Médicos estrangeiros: uma solução possível

Como aceitar que uma falsa questão ideológica seja usada como obstáculo para a melhoria do atendimento médico do povo brasileiro?



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Nem bem o governo federal anunciou a proposta de trazer médicos estrangeiros para suprir a carência de atendimento nas pequenas cidades e em regiões remotas do Brasil, que é uma necessidade urgente, já surgiram coléricas reações contrárias. Há quem seja contra os médicos estrangeiros por corporativismo e há quem seja contra por motivos ideológicos. O que eles têm em comum, independentemente dos argumentos, é o descaso para com as necessidades da população.

O Brasil dispõe, em média, de menos de dois médicos por mil habitantes, segundo estudo do Conselho Federal de Medicina. É muito menos do que a Argentina (3,2 médicos por mil habitantes), a Espanha (4) e Cuba (6,3). Além da carência há também o problema da concentração. Enquanto a região Sudeste lidera o ranking com 2,67 profissionais por mil habitantes, seguida pelo Sul, com 2,09, e pelo Centro-Oeste, com 2,05, no Nordeste, o índice é 1,23 e no Norte, 1,01.

Para tentar atingir a meta de 2,7 médicos por mil habitantes, a mesma do Reino Unido, e procurar equilibrar a distribuição dos profissionais, o governo brasileiro anunciou a intenção de trazer médicos de Portugal, Espanha e Cuba. Começou aí a confusão. Órgãos de classe como o CFM (Conselho Federal de Medicina) disseram que não são corporativistas ou xenófobos, mas afirmaram que a medicina só pode ser exercida no Brasil por profissionais cujos diplomas tenham sido revalidados por um novo exame de competência.

continua após o anúncio

A estratégia é criar entraves burocráticos até vencer pelo cansaço. É óbvio que o governo federal não vai aceitar médicos estrangeiros incapacitados. O discurso dos órgãos de classe, com ares de grande demonstração de rigor, não é nada mais que bom senso —algo que o ministério da Saúde tem de sobra. Tanto que pretende trazer profissionais de países com competência comprovada na formação de médicos e que se comunicam em português ou espanhol.

Se alguém está sendo irresponsável nesse episódio, certamente não é o governo brasileiro, que reconhece que levar médicos para as áreas mais desassistidas do país é mais importante do que cumprir formalidades burocráticas que apenas atrasariam o atendimento daqueles que mãos precisam. Inclusive, já há diversos médicos cubanos atuando nos rincões do Brasil, e muitos deles se tornaram casos inequívocos de sucesso —um é tão querido pela população de Mucajaí, em Roraima, que, naturalizado, se elegeu prefeito do município.

continua após o anúncio

Esse reconhecimento é natural. Cuba é internacionalmente conhecida como um centro de excelência em medicina, com resultados refletidos nos ótimos indicadores de saúde de sua população. Por que não aproveitar em solo brasileiro essa experiência comprovada? É neste ponto que se identifica uma resistência ideológica aos médicos estrangeiros, o que é ainda mais descabido.

Uma revista chegou a dizer que "a importação de médicos cubanos vai inundar o Brasil com espiões comunistas", um argumento absurdo. Ora, Cuba forma excelentes médicos e o Brasil tem um histórico déficit de profissionais da Saúde. Por que não reduzir esse déficit com os excelentes médicos cubanos? Como aceitar que uma falsa questão ideológica seja usada como obstáculo para a melhoria do atendimento médico do povo brasileiro?

continua após o anúncio

A única conclusão possível é que a melhoria da saúde dos brasileiros não é a prioridade dos opositores da "importação" de médicos. Não é nem sequer algo com que eles se preocupam. Ou abraçariam a mais que bem-vinda iniciativa do ministério da Saúde.

Outra alternativa que merece ser discutida é o estabelecimento de vínculo entre a formação no ensino público ou com financiamento público - via Financiamento Estudantil (FIES) ou ProUni - e a prestação de serviços na rede pública e em locais com maior carência de profissionais.

continua após o anúncio

O que não se pode é ignorar a realidade e manter o debate em nível tão raso. O que milhares de cidadãos sem acesso a serviços básicos de Saúde querem é atendimento rápido, perto de suas casas e de qualidade.

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247