Porto Sul: um novo desenho no mapa econômico da Bahia?

Empresários e políticos levantaram a suspeita de que a guerra 'ambientalista' deflagrada por artistas globais em defesa da Ponta da Tulha, em Ilhéus, não é tão pueril como os protagonistas quiseram faz



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Empresários e políticos, a começar pelo governador da Bahia, Jaques Wagner, levantaram a suspeita de que a guerra 'ambientalista' deflagrada por artistas globais em defesa da Ponta da Tulha, em Ilhéus, área onde originalmente seria implantado o Porto Sul, não é tão pueril como os protagonistas quiseram fazer parecer.

Ali havia, ao que se disse, não um cântico de amor à natureza, mas sim uma ação orquestrada por segmentos incomodados com a viabilização do projeto. Até porque os tais 'globais' nunca levantaram a voz contra outras 'agressões' bem mais na tampa dos olhos deles, como a sucessão de portos, tanques e tubos da Petrobras que ponteiam a Baía de Guanabara ou mesmo o vasto cabedal de agressões nas cercanias de São Francisco do Conde, a terra da Refinaria Landulpho Alves, onde o ator Lázaro Ramos, um dos 'globais' em apreço, nasceu e se criou. Aliás, a bem da verdade, nem eles, nem a Globo e nem a mídia sulista em geral, todos irrigados com a dinheirama que a Bacia de Campos gera.

Curioso é que o cenário do embate baiano é justamente Ilhéus, a bela Ilhéus, pujante antes da vassoura de bruxa aniquilar o cacau, e hoje sentindo na pele a pobreza que a praga perversa impôs à região. Ilhéus, que nos áureos tempos já teve cinco concessionárias de carros, hoje não tem nenhuma. Não é de graça que os ilheenses mandaram 'os globais às favas'. Em todas as pesquisas lá feitas, o menor índice de aprovação ao porto foi de 81%.

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A pendenga arrefeceu depois que o governo decidiu mudar o lugar do Porto Sul, um pouco mais ao sul da Tulha. Como num passe de mágica, 'os globais' sumiram. No tititi que se seguiu à guerra dos 'estrangeiros notáveis' querendo ditar regras num pedaço de chão bonito por natureza e socialmente combalido por uma desgraça que se alastrou com a virulência de uma peste voraz, se disse de tudo. Até que alguns deles, inclusive os Marinho (os donos da Globo), são donos de terras por lá. Por isso ou aquilo, ficou parecendo que resolveram o problema deles e se deram por satisfeitos. Como se a natureza exuberante no trecho estivesse apenas na Tulha.

OS INDICADORES DA VIRADA

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O que ficou de concreto: ou 'os globais' são os únicos inimigos do Porto Sul, ou são a parte visível dos incomodados com o empreendimento. Para se ter pequena ideia, das 600 mil toneladas da safra de algodão produzidas no Estado, 300 mil são exportadas pelos portos de Paranaguá, no Paraná, ou Santos, em São Paulo (o resto fica no mercado interno). É muito longe, o que encarece os custos de exportação. É exatamente no encurtamento das distâncias que o agronegócio, aí incluso o oeste baiano, vislumbra suas perspectivas de aumento de competitividade. São 700 quilômetros a menos.

Bom para os produtores, ruim para quem vai perder cargas. As cinco milhões de toneladas da produção do agronegócio baiano são poucas para justificar investimentos de tamanha monta, é bem verdade. O novo porto vem azeitado pela abertura de novas fronteiras econômicas nutridas pela expansão da mineração e outros empreendimentos em andamento. Some-se a isso a privilegiada posição do ponto de vista nacional. Ele já nasce grande.

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No conjunto, a Bamin (empresários do Cazaquistão), em Caetité; a WMR (de João Cavalcante com ingleses e norte-americanos); Sulamericana Metais (Votorantim com os chineses), em Grão Mogol (MG); todos produzindo pellet feed (concentrado de ferro), totalizam, conforme as previsões, algo em torno de 70 milhões de toneladas.

A eles devem se agregar a Magnesita, em Brumado, com mais duas milhões de toneladas de óxido de magnésio, talco e outros; a Rio Tinto (Alcoa), em Amargosa, com de 5 a 10 milhões de toneladas de alumina (matéria prima do alumínio). Tais expectativas geram outra: o Porto Sul só vai perder em movimento para Tubarão (Vitória), com 108 milhões de toneladas, e Itaqui (São Luiz do Maranhão), com 85 milhões.

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E mais. Se o algodão do oeste tinha que ir para o sul, o mesmo acontece com os produtores de Goiás, Tocantins e afins. O novo porto será o mais próximo da área central do Brasil. É concorrência nova para a estrutura já existente. O pique do avanço está agora na dependência da crise na Europa. Se ela parar por aí, ótimo para os europeus e para nós. Se avançar, ruim para todos. Mas seja como for, para já ou um pouco mais tarde, uma nova história está sendo escrita.

O NOVO PARADIGMA

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O mapa econômico da Bahia hoje é definido por políticos e economistas como um triângulo. As pontas, os núcleos de onde brotam 70% do PIB baiano, estão na Região Metropolitana de Salvador com o Complexo Industrial de Camaçari, o agronegócio do oeste baiano e a celulose no extremo sul. A Ferrovia da Integração Oeste-Leste (Fiol) está redesenhando esse mapa. Está entrando no miolo territorial do Estado, com o reforço da implantação dos parques de energia eólica.

É algo novo, ainda mais considerando que a indústria da extração mineral na Bahia é relativamente baixa no País e na participação do PIB estadual. Quando os portugueses aqui chegaram, o boom era a extração de madeira (com o pau-brasil à frente). Do extrativismo puro e simples pulou-se para práticas agrícolas com a cana-de-açúcar (lastreada no regime escravista). Daí descobriu-se que o amazônico cacau se dava muito bem num nicho de terras nas cercanias de Ilhéus.

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O cacau ficou senhor absoluto dos ditames econômicos, responsável por 60% da arrecadação do ICMS do Estado até os anos 70, quando o professor Rômulo Almeida idealizou e viabilizou o Polo Petroquímico de Camaçari. A cacauicultura quebrou, Ilhéus (e a região cacaueira como um todo) agora também vislumbram uma chance de enxergar novos horizontes.

O pessoal do governo diz que 'está havendo uma revolução no interior baiano'. Tem a ver. Há investimentos pesados, da ordem de R$ 10 bilhões, no meio do nada. E isso não é pouco.

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