Meningite: do risco ao medo
No episódio de Costa do Sauipe, embora as autoridades sanitárias digam que o caso foi limitado a um foco, não há como negar que milhares de pessoas foram expostas à ameaça real de contaminação que poderia ter sido evitada
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A doença meningocócica devido ao seu caráter infectocontagioso, sua agressividade e à sua alta taxa de mortalidade constitui-se em um grande motivo de preocupação dos administradores sanitários em todo o mundo, menos na Bahia, onde os interesses econômicos e comerciais, não raro, se sobrepõem aos riscos à segurança e à saúde da sua população
Com a transmissão se dando pelo contato direto com um doente ou, mais frequentemente, com um portador são, através de secreções nasofaríngeas, não é preciso ser infectologista para se ter a noção das consequências da ocorrência de sete casos da doença meningocócica em um complexo hoteleiro onde se realizava uma espécie de carnaval fora de época onde se sabe, muito bem, que é comum a “beijação” indisciplinada, sem reservas e sem muito critério de seleção.
Não é sem sentido que uma música muito popular no carnaval baiano que tem na sua letra citações do tipo: “Eu quero mais é beijar na boca, E ser feliz daqui pra frente… pra sempre”; tenha o cuidado de, subliminarmente, passar a ideia de uma prevenção, ao ressaltar: “Já me livrei daquela vida tão vulgar, me vacinei de tudo que podia me pegar.”
Será mesmo que a multidão inocentemente dançante estaria vacinada contra os males que poderiam ser provocados por um beijo na boca em tais circunstâncias? Com certeza, a Vigilância Epidemiológica do Estado acha que sim, pois, preferiu deixar a festa rolar solta, numa atitude, no mínimo, suspeita.
Diante da identificação de um surto epidêmico, o que se espera de uma Secretaria de Saúde é a imediata efetivação das medidas de prevenção e controle, dentre as quais o diagnóstico precoce e o tratamento adequado de todas as pessoas doentes e a quimioprofilaxia dos comunicantes próximos.
O fato de as autoridades sanitárias baianas terem se preocupado em afirmar que os casos da doença e, principalmente, os óbitos não atingiram os hóspedes, mais do que uma preocupação com a garantia do fluxo turístico no verão que se avizinha, dá-nos a depreender que a necessidade de preservação da saúde e da vida dos trabalhadores do complexo turístico, por si só, não justificariam o cancelamento do evento e a adoção imediata de medidas de tratamento e prevenção.
A demora da Secretaria da Saúde em agir e, até mesmo, de se pronunciar sobre o caso, como que pagando para ver a dimensão e extensão do surto, enquanto se apressava em descartar a possibilidade de disseminação da doença entre os foliões, em lugar de passar segurança e tranquilidade à população teve o condão de gerar a suspeição de que, no episódio, mais uma vez, a segurança humana esteve submetida a interesses outros que não o cuidado com a saúde e o bem-estar dos visitantes, trabalhadores e moradores da região.
Toda epidemia sempre conta com uma dose de imponderabilidade histórica que envolve variáveis que não podem ser administradas segundo os protocolos e rotinas estabelecidos pela Epidemiologia e seguidos pelos serviços de saúde. Hoje, passados cinco dias do último caso notificado, com uma segurança maior sobre o fim do surto, felizmente, parece que não foi desta feita que o “imponderável histórico” ocorreu entre nós.
No episódio de Costa do Sauipe, embora as autoridades sanitárias estejam concluindo que o caso foi limitado a um foco e tenham se esforçado em transmitir a ideia de que os indivíduos suscetíveis e passíveis da contaminação encontravam-se fora do grupo de turistas, geralmente compostos por pessoas da classe média e classe média alta, não há como negar que, de forma consciente, milhares de pessoas foram expostas a um risco real de contaminação que poderia ter sido evitado.
Deus é brasileiro! ... Sim, definitivamente, Deus é brasileiro e sempre vela por nós, com a ajuda de seu filho, de todos os santos e de todos os orixás, pois, mesmo com a inércia das autoridades sanitárias e a ganância dos organizadores do evento e dos administradores do complexo hoteleiro, fomos poupados de uma epidemia de graves proporções!
Embora, segundo afirmem e eu acredite, não haja motivos para se correr em pânico, é importante que os jovens e adultos se vacinem, independentemente do surto, pois, como ressaltou a professora de infectologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jacy Andrade, em entrevista concedida a um jornal de grande circulação no nosso estado, “Vacinar-se é importante como sempre foi”.
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