Mangabeira Unger recomenda “choque de tecnologia” para o Brasil
Ministro de Assuntos Estratégicos afirmou ser necessário ter novas ferramentas para transformar uma economia baseada na exportação de commodities em uma nação industrializada com uma força de trabalho qualificada e bem paga
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Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O governo planeja eventualmente remover tarifas sobre bens de capital avançados na tentativa de impulsionar a produtividade e injetar vida na estagnada economia, disse o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, em entrevista à Reuters.
Mangabeira Unger, professor de filosofia de Harvard encarregado pela presidente Dilma Rousseff de conceber um novo caminho de desenvolvimento para o país, afirmou ser necessário ter novas ferramentas para transformar uma economia baseada na exportação de commodities em uma nação industrializada com uma força de trabalho qualificada e bem paga.
É mais fácil falar do que fazer. O Brasil tem algumas das tarifas de importação mais altas da América Latina, e setores da indústria e o próprio PT têm um histórico de oposição aos esforços de remoção das proteções para os fabricantes locais.
Mangabeira Unger afirmou que não haverá nenhuma mudança nas tarifas até o fim do atual período de ajuste fiscal – o que analistas dizem que pode não acontecer até 2016 ou mais tarde.
Mas ele pontuou que o plano tem o apoio de Dilma, o sinal mais recente de que quatro anos de crescimento econômico estagnado estão levando a presidente a adotar políticas mais voltadas para o mercado.
"Precisamos nos equipar com as tecnologias avançadas disponíveis no mundo", disse Mangabeira Unger em entrevista na semana passada.
O ministro afirmou que o setor privado brasileiro está limitado por equipamentos e práticas administrativas ultrapassados e que necessita de um "choque de ciência avançada e tecnologia".
O governo pretende suspender unilateralmente restrições tarifárias e não tarifárias na importação de bens de capital avançados, e também poderá compensar importadores de tecnologia avançada pelo custo crescente de suas aquisições devido à depreciação da moeda, afirmou Mangabeira Unger. Ele não especificou quando isso acontecerá.
Os bens em questão iriam de impressoras 3D a supercomputadores, componentes de satélite ou turbinas de avião para a Embraer, disse.
Mangabeira Unger, de 68 anos, tem a reputação de ser um pensador original que inspirou líderes da América Latina e em outras partes do mundo, como o líder do Partido Trabalhista britânico, Ed Miliband.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi seu aluno na faculdade de Direito de Harvard, mas Mangabeira Unger o criticou mais tarde pelo resgate financeiro a Wall Street e se opôs a sua reeleição em 2012.
No Brasil, Mangabeira Unger continua sendo uma figura polêmica, que repreendeu o PT pela corrupção mas aceitou um ministério no governo Lula, o mesmo que voltou a ocupar sob a Presidência de Dilma.
A ênfase maior na tecnologia também tem implicações na política externa. Mangabeira Unger afirmou que o Brasil deve redefinir sua relação com seu maior parceiro comercial, a China, para ir além da troca de minério de ferro, soja e outras commodities por bens industrializados.
"Queremos um tipo de relação diferente com a China, na qual compartilhamos o desenvolvimento de tecnologias avançadas em vez de trocar os produtos da natureza pelos produtos da engenhosidade humana", disse.
O Brasil também precisa reconstruir suas relações com os EUA, o principal mercado para os bens manufaturados brasileiros e a maior fonte estrangeira de investimento direto em suas indústrias. Os laços foram prejudicados pelas alegações de espionagem norte-americana a autoridades do governo brasileiro, incluindo Dilma, dois anos atrás.
Mangabeira Unger disse que as duas maiores nações do hemisfério deveriam forjar parcerias em pautas de tecnologias avançadas, educação e mudança climática para fomentar oportunidades econômicas nas Américas.
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