PML: protestos contra Dilma foram um “fracasso”

"É difícil negar que as manifestações de ontem foram um fracasso" porque "ninguém convoca um segundo protesto imaginando que ele será menor do que o primeiro", analisa Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; os números que apontaram menos da metade das pessoas protestando contra o governo indicam que "a melodia agressiva que dominou as redes sociais em março já não era ouvida ontem", diz; resultados também "ensinam", segundo PML, "que a oposição não foi capaz de transformar o impeachment numa causa realmente popular", apesar do "engajamento contínuo dos grandes meios de comunicação", que "mais uma vez tentaram dar às manifestações um caráter dramático e decisivo"

"É difícil negar que as manifestações de ontem foram um fracasso" porque "ninguém convoca um segundo protesto imaginando que ele será menor do que o primeiro", analisa Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; os números que apontaram menos da metade das pessoas protestando contra o governo indicam que "a melodia agressiva que dominou as redes sociais em março já não era ouvida ontem", diz; resultados também "ensinam", segundo PML, "que a oposição não foi capaz de transformar o impeachment numa causa realmente popular", apesar do "engajamento contínuo dos grandes meios de comunicação", que "mais uma vez tentaram dar às manifestações um caráter dramático e decisivo"
"É difícil negar que as manifestações de ontem foram um fracasso" porque "ninguém convoca um segundo protesto imaginando que ele será menor do que o primeiro", analisa Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; os números que apontaram menos da metade das pessoas protestando contra o governo indicam que "a melodia agressiva que dominou as redes sociais em março já não era ouvida ontem", diz; resultados também "ensinam", segundo PML, "que a oposição não foi capaz de transformar o impeachment numa causa realmente popular", apesar do "engajamento contínuo dos grandes meios de comunicação", que "mais uma vez tentaram dar às manifestações um caráter dramático e decisivo" (Foto: Felipe L. Goncalves)


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Por Paulo Moreira Leite

Em comparação com os protestos de 15 de março, as manifestações de ontem foram menores pelo volume e pela geografia. Em várias cidades, os protestos foram cancelados ou nem foram convocados. Em São Paulo, o mesmo DataFolha que apontou 200 000 pessoas nas ruas, há um mês, calcula que ontem o protesto envolveu 100 000. Em outras cidades, onde cálculos mais precisos foram substituídas por estimativas e puros chutes, as reduções também foram notáveis.

O mesmo ocorreu nas redes sociais, informa a consultoria Bites. Se as manifestações geraram 1,3 milhão de mensagens há um mês, esse número ficou em 259 000, ontem -- uma redução de 81%. O uso da palavra impeachment nas mensagens caiu 86% e a palavra corrupção, 85%. Isso quer dizer que a melodia agressiva que dominou as redes sociais em março, já não era ouvida ontem.

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Uma queda dessa dimensão no prazo de apenas um mês, quando nenhum milagre visível se materializou na conjuntura, possui vários significados.

O primeiro é ensinar que a oposição não foi capaz de transformar o impeachment numa causa realmente popular. Se a massa que foi à rua em março expressava o descontentamento dos adversários do governo, as mesmas pessoas foram à rua em abril -- mas a metade nem saiu de casa. Se março deu a muitos analistas a impressão até de que a sobrevivência do governo poderia ser colocada em questão, o 12 de abril retratou um protesto de outra natureza, ainda que isso não deva inspirar festejos exagerados por parte deste governo.

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Afinal, só em São Paulo foram 100 000 pessoas na rua. Mesmo que se possa duvidar da estimativa de que 25 000 pessoas foram à Esplanada, em Brasília, e também em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, seria bobagem negar que em diversos lugares ocorreram manifestações significativas.

Mas a verdade é que ninguém convoca um segundo protesto imaginando que ele será menor do que o primeiro.

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Essa queda na participação aconteceu apesar do engajamento contínuo dos grandes meios de comunicação. Mais uma vez, tentaram dar às manifestações um caráter dramático e decisivo, um evento ao qual o cidadão comum deveria comparecer por razões cívicas -- e não políticas. O apelo à presença de crianças se explica por isso -- mas nem de longe surtiu o efeito esperado. Não custa lembrar que nas semanas anteriores os meios de comunicação fizeram várias reportagens em estilo glamouroso com os organizadores dos protestos. Omitindo cuidadosamente o caráter anti-democrático e fascista de boa parte de seus movimentos, eles eram tratados como jovens celebridades de um novo tempo, uma espécie de simpáticos roqueiros convertidos a anti-PT. No próprio domingo, a cobertura mostrava cenas de cada cidade, logo cedo, num esforço de cobertura típico de eleição presidencial, Copa do Mundo e eventos desse tipo. Era para deixar o cidadão sentindo-se culpado se decidisse não comparecer. O resultado ficou à vista de todos.

Isso aconteceu, em minha opinião, porque o ocorreu uma mudança no debate político das últimas semanas.

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Para começar, foi possível demonstrar, a partir das redes sociais, o caráter golpista de boa parte das manifestações contra o governo. Isso provocou uma justa retração por parte do eleitorado de espírito democrático, que não apoia Dilma por nenhum motivo -- mas não aceita mudar o governo fora das regras estabelecidas pela Constituição. O receio de serem abandonados por esses eleitores levou lideranças que antes disputavam o primeiro lugar dos protestos a tomar distância -- algumas nem apareceram nas manifestações de ontem.

Há um desgaste de outra natureza, também. A presença de estrelas do PSDB na lista de investigados da Lava Jato, mesmo divulgada de forma seletiva e parcimoniosa, teve seus efeitos junto a seu eleitorado.

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Tratado como uma espécie de herói anti-petista pela conquista da presidência da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha passou as últimas semanas pagando a conta eleitoral da agenda conservadora que impôs ao Congresso. A redução da maioridade penal é rejeitada por grandes parcelas da população, em particular aqueles que podem transformar-se em suas vítimas preferenciais -- jovens pobres e negros. Eduardo Cunha, o PMDB e o PSDB fizeram questão de voltar, 72 horas antes do dia do protesto, o projeto de lei 4330, que revoga a CLT, principal conquista histórica dos trabalhadores brasileiros.

Se havia interesse em engrossar as manifestações para encurralar o governo, não poderia haver uma ideia mais contraproducente, vamos combinar.

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Outro aspecto envolve a economia. O ajuste continua sendo motivo de descontentamento do eleitorado que arregaçou as mangas para garantir a vitória de Dilma no segundo turno. E pode é produzir novos descontentamentos no futuro, quando os efeitos do juro alto e dos cortes nos gastos públicos ajudarem a enfriar a economia de verdade. Mas as medidas de Joaquim Levy começam a obter a aprovação real de uma parte dos adversários do governo, o que talvez não transforme os inimigos em aliados, mas contribui para diminuir o ambiente de histeria.

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