Oi zumzumzumzum... Tá faltando um

Ei, Garfield: entra na lata, go home!



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Nunca passou a sombra de um sorriso pela face do Jota. Por isso mesmo o cartunista é tão engraçado. Conheci-o ainda moleque, mas entendendo do riscado como gente grande, no diário Panorama, de Londrina.

Quando minha turma, jornalistas do Rio e São Paulo em pleno sonho de “interiorização da imprensa” no Norte do Paraná, foi apanhada no contrapé, demitida por Paulo Pimentel, Jotinha veio no vácuo para São Paulo.

Aqui retomamos controle do alternativo EX-, o melhor jornal da rua Santo Antônio, no Bixiga, em que me integrei ao grupo. O mensário vinha sendo tocado pelo saudoso Marcos Faerman desde nossa ida para o Norte paranaense -- Marcão partiu para o Versus, outro alternativo de truz.

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E logo no EX-15, Jota disse a que veio, bem na metade dos anos 1970. Numa página simples -- ilustrada com seus próprios cartuns e os de Chico Caruso, Alcy, Marcon e Airton -- assinou manifesto contra o quadrinho enlatado. Pôs-se no meio do ringue, chamou para a briga, provocou já no título:

VAMOS COMER DA NOSSA PRÓPRIA COZINHA?

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Vale a pena ler de novo trecho do curto e grosso manifesto:

“Contra a importação do quadrinho enlatado, vendido a quilo, agente da lavagem cerebral (claro que um Wolinski ou Reiser não é enlatado).

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“Uma questão de mercado: penetrando com seu humor feito em computador, mostrando uma realidade que não é a nossa, os enlatados invadem um espaço que poderia ser dos nossos desenhistas, mostrando coisas nossas.”

A ressalva do Jotinha – claro que um Wolinski ou Reiser não é enlatado – livrava bonito nossa cara. O EX- era feito por um grupo de profissionais que foram ex-tudo (ex-Realidade, ex-Bondinho...), mas que também tinha lançado o Grilo, revista com os melhores quadrinhos do mundo, invenção do Sérgio de Souza. Tudo de fora.

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Naquele tempo, no Jornal da Tarde dirigido por Murilo Felisberto, jornalista completo, com admirável noção de arte, havia uma página inteira de quadrinhos, impecável, em preto e branco. A página do Globo, coloridíssima, não ficava atrás.

Mas era tudo gringo. Lembro de grupo de caras na minha faixa de idade, vestidos à moda dos Beatles, entrando certa tarde no sobrado do EX-, sublocado de um sargento da Aeronáutica. Era o pessoal que fazia a revista universitária Balão, capitaneada pelo Paulo Caruso, que até então não sabia o que ia ser na vida: arquiteto ou gênio.

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O Marcão, que dividia comigo a edição do mensário naquele intervalo, recebeu-os com muita cortesia, mas explicou ao Paulo Caruso que o jornal só tinha espaço para craques internacionais do naipe de Robert Crumb. E assim dispensou um futuro craque de padrão internacional made in Brazil.

De certa maneira, Jotinha estava ali no EX- para não passarmos de novo por esses vexames. Três anos depois, quando a turma do EX- lançou a revista Repórter 3, tentativa de reeditar o sucesso de Realidade, Jotinha estava no barco. Mascote de plantão.

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Jotinha apenas sacou o óbvio: no país de Carlos Estevão, J. Carlos, Millôr Fernandes, Borjalo, Péricles, Jaguar e Cássio Loredano, os quadrinistas nacionais podiam segurar qualquer onda. Revistas como Circo -- do Angeli, do Glauco, do Laerte, do Toninho Mendes – viriam a provar isso.

Na realidade, a gente pode dizer que os quadrinhos vêm dando os maiores saltos vitais da imprensa brasileira. É difícil ir numa capital e não encontrar três ou quatro mais que perfeitos em atividade.

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Pegue-se a página da Folha: Laerte, Angeli, Fernando Gonzalez, Adão, Allan Sieber. Qual deles é o melhor? Fico com um por dia para a minha garantia. O Laerte se expandiu tanto que não coube mais em si. Virou travesti.

Na semana passada, a Folha deu-se ao luxo de dispensar um luxuoso Liniers e seu Macanudo para abrir espaço para Os Malvados de André Dahmer. E assim chegou quase à perfeição. Só falta dar um pé na bunda do Garfield.

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