'Não vamos voltar ao bela, recatada e do lar', diz ministra Cida Gonçalves
"Nenhuma de nós que estamos nos espaços de poder, nos lugares que ocupamos, queremos sair desse lugar para voltar para dentro de casa", disse a ministra das Mulheres
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Rede Brasil Atual - A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marcou um ponto de inflexão na história do país que já não vai permitir mais a diminuição da mulher como “bela, recatada e do lar”, avalia a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Reconhecida pela vida dedicada às causas femininas, a ministra foi a convidada da edição desta quinta-feira (23) do programa Entre Vistas, na TVT, apresentado por Juca Kfouri. O jornalista fez referência à manchete de um veículo da mídia corporativa, após a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), em abril de 2016, para destacar o perfil da mulher do então vice-presidente, Michel Temer, Marcela.
Ali, de acordo com Cida, estava claro que frase era para impor qual deveria ser o lugar da mulher, e que não era na presidência da República. “Mulher ‘não pode’ ser uma mulher gestora, comprometida e não corrupta, como era a presidenta Dilma. A mulher (nessa visão) ‘tem que ser’ aquela que fica sempre ao lado ou atrás do marido, cuidando da casa”, disse a ministra.
Cida destacou que o Brasil “retrocedeu muito” desde o golpe que levou o golpista Michel Temer ao poder. Retrocesso que foi aprofundado pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, do governo que veio depois, de Jair Bolsonaro (PL).
“Para piorar vem a ministra Damares dizer que ‘mulher veste rosa e homens, vestem azul’. Você vai voltando a uma simbologia de onde é o lugar e o espaço da mulher”, observou Cida. “E ao mesmo tempo que eles vão falando isso, eles vão diminuindo o poder e o espaço das mulheres, tanto no governo quanto na política. (…) Eles vão criando alguns estereótipos que vão fortalecendo outros sobre onde é o lugar das mulheres, (que para eles) não é na política, não é na vida pública e nem tendo ascensão profissional no mercado de trabalho”.
Desigualdades raciais: outro alvo
“Então piorou e piorou também com as medidas feitas. As mulheres foram as que mais sofreram durante esses últimos seis anos. Teve o fim de todas as políticas de enfrentamento da violência contra as mulheres. (Teve o) fim da discussão sobre autonomia. A PEC 95 (do teto de gastos) trouxe para as mulheres um peso, porque são elas que sofrem com (aumento do) número do desemprego. (São as) que sofrem mais a miséria, que têm dupla, tripla jornada de trabalho. A questão da reforma da Previdência, que aumentou para 62 anos (a idade mínima para a aposentadoria das mulheres). (…) Você nega todo um processo do que é a vida das mulheres hoje na humanidade”, recorda a ministra sobre os últimos seis anos.
Cida Gonçalves frisa que combate às desigualdades de gênero é uma das prioridades do governo Lula. Ela cita que, neste mês de março, Mês das Mulheres, foi lançado um pacote com medidas interministeriais sobre o tema. Entre as principais, estão a que estabelece igualdade salarial entre homens e mulheres, a qualificação e inclusão delas no mercado de trabalho e o combate a todas as formas de violência de gênero.
Contudo, o objetivo da pasta, disse a ministra, é “atender as diferentes mulheres”, em toda a sua diversidade e especificidades. A começar também pela luta antirracista. “É importante dizermos que precisamos enfrentar o racismo e a misoginia de forma separada, sabendo que as mulheres negras também são as que mais sofrem misoginia”, ressalta.
Espaços conquistados e ampliados
Cida adverte que esse “ódio” às mulheres, por serem mulheres, que permite o feminicídio, não é só o corporal, com também simbólico. Como acontece em casos de violência política com aquelas que se dispõem a estar nos espaços de poder, perseguidas e ameaças ao entrarem na política.
“Querem tirar essa espaço das mulheres (…) conquistado por muita luta durante séculos, não é um espaço que foi dado. O movimento de mulheres lutou e lutou muito. Nós tivemos mulheres que foram assassinadas, queimadas para que pudéssemos hoje estar onde estamos.”
É por esse espaço alcançado que elas lutam para se firmar, como concluiu a ministra, chamando atenção para a necessária colaboração dos homens. “Nenhuma de nós que estamos nos espaços de poder, nos lugares que ocupamos, queremos sair desse lugar para voltar (exclusivamente) para dentro de casa. Nós precisamos que os homens venham para dentro de casa dividir com nós as tarefas domésticas, que nos ajudem a construir um processo diferente, igualitário e democrático no Brasil”.
“Esse é o desafio que estamos propondo. Em nenhum momento essas mulheres que estão nos espaços de poder estão querendo tirar os espaços dos homens. Nós queremos construir uma sociedade com igualdade e equidade de gênero”, encerrou.
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