O índio e o deputado Bolsonaro - uma história de bastidores

O capitão da reserva, deputado pelo Rio de Janeiro, hidrófobo e sociopata Jair Bolsonaro é de uma demência sem par e de um "tirocínio" ímpar. Ele não entende que o Brasil é uma das três maiores e estáveis democracias do mundo



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Parte 1 — O capitão, a bomba, a saudade do indesculpável

O capitão da reserva, deputado federal pelo Rio de Janeiro (ele é paulista de Campinas), hidrófobo e sociopata Jair Bolsonaro é de uma demência sem par e de um "tirocínio" ímpar. Soube de sua existência, pela primeira vez, no ano de 1986, quando ele, acometido de hidrofobia, reivindicou aumento salarial por meio de ameaça de detonar uma bomba na Vila Militar de Deodoro, bairro da Zona Norte do Rio, onde ele era aluno da ESAO.

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O capitão provoca a esquerda e os parentes dos mortos.

Logo após seu jogo insano, a revista "Veja", conhecida também como a Última Flor do Fáscio, publicou matéria com o soldado pit bull descontrolado, quando ele demonstrou seu radicalismo, extremado à direita, o que o fez ser, definitivamente, detestado pelos oficiais generais da época, que o consideravam um louco, insubordinado e por isso o colocaram, durante 15 dias, na cadeia. 

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A atitude do comando da época, que fique claro, não se deu por causa da ideologia direitista do capitão, até porque generais são politicamente conservadores. A questão principal foi a insubordinação, a indisciplina e a conduta do oficial, que atacou seus superiores de farda, deu entrevista sem autorização e optou pela violência por causa de soldos, que ele considerava baixos.

O ex-ministro do Exército do presidente Sarney, general Leônidas Pires Gonçalves, o classificou (palavras oficiais do general publicadas na imprensa) "como um indigno de um oficial do Exército, devido à sua postura problemática e à indisciplina na carreira". Logo depois, o capitão integralista sem noção e insensato foi para a reserva remunerada. 

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A seguir ele recebeu convite para ingressar na política. Bolsonaro se elegeu deputado federal por vários partidos de direita, a exemplo do extinto PFL, herdeiro da Arena, e do PRP, agremiação nanica e de aluguel. Como candidato recebeu os votos, primeiramente e por muito tempo, dos militares reformados de baixo escalão (soldados, cabos, sargentos, suboficiais, além dos votos das mulheres viúvas e pensionistas humildes desses militares de graduação baixa). 

Atualmente, sabe-se que já há algum tempo muitos militares reformados de escalões superiores e até mesmo da ativa votam nesse político de performance medíocre, extremista e de atuação parlamentar polêmica, que tem saudade dos tempos dos combates (que ele nunca participou) da década de 1970 entre os governos militares e a esquerda armada.

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Contudo, muitos militares e pensionistas não votam nele, porque sabem que o Bolsonaro não é sério, nunca foi e nunca será. O deputado tem saudade do que ele não participou: a época da repressão contra os grupos de esquerda (somente para ficar nisso), porque, simplesmente, não tinha idade para ter participado desse tempo. Ainda bem. E sabem por quê? Porque se ele é realmente o que aparenta e diz ser (Bolsonaro pode ser um fanfarrão), possivelmente seria integrante de órgãos como DOI-CODI, Dops, Cisa, Cenimar e Ciex. Aí, eu pergunto: o que ele faria com os prisioneiros?

Parte 2 - O capitão vira deputado, observações do repórter

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Estou a comentar sobre o deputado Jair Bolsonaro porque considero sua atividade política uma ofensa e violência contra a condição humana. Lembro que há alguns anos ele deu ao CQC uma entrevista lamentável em todos os sentidos, principalmente no fim do que podemos chamar de colóquio esdrúxulo e infame. Porém, quero informar uma coisa: logo após saber da existência do Bolsonaro, em 1986, fui para Brasília em 1988 e fiquei a morar naquela cidade por longos 20 anos.

 

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Luto por Pinochet: provocação barata e contra a democracia. 

Em Brasília, trabalhei como jornalista na imprensa de mercado (Correio Braziliense, Jornal de Brasília, Correio do Brasil, BSB Brasil, os dois últimos extintos, além da Tribuna da Imprensa - sucursal) e no setor público, sempre na área de política, inclusive a cobrir o Congresso. 

Como se percebe, não tinha como eu não conhecer, pessoalmente, o capitão e deputado Jair Bolsonaro. Fui responsável por uma coluna militar que era publicada no jornal diário "BSB Brasil". Deram-me a coluna. Não a pedi. O nome da coluna era "Vida Militar". Tinha outra coluna, no mesmo jornal, que era dedicada aos servidores civis. Outro colega a escrevia. Era o ano de 1991. 

Como a minha coluna era para os servidores militares, obviamente que um dia eu iria conhecer e escutar, infelizmente, o Jair Bolsonaro — o Capitão Bomba! Fui ao gabinete dele para falar de sua luta pelos reformados, viúvas e pensionistas, no âmbito militar. Ele quando fala e fica nervoso engole as sílabas. Mesmo quando se acalma, não fica, aparentemente, calmo. É como se, de repente, pudesse acontecer algo inusitado.

Suas mãos são inquietas e seu olhar direto e agudo. Xingava o ex-presidente Collor e seu governo. Ofendia o ex-presidente Sarney, e, como não poderia deixar de ser, atacava, de forma virulenta, toda a esquerda. Estava iniciando seu primeiro dos seus seis mandatos e ainda estava a conhecer a Casa Legislativa. Bolsonaro também xingava os generais e dizia para mim que eles eram uns borra-botas, uns covardes, que entregaram o governo aos civis e que, portanto, não os respeitava. 

A minha coluna era sobre a vida militar. Escrevia sobre reivindicações, aposentadorias, aumento de salários, eventos, estratégias para aprovar projetos, tanto nas áreas trabalhista quanto na profissional. Comentei com o meu editor sobre as palavras do Bolsonaro e ele me disse, e com razão: "Davis, o que ele afirmou pra você é o que ele fala em público, inclusive na tribuna do plenário". Era verdade.

Bolsonaro sempre xingou desde quando ameaçou detonar uma bomba na Vila Militar, no já longínquo ano de 1986. O capitão sempre se mostrou intolerante, inclusive com conotação racial, como comprova o vídeo da entrevista para o CQC (http://www.youtube.com/watch?v=y8imZAGzO_c). O político do PP sempre demonstrou ser contra os índios, as cotas, as esquerdas, a democracia, as mulheres, os pobres, os sem terra, os trabalhadores sindicalizados ou não, os gays e todo e qualquer grupo social que reivindica visibilidade, igualdade de direitos, inclusão social e proteção contra as agressões, ou seja, a luta pela conquista de plena cidadania.

Parte 3 — Truculência como atividade política

Após 30 anos das primeiras eleições para governadores (1982) e a queda da ditadura militar, o mezzo-fascista Jair Bolsonaro continua a "guerrear" na Guerra Fria, tal qual um dinossauro fora de seu tempo ou como um general ou coronel aposentado do Grupo Guararapes, a destilar ódios quixotescos e a destratar grupos sociais da maneira mais sórdida, pérfida e cruel possível. Poder-se-ia dizer que Jair Bolsonaro é um homem mau.

 

Deputado carrega faixa em que pede o fechamento do Congresso.

Tenho motivos para considerá-lo assim. Em maio de 2008, se não me engano, na Comissão de Relações Exteriores, Jair Bolsonaro, de forma abrupta e mal-educada interrompeu a audiência pública que tratava das terras indígenas da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Estava presente à reunião o ministro da Justiça e hoje governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, deputados, policiais da PF, os arrozeiros (fazendeiros) que queriam continuar nas terras dos índios, bem como, evidentemente, jornalistas e os maiores interessados: os índios.

Era uma reunião tensa, por causa dos diferentes interesses e protagonistas. Fui designado pelo deputado Urzeni Rocha, do PSDB de Roraima, para cobrir a sessão. O parlamentar defendia os interesses dos "homens brancos" na região. Assessorei o tucano pelo tempo de dois meses. Foi difícil trabalhar para ele esse tempo, mesmo curto ou pouco, apesar de exercer meu ofício de forma técnica e profissional, além de ideologicamente ser antagônico ao deputado. São os paradoxos que se apresentam no decorrer da vida.

A radicalização estava no ar. Sentei-me na última fila das cadeiras da Comissão, que estava muito cheia, porque a briga em Roraima estava feroz, e, além disso, o governador de Roraima era do DEM, o pior partido do mundo, o que, sobremaneira, contava muito para que a situação no estado amazônico estivesse crítica, literalmente em pé de guerra. 

Como todo mundo sabe, onde o DEM (ex-UDN, Arena, PDS, PFL) pisa não nasce grama. É mais ou menos como a cavalaria de Átila - o rei dos unos. Os tucanos trilham o mesmo caminho (vide o fracasso da ex-governadora Yeda Crusius, no Rio Grande Sul, e a cúpula paulista e mineira). Que glória, não? Bem, voltemos ao assunto. Estou na última fila a acompanhar a sessão. Quando olho para a fila da frente vejo o capitão Jair Bolsonaro, o irriquieto deputado a balançar a cabeça e a olhar ferozmente para o ministro da Justiça, Tarso Genro. Pensei: "Vai dar merda! O boçal está presente".

Dito e feito. O capitão considerado indigno para o Exército, eleito com a maioria dos votos do segmento da família militar mais humilde, começa a bramir, a vociferar, a brandir... Voz altissonante que rasga o espaço e interrompe a fala do ministro Tarso Genro, que apesar de estupefato se mantém calmo, e ouve a seguinte provocação do ex-militar: "Terrorista!... Você participou de grupos terroristas"... 

Começou o bate-boca. Tarso Genro disse que os fazendeiros (arrozeiros) anteriormente atacaram os índios e o posto da Polícia Federal. O ministro contra-argumentou: "Isto é terrorismo!" Bolsonaro replicou: "Terroristas são os que invadem terras!" É a direita sempre a favor do establishment. Chegou a turma do deixa disso e a discussão acabou, por enquanto... Um índio de Roraima, muito revoltado, que estava em pé atrás da última fila de cadeiras onde eu estava sentado, jogou um copo d'água nas costas do Bolsonaro. O deputado partiu para cima do índio, completamente atordoado e alucinado — a vociferar.

A Polícia Legislativa o segurou e pediu para que o trepidante parlamentar se acalmasse. Eu olhei para o deputado e percebi que ele estava muito suado e ofegante. Ele rapidamente se retirou do recinto. Tinha conseguido o que queria: ofender o ministro Tarso Genro, defender os fazendeiros (os verdadeiros invasores) e talvez adiar o processo de retomada das terras pelos indígenas, o que não aconteceu.

O Governo Lula não deixou. É assim que a banda toca na política. Na Câmara não há espaço para inocentes. Os grupos econômicos são poderosíssimos e têm o apoio, irrestrito, da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?). A luta política é árdua, cruel e cansativa. Todos, na Comissão, por alguns minutos se calaram. Aconteceu uma pausa e a sessão foi reiniciada.

Parte 4 — Confusão ideológica e a direita raivosa

Jair Bolsonaro é recorrente quando se trata de agredir seus adversários ou as pessoas as quais ele considera como inimigas de seus valores ou ideologia. Sua conduta é essa. Ele é nitidamente confuso. Sua personalidade parece ser bipolar. Trata-se de um brucutu. Conheci militares educados, alguns muito tímidos em sociedade, além de serem liberais no que concerne à educação dos filhos e à visão de mundo.

 

Após forte discussão, o direitista se mostra atordoado e transtornado.

Existem civis brucutus tão ou mais que o Bolsonaro. Se eu fizesse uma lista desses civis não terminaria hoje. Acontece que o ex-militar é o fim da picada. Tem a sensibilidade de um elefante dentro de uma loja que vende cristais. Entretanto, o pior nele é a burrice. Não que ele seja o burro tradicional. É outro tipo de burrice: a da falta de sensibilidade, percepção e abstração — também conhecida como inteligência espacial e emocional. 

A burrice de não perceber que o Brasil mudou, pois a sociedade brasileira é outra, porque vivemos em outros tempos e por isso não cabe mais neste País, a sexta economia do mundo, fazer política com truculência, ameaças, xingamentos e intimidações, principalmente contra os diferentes grupos étnicos e sociais, minoritários ou não, que vicejam no Brasil.

O deputado Jair Bolsonaro não entende que o Brasil é uma das três maiores (Estados Unidos, Índia e Brasil) e estáveis democracias do mundo. Tanto não compreende que vou mostrar o que ele afirmou - a quem quisesse ouvir - após o burlesco e agressivo episódio com o índio

"É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens".

Não é necessário falar nada... Não concordam? Ele age também com esse mesmíssimo desprezo contra outros grupos étnicos e sociais. É recorrente o nosso pequeno Mussolini, movido pelo ódio e pela destemperança.

Enfim, chego à conclusão que o Bolsonaro conseguiu o que queria. Depois de se mostrar intolerante com todo mundo na entrevista dada ao CQC e com isso aparecer para os grupos que o elegem, o deputado teve problemas para enfrentar. A Comissão de Ética da Câmara e a OAB, posteriormente, pediram sua cassação, o que não ocorreu.

Ele percebeu a seriedade do seu caso, tanto que na época solicitou ao Conselho de Ética que o ouvisse sobre os fatos. Até hoje, porém, nada foi feito contra o parlamentar de extrema direita pelos órgãos fiscalizadores do Parlamento, no que concerne ao decoro parlamentar, que ele ultrajou dezenas de vezes ao longo de seus mandatos.

Finalmente, faço as seguintes perguntas que não querem calar: E o índio? O que aconteceu com ele? Juntamente com alguns repórteres fui ao encontro dele. Sem combinarmos, perguntamos: "Por que jogou água no deputado?" O intrépido índio respondeu: "Peguei um copo d’água e joguei nele porque não tinha flecha!”. É isso aí.

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