que à qualidade de vida. Há uma rixa muito grande e eles lutam por isso, em vez de lutar por melhoria na condição social, nos estudos".

Para o estudante de enfermagem da UFU Paulo José Barbosa de Freitas, 20 anos, algumas atividades não puderam ser realizadas porque o local onde as oficinas ocorreriam estava trancado devido à briga política. "A gente veio preparado para enfrentar a falta de estrutura e as carências da população, mas é um jogo político. A gente não imaginou que seria assim. Está bem complicado".

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A cidade de Ipixuna do Pará fica a cerca de 250 quilômetros da capital Belém. De acordo com Paulo Freitas, o município carece de um hospital público, de um bom sistema educacional e de uma defensoria pública permanente. Além disso, o escoamento de esgoto é precário. No entanto, mesmo com os problemas, a população acolheu bem os rondonistas. "O povo acolhe a gente bem, mas a divulgação não foi bem feita", disse o estudante.

Projeto transforma a vida de estudantes universitários

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Viver durante duas semanas em outra realidade social, desenvolvendo atividades com comunidades carentes espalhadas pelo Brasil, é o trabalho de 380 rondonistas, entre estudantes e professores universitários, que participam como voluntários da Operação Açaí, no Pará.

Para a estudante de comunicação social do Centro Universitário Internacional de Curitiba (Uninter),  Alessandra Ferreira, 31 anos, o Projeto Rondon é uma experiência que muda vidas e faz com que os universitários saiam do conforto de suas casas para se deparar com outra realidade. "Sempre vivi em um mundinho muito fechado e o que me motivou a vir trabalhar nesse projeto foi poder ampliar os horizontes. Nesses quatro dias em que a gente está na cidade, acredito que já mudei como ser humano".

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Alessandra e mais 19 estudantes estão desenvolvendo atividades no município paraense de Bonito, a cerca de 145 quilômetros da capital Belém. Eles deixaram o frio de 9 graus Celsius para enfrentar o clima quente e úmido do estado do Pará.  De acordo com o professor do Uninter Jack de Castro Holmer, 27 anos, além da mudança de clima, há uma série de dificuldades, como a falta de água. "Às 19h acaba a água. São 20 pessoas para tomar banho e quando voltam das atividades, não há mais água. Por isso, a gente tem de separar a água. São três garrafas PET por pessoa para o banho da manhã".

A Operação Açaí, que começou no último dia 6, abrange 19 municípios paraenses e conta com a participação de representantes de 38 instituições de ensino superior de nove estados e do Distrito Federal. Durante 17 dias, os universitários promovem palestras e oficinas sobre temas como cultura, direitos humanos, justiça, educação, saúde, comunicação, meio ambiente, trabalho, tecnologia e produção.

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De acordo com a estudante de relações internacionais da Uninter Aline Stéfani Corrêa, 23 anos, o projeto está superando as expectativas. "A gente está trabalhando em equipe, são 20 pessoas que não se conhecem, não têm intimidade nenhuma. Apesar de não ter estrutura aqui no Norte, há muita história de superação. Quando a gente está conversando com as pessoas, achando que vai ensinar alguma coisa, acaba aprendendo muito mais".

Para o estudante de enfermagem da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Guilherme Gomes Silva, 21 anos, o projeto permitiu conhecer um Brasil totalmente diferente. Ele e outros alunos estão trabalhando no município de Ipixuna do Pará. "Eu vi que é possível viver mesmo sem coisas que você considera básicas. A gente está sem água, fica sem luz, mas, mesmo assim, está vivendo".

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As pessoas da comunidade também estão aproveitando a oportunidade. Segundo a dona de casa Ana Júlia Machado Mendes, 38 anos, o Projeto Rondon está sendo gratificante. "A cidade precisa de iniciativas como essa. Pena que as pessoas são muito acomodadas e não dão muita importância"

Criado em 1967 pelo Exército, durante a ditadura militar, o programa foi interrompido por uma ação do governo entre 1989 e 2004, sendo retomado em 2005. De acordo com o coordenador de Operações do projeto, major Sidnei Sérgio Vial, estimular a consciência cidadã e o desenvolvimento local sustentável são alguns dos objetivos do Projeto Rondon. "Queremos dar uma lição de cidadania. Nesse quesito, o resultado é maravilhoso. Os universitários voltam diferentes, mais amadurecidos".

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O Projeto Rondon é realizado duas vezes por ano, durante o período de recesso das universidades. A gestão é feita por um comitê composto por oito ministérios. A Operação Açaí acaba no próximo dia 22. A segunda operação, denominada Capim Dourado, começa neste sábado 14, no Tocantins.

 

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