O pequeno príncipe

Não é o caso de fazer justiça social em cima de Thor Batista, mas, como diria Saint-Exupéry, és responsável pelo que atropelas



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Vamos de pequeno príncipe que o assunto é básico. O filho do homem mais rico do país atropelou um operário de bicicleta com sua McLaren. É simbologia demais pra gente resistir à tentação de fazer justiça social em cima do rapaz. Thor Batista deixou seu planeta para agitar as coisas na Terra e agora vai responder pelas desigualdades do mundo em nome dos bilionários.

Não questiono a legitimidade da desforra. Se há uma ira concentrada (e é evidente que há), nada mais normal que externá-la quando o alvo se expõe. Thor vacilou e, como diria Saint-Exupéry, és responsável pelo que atropelas. Mas mesmo o justiceiro social há de convir que Wanderson dos Santos também vacilou, também é responsável, e não apenas por ter bebido antes de ser atingido.

Usar uma bicicleta hoje nas pistas brasileiras é, mais do que uma forma de se locomover, um ato político, mesmo no caso de Wanderson, que não deveria ter outra opção de veículo. Assim como tantos ciclistas que morrem nas ruas das grandes cidades ou em rodovias toda semana, o ajudante de caminhoneiro tinha o direito de trafegar dessa forma, mas assumia o risco de ser acertado por algo bem maior.

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Culpa? Bem, aí a questão é jurídica. Os entendidos já adiantaram que o fato de o pedestre/ciclista estar embriagado não anula a norma que obriga o veículo de maior porte a proteger o veículo de menor porte. Partindo do pressuposto de que nenhum dos dois pretendia se envolver no acidente fatal e levando em conta que a família Batista tem seguido o protocolo à risca (com promessa de auxílio e até missa rezada em homenagem ao falecido), eu perguntaria: como pode um cidadão trafegar por uma rodovia em um carro de corrida?

Sei que ele pode (do ponto de vista do dinheiro, talvez até deva), mas só eu acho esquisito essa história de acelerar com um pé e frear com o outro no meio da rua? Não te parece bisonha a ideia de um Aston Martin catando buraco na Avenida Brasil ou tendo toda sua potência submetida ao engarrafamento gerado pela lentidão de um caminhão transportador de gado?

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Pode ser só inveja – consideremos essa possibilidade –, mas isso, pra mim, não faz sentido. É coisa de outro mundo. É como, sei lá, o cara declarar a quem quiser ouvir que leu seu primeiro livro aos 20 anos. Nem “O pequeno príncipe”, Thor? Você vai dizer que não tem nada a ver, mas aqui embaixo as leis são diferentes. A gente combinou de pelo menos fingir algum constrangimento de vez em quando. Pode facilitar as coisas pro teu lado – você viu que a turma pega pesado.

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