O protesto dos jovens é legítimo

E se defendemos um serviço público de transporte coletivo? Temos uma imagem negativa dos serviços públicos por conta da imprensa aliada do governo FHC



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Já li até artigos falando de primavera brasileira! Incrível como algumas pessoas escrevem por vezes bobagens. Acho que o fato de a leitura rápida e mastigada da internet, das redes como Facebook, ou a visualização de vídeos, nos leva às vezes a traduzir com rapidez notícias erradas, sem se preocupar de ir ao fundo da realidade.

Por exemplo, a primavera do mundo árabe que está em efervescência nos últimos anos não tem nada a ver com o que ocorre hoje com os países democráticos. As causas não são as mesmas. O Brasil, por exemplo, foi ditadura e os que lutaram contra a ditadura estão hoje no poder. Ninguém hoje vai ser preso, torturado ou morto por suas ideias. Não dá pra copiar movimentos espontâneos do mundo árabe, em geral sob regime de autarquias, ditaduras, com relações tribais que se conservam. Nem tão pouco as democracias no mundo ocidental são perfeitas. Daí não se pode manipular os jovens árabes sobre a imposição de nossos modelos democráticos. As democracias ocidentais se fragilizam, por exemplo, diante do peso do poder econômico, do mercado que impõe aos governos eleitos democraticamente regras de governança de austeridade. Que obriga certos governos a se desfazerem de suas especificidades próprias, como a questão cultural e outros serviços públicos não considerados como mercadorias e sim como bens comuns.

A direita brasileira, até hoje sem propostas concretas de boa governabilidade, tenta se aproveitar do movimento espontâneo que protesta contra o aumento das tarifas de transporte para manipulá-lo, logicamente. Eles têm nas mãos todos os meios de comunicação para alcançar seus objetivos. Na certa, irão tirar a artilharia pesada para o combate que se apresenta como ideal para sua rearticulação.

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A presidente Dilma se sente acuada diante da multiplicação do movimento. Ela não quis regularizar a pluralidade dos meios de comunicações, talvez, dizem alguns, que ela pensava em conquistar o quarto puder comandado pela Rede Globo! Hoje ela está no foco da mira desta artilharia (leia aqui artigo que escrevi neste sentido no Correio do Brasil e republicado no Brasil 247). Não podemos garantir um debate livre de manipulações ou de direita ou de esquerda sem garantir a pluralidade de expressões.

Os protestos não seriam uma ocasião para os políticos de todas as tendências discutirem sobre as causas do aumento do custo de vida no Brasil? Sobre o caos dos serviços de transporte coletivos nas cidades brasileiras? Seria uma ocasião para os jornalistas alertarem a opinião pública sobre este caos. Abriria um campo de debate sobre a problemática de nossas desumanas cidades.

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Até parece que certos jornalistas esqueceram que o Brasil é federalista, seus Estados são autônomos e podem regular sobre a política de transportes. Basta buscarem e verificar as competências de cada poder, quem regula os preços e como se dar a negociação. Com que critérios se definem os preços dos transportes coletivos?

A direita que governou durante muitos anos o Brasil e que teve maioria em todos os Estados sempre defendeu a privatização das políticas publicas. Já se esqueceram dos governos de FHC? A imprensa aliada do governo FHC passou uma imagem negativa dos serviços públicos, logicamente que no Brasil estes serviços foram abandonados, mas como eles queriam privatizar tudo, eles passaram a dizer que todo serviço público não presta, para ter qualidade tem que privatizá-lo! Nenhum governante de direita defende um serviço público de qualidade, exemplo: de transportes coletivos de qualidade. Quem conhece a França sabe por que os franceses defendem e fazem greve pra preservar este serviço.

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Quanto aos políticos de centro-esquerda, hoje no poder federal e, em alguns Estados, eles não tiveram até agora vontade política de desenvolver verdadeiras políticas públicas, seja de transportes coletivos, seja de saúde, educação ou de assumir a defesa uma urbanização mais humana das cidades brasileiras. Uma política pública de transportes não quer dizer somente nacionalização, o governo municipal pode realizar concessões para o transporte privado. Mas ele não pode fazer sozinho, o prefeito tem que se articular com o Estado, eles atuam em conjunto. Eles podem fazer parcerias público-privadas, todavia, cabe ao governo federal, estadual e municipal desenvolver verdadeiras políticas setoriais que atendam melhor à população carente. Os estudantes, por exemplo, na grande maioria, dependem de transporte coletivo. O governo pode regular os preços.

O Estado deve ter um papel regulador no mercado? Perguntem aos adeptos dos governos de direita, dos que detêm o poder econômico e midiático se eles estão de acordo. Eis aí uma pista para o bom debate a ser lançado com os jovens que protestam, e com toda a razão!

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