Ponte Rio Negro: o argumento e a publicidade
Já nem lastimo mais o bilhão e coisa, gastos, mas só o custo de manutenção dessa "caprichosa" obra, que deve ser "garantia" de perpetuacão política
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Li em alguma obra que a publicidade é o moderno substituto do argumento, cuja função é fazer o pior parecer o melhor. É o que vai se dar, certamente, com a Ponte sobre o Rio Negro, uma obra faraônica concebida pelo Governo do Amazonas para ligar Manaus a Iranduba, ou como disse em vida o Senador Gilberto Mestrinho, "ligar o nada a lugar nenhum", pelo maior custo por metro quadrado do planeta.
Não vou falar aqui daquilo que todos dizem que houve nessa obra, ou seja, o milagre da multiplicação dos custos para pagar os mesmos pilares, que foram licitados por algo em torno de quinhentos milhões, e que acabou custando - segundo as boas línguas, o dobro e mais alguns milhares de trocados.
Se não houve superfaturamento, coisa que o bom senso repele, houve uma burrice sem precedentes, proposital ou não, no planejamento da Ponte, que mandou os princípios da eficiência e boa gestão dos recursos públicos para o mesmo ralo por onde também resvalam os recursos dos malfeitos, que assombram o Brasil. Ralo, diga-se de passagem, de proporções "amazônicas".
Agora, anuncia-se que o custo de manutenção dessa Ponte, inaugurada justamente no aniversário de Manaus, 24 de outubro, superará um milhão de reais por mês. Mas quando um político abre a boca e diz que é um, pode-se esperar que vem "vezes dois". Ou mais, como se deu com a própria Ponte!
Também se disse que até o final do atual Governo Estadual, que não concebeu a obra, mas terminou e pagou, não será cobrado pedágio, coisa que se ventilava para manter o elefante, digo, o "peixe-boi" branco. Ora, é para isso mesmo que já pagamos uma fauna exótica de mais de sessenta tributos à Nação, ou seja, para ter que pagar para atravessar o rio negro de ponte.
De qualquer sorte, a conta de manutenção será paga com dinheiro do contribuinte, e não de quem teve a brilhante ideia de fazer uma ponte entre duas cidades no meio da floresta amazônica, nas quais faltam ruas, calçadas, leitos para gestantes, médicos, juízes e defensores públicos, remuneração decente para professores, sem falar de transporte público de qualidade, segurança publica 24 horas e 7 dias na semana, praças públicas e quadras poli-esportivas em bairros periféricos, assim como água e luz "em abundância".
Bom. Aqui, em Manaus, não faltava estádio de futebol. Mas derrubaram - literalmente - um inteirinho para fazerem outro no lugar, porque Manaus é, também, cidade-sede da Copa. Portanto, o que é uma pontezinha....
E sequer estou me referindo ao interior do Estado, onde falta tudo aquilo que disse antes, "vezes dois", exatamente como fazem os políticos.
Só de manutenção, se acreditarmos que o "felizardo" que irá ganhar o "presente" - certamente em licitação infensa de vícios como devem ser todas aquelas feitas no Amazonas -, não ganhará, também, os famosos "aditivos", a conta chega a 12 milhões. Ou 24 milhões, ou 36 milhões, enfim....
Agora multiplique, vai lá, só os doze milhões mesmo, que dizem que vai custar, por, digamos, 10 anos!? É muita grana. Ah! Quanta miséria, fome, doença e desemprego poderia ser evitado pelo Governo do Amazonas, se elegesse as prioridades reais da população, para "investir" o dinheiro público.
Já nem lastimo mais o bilhão e coisa, gastos, mas só o custo de manutenção dessa "caprichosa" obra, que deve ser "garantia" de perpetuacão política, por onde a publicidade oficial, também custosa, abafará todos os argumentos.
Dionysio Paixão é advogado e Procurador do Município de Manaus
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