“Mexam-se”, exorta criador do #impitimanÉmeuzovo

Quem são e o que pensam os foliões Maurição, Alice, Carolina e Eduardo, que, numa manifestação totalmente espontânea, forjaram a hashtag do ano e deram vez e voz a milhões de brasileiros que não aprovam o movimento tucano midiático pela deposição da presidente Dilma Rousseff (PT); “Esperamos que essa ideia seja enterrada”, diz o corretor de seguros Eduardo; “Aproveitamos o Carnaval para denunciar a ação golpista contra um governo escolhido pelo povo, referendado há menos de quatro meses e que tem como prioridade ações voltadas para os mais necessitados”, alega o bancário Maurição; a expressão “é meu zovo”, no Nordeste, significa “não tem credibilidade, não vai acontecer”

Quem são e o que pensam os foliões Maurição, Alice, Carolina e Eduardo, que, numa manifestação totalmente espontânea, forjaram a hashtag do ano e deram vez e voz a milhões de brasileiros que não aprovam o movimento tucano midiático pela deposição da presidente Dilma Rousseff (PT); “Esperamos que essa ideia seja enterrada”, diz o corretor de seguros Eduardo; “Aproveitamos o Carnaval para denunciar a ação golpista contra um governo escolhido pelo povo, referendado há menos de quatro meses e que tem como prioridade ações voltadas para os mais necessitados”, alega o bancário Maurição; a expressão “é meu zovo”, no Nordeste, significa “não tem credibilidade, não vai acontecer”
Quem são e o que pensam os foliões Maurição, Alice, Carolina e Eduardo, que, numa manifestação totalmente espontânea, forjaram a hashtag do ano e deram vez e voz a milhões de brasileiros que não aprovam o movimento tucano midiático pela deposição da presidente Dilma Rousseff (PT); “Esperamos que essa ideia seja enterrada”, diz o corretor de seguros Eduardo; “Aproveitamos o Carnaval para denunciar a ação golpista contra um governo escolhido pelo povo, referendado há menos de quatro meses e que tem como prioridade ações voltadas para os mais necessitados”, alega o bancário Maurição; a expressão “é meu zovo”, no Nordeste, significa “não tem credibilidade, não vai acontecer” (Foto: Realle Palazzo-Martini)


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Míriam Morais, especial para o Brasil247

Foi uma única cena, uma tomada externa marcando o início do Carnaval em Fortaleza com transmissão ao vivo no Jornal do Meio Dia, sábado, 14, na repetidora Globo na Capital do Ceará.  O repórter falou por poucos minutos, mas era ao vivo.

Em questão de minutos a cena percorreu o Brasil por meio das redes sociais. É verdade que o Carnaval de Fortaleza empolga, mas a inusitada entrada em cena de três pessoas que tranquilamente dançavam em torno do repórter com singelas folhas de papel com uma frase impressa surpreendeu pelo tamanho do alvoroço. O que parecia ilegível a princípio, encontrou o ângulo certo diante da câmera e o recado irreverente foi decifrado: “Impitiman é meu zovo”.

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Teria sido uma exibição programada? Dificilmente, já que as equipes de TV não anunciam com muita antecedência o local das tomadas. A tranquilidade dos três travessos também chamava a atenção. Nada da agressividade, palavrões ou ofensas que se viu nas ruas em junho de 2013. Nada de caras e bocas nem gestos agressivos para as câmeras. Eram apenas foliões, no clima da festa, mandado em paz seu recado.

No dia seguinte, o jargão contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) foi a hashtag mais reproduzida não apenas no Brasil, mas em todo o planeta, alcançando os trendind topics mundial.

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E foi assim que, graças a um conjunto de coincidências, quatro cearenses se tornaram o acontecimento político mais relevante da temporada.

Cenário político

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Logo após a posse de Dilma os boatos sobre um impeachment vem ganhando força, especialmente após o jurista tucano Ives Gandra Martins afirmar que um emissário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lhe consultou a respeito da possibilidade jurídica de uma ação via tribunal. O senador por Goiás Ronaldo Caiado (DEM) também discursou na tribuna pedindo a penalidade máxima à presidente, assim como outros políticos do cenário nacional.

Não era, no entanto, os pronunciamentos que mais induziam à constatação de que uma estratégia pelo impeachment estava em curso. O maior indicador foi a gradativa evolução das peças no quebra-cabeças político. A Operação Lava Jato, conduzida pelo juiz Sérgio Moro, com ligações conhecidas com o tucanato, incrimina diversos políticos do alto escalão do PMDB (assim como do PSDB, DEM e PT); mas, de todos, Eduardo Cunha era o mais atolado em denúncias. Foi com o apoio do PSDB que Cunha venceu as eleições para a Presidência da Câmara e uma de suas primeiras medidas foi a abertura da CPI da Petrobrás.

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Ocorre que é de conhecimento público que um inquérito como a Lava Jato, de natureza criminal, não resulta em impeachment. Para que o pedido seja encaminhado ao STF, ele precisa ter início numa CPI. Somando-se a estes fatores, a imprensa paulista, tucana por fatores geográficos, ideológicos e financeiros, passou a tecer loas ao STF, numa mensagem mais explícita no editorial da Folha de São Paulo que afirmava repousar no STF a esperança do Brasil.

O arranjo parecia inevitável. Com amplo espaço na imprensa para os pró-impeachment e sem muitos veículos de comunicação dispostos a divulgar a voz dos contrários ao arranjo, as redes sociais tornaram-se uma das poucas vias de expressão dos que apoiam o governo Dilma.

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Jornais anunciavam uma sexta-feira 13 sombria para o governo, o que de fato se confirmou com o avanço dos ataques sob a batuta do juiz que orquestra a mais divulgada de todas as investigações secretas já registradas. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi impedido de obter informações na esfera do Judiciário. Só podia conhecer o teor dos depoimentos secretos através da imprensa, numa incoerência que permanece ainda sem explicação.

O último e revelador movimento foi o início da campanha do PMDB pela televisão, onde o vice-presidente Michel Temer anunciava de forma dúbia que no próximo dia 26 o partido se colocaria “a favor do Brasil”. Para os conhecedores do meio político, soava como um teste de aceitação de uma decisão ainda não anunciada.

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O PMDB, com tantos nomes envolvidos na Operação Lava Jato, tem uma escolha difícil pela frente. O arquivamento da denúncia sobre o escândalo de corrupção do metrô, pelo STF, mostra o destino que as denúncias da Lava Jato podem ter, caso o PMDB se alie aos tucanos. E, obviamente, do outro lado, está a recordação dos petistas presos pelo mensalão, uma denúncia que também foi despachada do STF para a prescrição quando se tratava dos tucanos.

Resta ao partido escolher se enfrentará a população contrária à deposição da presidente ou o enfrentamento da Justiça, uma legítima “escolha de Sofia”.

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Somente entendendo o cenário torna-se possível compreender o impacto do hashtag “#impitimanémeuzovo”. Através de uma frase irreverente, os contrários à estratégia ganharam voz. As milhares de manifestações mostraram aos tucanos e ao PMDB que a resistência reúne uma imensa camada de brasileiros que definitivamente não aceitam a deposição da presidente recém eleita. O recado foi enviado, recebido e compreendido. A expressão “É meuzovo”, no Nordeste, significa “não tem credibilidade, não vai acontecer”.

Repercussão do ato

Após a repercussão do movimento #ImpitimanÉmeuzovo, que se tornou jargão do movimento de resistência e marca do Carnaval 2015, a curiosidade sobre os autores foi crescente. Quem eram? Como planejaram uma ação como aquela numa cidade enorme como Fortaleza, quando as equipes de TV poderiam fazer a cobertura em qualquer lugar? De quem partiu a ideia?

A entrevista que se segue responde a essas e outras perguntas. O que já se sabe, de antemão, é que Maurição (o criador), Eduardo Bandeira, sua namorada Carolina Amorim e a mãe dela, Alice Cristina, não impediram que a sexta-feira sombria  de Dilma Rousseff acontecesse, mas deram a ela o presente da antecipação do sábado de aleluia que chegou mais cedo, trazendo verdadeiros ovos de páscoa, que significam uma passagem dos tempos de trevas para o tempo da luz.

QUEM SÃO ELES?

O QUE PENSAM OS FOLIÕES QUE DERAM VOZ AOS BRASILEIROS SEM ACESSO AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO?

Alice Cristina, bancária, e residente em Fortaleza

"Pra mim, o significado de participar desse ato, mostra que todos somos construtores da história."

Carolina Amorim, bancária, e residente em Fortaleza

"Não planejávamos aparecer em matéria alguma, apenas fomos a um bloco de carnaval com amigos e familiares. Já havia compartilhado no facebook a frase, pois Maurício postou na semana anterior. Ficamos sabendo da tomada ao vivo no momento em que chegamos ao bloco de carnaval. Mauricio levou os papéis com a frase impressa, e a partir daí ficamos aguardando o link ao vivo. Nos dispusemos a participar da brincadeira, pela alegria do momento e por nosso posicionamento político. Aguardando o link da globo, ficamos preocupados se realmente conseguiríamos evidenciar a frase. Jamais imaginávamos a tamanha repercussão de nossa trolagem carnavalesca."

Eduardo Bandeira, corretor de seguros, e residente em Fortaleza

"Me senti alegre e principalmente surpreso com a abrangência que conseguimos através de mais uma das nossas brincadeiras de carnaval. Esperamos que, diante de tanto prestígio, a ideia de impeachment seja enterrada, como muitos jornalistas de renome e influência nacional alardeiam. Descredibilizar a trama arquitetada pelo candidato derrotado, pela direita e pelos chamados 'coxinhas'. Desejamos motivar os demais apoiadores da presidente a exporem sua posição, defendendo seu mandato em todos os espaços." 

Maurício Lima, bancário, jornalista por formação, residente em Fortaleza

Quem é Maurício Lima? 

Prefiro ser tratado como Maurição, apelido que carrego há décadas. Sou um jornalista fora da redações e do exercício diário da profissão. Vivo como bancário de banco público - concursado - há mais de 30 anos.  Um militante com idéias próprias quem nem sempre se encaixam nos padrões. "Cidadão comum, como esses que se vê na rua", como diz a música do conterrâneo Belchior. Sou casado, pago meus impostos, vou deixar os filhos no colégio, tomo cerveja, gosto de samba...

Fui filiado ao PT, deixei de ser por um problema burocrático e assinei nova ficha recentemente. Não tenho saco de participar de nenhuma corrente nem de buscar cargos na hierarquia partidária. A cada eleição, reúno-me com um grupo de amigos e decidimos em conjunto quais os candidatos que apoiaremos. Tem sido assim há muito tempo. 

Como é não se desligar da política nem na folia do Carnaval?

Não tenho o perfil de militante full time nem passo o dia fazendo ou discutindo política, embora goste muito do tema. O carnaval sempre foi usado para denunciar ou criticar. Está na tradição do carnaval brasileiro fazer crítica social. Por isso, aproveitamos o carnaval para  denunciar a ação golpista contra um governo escolhido pelo povo, referendado há menos de quatro meses e quem tem como prioridade ações voltadas para os mais necessitados. Por isso o defendemos. Creio na ação política como prática cotidiana e busco fazer política com prazer, com bom humor. O riso, o escárnio, o "frescar" cearense é uma ação política vigorosa. Em 1985, cheguei a colocar um caixão de defunto no teto do meu carro para comemorar o fim da ditadura militar. Como não tinha mídia social à época, pouca gente ficou sabendo. 

Como surgiu a ideia?

Tinha feito um teste postando a frase no facebook na semana anterior. Consegui algumas  curtidas e comentários e achei que podia pegar. Tenho convicção que as coisas acontecem quando a necessidade se junta com o acaso. Creio até que toda a evolução humana se deu a partir dessa junção.  Na situação especifica, havia a necessidade - fazer alguma coisa pra se contrapor ao golpe que está sendo orquestrado pelos derrotados na eleição de outubro - e a oportunidade surgiu quando abriram um link da Globo bem na nossa cara. Aí não dá pra desperdiçar, né? A história do tal cavalo selado que passa bem na nossa porta. Subimos, né?... 

O projeto inicial incluía aparecer diante das câmeras da Globo?

Mais ou menos. Por ser do ramo, conheço um pouco como as coisas funcionam no jornalismo, especialmente as coberturas de carnaval, quando o inusitado é sempre uma grande possibilidade. Na sexta-feita imprimi quatro ou cinco folhas de A-4 com as frases e deixei dentro do carro. Sou carnavalesco e tinha programado de participar de diversos blocos no carnaval. Sabia que o tema tinha relevância e repercutiria, pelo menos nas mídias sociais. Quando surgiu a oportunidade, foi só correr pro abraço! 

Qual o significado exato, a intenção, o que está por trás da frase Impitiman é Meuzovo? 

É uma expressão bem cearense, como outras centenas que temos em nosso "dialeto" próprio. Significa uma elevada indignação quando lhe propõem algo descabido, como descabida é a proposta do impeachment. Algo como um "de jeito nenhum, esqueça isso de uma vez por todas" elevado a enésima potência. Alguma coisa tão absurda que lhe faltam palavras para responder à altura. Aí respondemos com um "meuzovo" bem alto e claro, pra não deixar margem de dúvidas. 

O sucesso o surpreendeu?

Tinha consciência que a idéia poderia repercutir bem nas mídias sociais, especialmente pelo momento do Carnaval, festa em que o achincalhe ganha mais espaço. Mas acreditava que ele fosse ficar mais restrito ao Ceará ou, no máximo, ao Nordeste, por ser uma expressão bem regional. Claro que fiquei surpreso. Muito surpreso mesmo. Fizemos algumas postagens logo após a matéria entrar no ar, ainda na concentração do bloco Arlindo e Voltando.  Mandei para alguns grupos de whatsApp e continuei a pular carnaval. À tardinha, ainda no sábado, fui pro segundo bloco e muitas pessoas já tinham tomado conhecimento. Alguns tinham visto o telejornal e muitos outros tinham visto nas mídias sociais. Alguns já sabiam que tinha sido ideia minha, passavam por mim e diziam "tá bombando no face e no twitter. Valeu!"  

O mais curioso é que tive um probleminha de saúde no sábado à noite e fiquei o domingo sem sair de casa. Pra piorar, perdi o carregador do celular e fiquei sem acompanhar a repercussão. Somente na tarde da segunda-feira é que saí de novo e soube que o assunto tinha "ganhado o mundo". Alguns jornalistas haviam me procurado para debater o assunto em programas de rádio e não conseguiram me achar. Loucura, né?   

O que sentiu ao ver sua ideia nos trending topics mundial?

Só soube dos TTs mundiais na segunda e nem sei se já acreditei mesmo. Claro que fiquei muito orgulhoso. Alguém já disse que a melhor forma de fazer as coisas é da forma mais simples. Pois é. Foi o que fizemos. Tão importante quantos os TTs foram os abraços, os parabéns, os pedidos de selfies, o "celebridade por um dia". Vi postagens de fotos de praticamente todos os estados. Teve bloco em Olinda (PE) que teve tempo de organizar  camisa e estandarte. Aqui em Fortaleza teve  gente que eu nem conheço que aproveitou a frase e começou a vender botton. Tem perfis no facebook oferecendo diversos modelos de camisa. Eu quero é que a coisa se espalhe cada vez mais. E aviso logo, não cobro royalties (risos). Podem usar à vontade. 

O que imagina ter despertado no brasileiro com a ação?

Espero ter contribuído para que a maioria dos brasileiros defenda seu voto como nós estamos defendendo o nosso. Dilma foi releita com 54 milhões e meio de votos. Isso tendo contra ela toda a grande mídia, que bateu de manhã, de tarde e de noite. Todos os candidatos derrotados no primeiro turno, Marina, Eduardo Jorge e outros nanicos, Cristóvão Buarque, Pedro Simon e outros metidos a vestais, a metade traíra do PMDB e outra banda do PDT. Com exceção do Psol, todos ficaram contra. Mesmo assim, Dilma venceu com uma vantagem de mais de 3 milhões e 300 mil votos. Isso é a vontade da maioria e precisa ser respeitado. Lula perdeu três eleições seguidas antes de vencer em 2002. Enfrentou muitas dificuldades, chegaram a propor seu Impeachment em 2005, foi reeleito e terminou o segundo mandato como o presidente mais popular da história do Brasil.  A democracia funciona assim. Um projeto ganha, o outro perde, até as próximas eleições. Os vencedores governam, os perdedores reclamam. Mas golpe não. E Impeachment é golpe, dos derrotados para os derrotados. 

O que diria para quem quer participar desse movimento? 

Mexam-se, não esperem por ninguém. O movimento não tem dono e qualquer ação é bem vinda. Vandré disse que quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Assumam as rédeas do próprio destino e do destino do País. A derrota do projeto Dilma será uma derrota do povo brasileiro, especialmente a parte mais pobre da população, que precisa de um Estado forte e que possa continuar trabalhando para minimizar a enorme dívida social que o Brasil ainda mantém com os mais necessitados. Qualquer ação em sentido contrário não será apenas contra o PT e a Dilma, será contra o próprio Brasil e seu povo. Agora, o PT e as centrais sindicais e os movimentos sociais têm uma responsabilidade maior. Têm a obrigação maior de organizar a resistência. E isso eles não estão fazendo.

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