Mais Médicos e a importância do planejamento da força de trabalho

Ficamos, ao longo das últimas décadas, inertes em pensar os profissionais de que o país precisa. E, mais importante ainda, inertes em buscar projetar a quantidade que o país precisa desses profissionais



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Quem se lembra que as vagas de vestibular para ingressar nos cursos de medicina eram disputadíssima e só, literalmente, alguns poucos conseguiam ingressar? A polêmica das vagas de trabalho agora abertas a profissionais estrangeiros de medicina para atuar em lugares ermos do Brasil tem gerado um debate interessante.

Por um lado, vale até mesmo notar que a medicina de Cuba – alvo de algumas das críticas e questionamentos recentes ao Programa Mais Médicos, instituído pelo Governo Federal brasileiro – é internacionalmente reconhecida como uma das melhores do mundo. Mas, não é esse o debate que pretendo tocar aqui neste artigo. Deixo esse debate, salutar, para a sociedade brasileira como um todo. O ponto que pretendo trazer à luz aqui é o da importância do planejamento da formação da nossa força de trabalho, como um todo. Aí incluídos médicos, engenheiros, professores, técnicos e profissionais das demais áreas essenciais para o crescimento e desenvolvimento do nosso país.

Ficamos, ao longo das últimas décadas, inertes em pensar os profissionais de que o país precisa. E, mais importante ainda, inertes em buscar projetar a quantidade que o país precisa desses profissionais – para daqui a dois, cinco, dez, vinte anos – para, de fato, agirmos para formá-los.

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Claro, ao se falar em planejamento aqui, não estamos falando em um planejamento estanque, como se assumindo que a realidade tem que se adequar ao plano. Mas, um planejamento estratégico, a ser revisado e reajustado ano-a-ano ou periodicamente, re-projetado à medida em que as mudanças nas estruturas sociais do país e de sua economia forem ocorrendo.

É fato que temos que reconhecer que iniciativas como o programa Ciência Sem Fronteiras – que amplia bolsas para brasileiros se formarem em escolas científicas de ponta no exterior e voltarem com o conhecimento adquirido para o Brasil – e a substancial expansão da rede de ensino técnico, postos em pratica nos anos recentes, é um passo importante nessa direção. Porém, faz sentido ir além. Por exemplo: constituir uma comissão de estudiosos, representantes de categorias profissionais em questão, órgãos de governo e de formação educacional e empresários. E instituir no Brasil uma cultura de projetar o futuro. Não pelo plano em si, mas para garantir que os recursos – neste caso, por exemplo, os recursos humanos – indispensáveis para o nosso desenvolvimento estejam disponíveis para quando deles necessitemos.

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Não podemos só pensar em plantar a árvore quando nela quisermos amarrar uma rede. O ato de plantar essa árvore tem que vir antes, se quisermos ter a sombra e a rede para desfrutarmos no nosso quintal.

Portanto, polêmicas à parte, a medida de trazer mais médicos para o Brasil, neste momento, parece ser essencial. Pode-se até discutir a forma, em que condições, etc. E esse debate é salutar e a sociedade o está fazendo. Esse aspecto está para debate e julgo da sociedade. Mas, como a chamada pública inicial por profissionais brasileiros para o Mais Médicos, para trabalharem em regiões mais ermas do pais, demonstrou, os médicos que temos formados hoje não estão dispostos a ir para essas regiões. Eles já estão estabelecidos em outras localidades. E não vou aqui os julgar por isso. Mas a atividade de planejar e formar a mão-de-obra necessária para o nosso país, e mais importante ainda, mais próxima das localidades onde ela é necessitada, faz-se uma tarefa fundamental para a qual não podemos nem devemos mais vacilar. Vale o clamor das ruas, por um planejamento dos serviços públicos com "qualidade FIFA", para que as escolas, os hospitais, os canteiros de obra, as indústrias e plataformas de petróleo e muitos outros pontos de trabalho que podem se constituir como entraves ou oportunidades para o desenvolvimento do nosso país, sejam, de fato, pensados e enfrentados. Com determinação, ousadia e visão de um futuro adequado para o nosso país.

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Não podemos nem devemos deixar um debate ideologizado ou anti-planejamento mascarar nem mitigar essa importância. Busquemos, sim, fazer as políticas públicas com qualidade. E, voltadas aos anseios da população: que quer empregos com qualidade e também ter a capacidade de os preencher. Gerando ainda mais renda, serviços públicos adequados e um crescimento sustentado e também desconcentrador, à medida que contingentes de excluídos e semi-excluídos nacionais possam participar, com capacidade e orgulho, das atividades nobres para o desenvolvimento do nosso país.

Vale lembrar: na época em que fiz vestibular, quase duas décadas atrás, as vagas para o curso de medicina eram disputadíssima, não faltava quem quisesse ser médico. Mas poucos tinham essa oportunidade. É nossa responsabilidade fazer um futuro diferente. Isso passa por uma escola básica de qualidade e um efetivo planejamento estratégico da nossa força de trabalho.

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