O trânsito nas grandes cidades
Cada um deve contribuir com seu quinhão para o bem comum. E abrir mão do conforto de ir no seu carro para tomar um transporte coletivo é uma medida necessária
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Em um local público, um morador do Rio de Janeiro, mais precisamente da Barra da Tijuca, proclamava sua revolta com a construção dos corredores para ônibus (Transcarioca e Transoeste). Segundo ele, o projeto é péssimo por vários motivos. Até aí era somente um cidadão, aparentemente bem esclarecido, exercendo seu direito de expressar sua opinião sobre um projeto realizado pelo poder público com recursos arrecadados da população. O que chamou atenção foi quando ele disse “além de tudo, o corredor do BRT vai roubar uma pista dos carros, ainda por cima nós teremos uma pista a menos para andar”. Quando ele afirmou NÓS, já se excluindo do projeto, ficou claro que a solução para os problemas do trânsito nas grandes cidades está longe de ser atingida. Tal pensamento certamente é compartilhado por muitos, que não abrem mão de ir e vir do trabalho com seus carros, afinal NÓS (os seres supremos proprietários de veículos) não podemos andar em transporte coletivo. Reclamar do trânsito nas grandes cidades e ir trabalhar diariamente em seu carro, preferencialmente sozinho, é o mesmo que usar drogas ilícitas e reclamar do poderio dos traficantes que vivem da venda das mesmas.
Cada um deve contribuir com seu quinhão para o bem comum, e abrir mão do conforto de ir no seu carro para tomar um transporte coletivo é uma medida necessária. É claro que o transporte público deve oferecer condições dignas aos usuários, que não deveriam ir e vir do trabalho como sardinhas em lata num metrô ou esperar 40 minutos num ponto de ônibus, fatos infelizmente comuns em grandes cidades brasileiras. A cobrança ao poder público deve ser incessante para a melhoria do transporte coletivo, muito mais do que em algumas obras de viadutos ou alargamento de vias. Se cada um quiser sair com seu carro diariamente, em breve vamos precisar de pistas com 30 faixas para cada lado! E será pouco. Lembrem-se: plantem viadutos e colham engarrafamentos. É assim que funciona!
Duas argumentações interessantes a favor da utilização de transportes coletivos: uma do vlogueiro paulista Daniel Fraga, que afirma “que um carro é uma máquina de uma tonelada, tudo isso para transportar uma pessoa?” Realmente, quanto de matéria prima não se extraiu da natureza para fabricar um carro? Sem falar no combustível para movê-lo. Tudo isso para uma pessoa? A outra argumentação vem do estudo de um médico, que analisando os costumes da sociedade hoje e no início do século XX, constatou que, em média, com a tecnologia e o conforto de hoje, gastamos diariamente 500 calorias a menos, com equipamentos que vão desde o controle remoto da televisão até os veículos automotores. Ou seja, aquela sua hora de corrida na esteira não compensa nem a falta de atividades como caminhar até o ponto de ônibus ou levantar pra trocar de canal.
Como todos dizem por aí, os governos estão recheados de gente incompetente, desonesta etc e tal. Não esperemos soluções mágicas deles para o trânsito, como construção de viadutos ou alargamento de vias. Deixemos o carro em casa no dia a dia e lutemos pela melhoria nos transportes coletivos!
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