Maconha regularmente

É preciso que se diga claramente: a maconha já está liberada. Só não consegue quem não quer, ainda que seja ilegal



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Entre as indústrias nacionais, a que está a todo vapor, indo muito bem, cada vez mais forte, gerando lucros incomensuráveis, empregos, expandindo negócios, acirrando concorrência e enriquecendo empregados, sócios e patrões, é a do narcotráfico. Como todos sabem, no Brasil, o que há de mais organizado é o crime. Com normas de conduta rígidas que funcionam com operações ágeis, sem burocracia, em postura empresarial assertiva, os criminosos prosperam. Eles têm força política internacional, conchavos com a polícia, conluios com membros influentes da elite social e dinheiro para realizar seus sonhos.

É preciso que se diga claramente: a maconha já está liberada. Só não consegue quem não quer, ainda que seja ilegal. Traficantes e usuários se desejam, é fato.

Medicinal para uns, transcendental para outros. Ela é menos danosa do que o álcool e o cigarro, endossa FHC no filme “Quebrando o Tabu”, que defende a regulação. Prevenção e não repressão. Usuários não devem ser vistos como criminosos. Fala-se também que é preciso separar as drogas em tipos, já que não são a mesma coisa e que possuem efeitos diferentes, mas a pergunta exaustivamente formulada permanece: a maconha é o primeiro passo para outras drogas mais pesadas? A resposta é não, dizem.

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Há ainda outras perguntas, tão ou mais complexas: quem vai controlar o mercado do cânhamo, os atuais criminosos? Cooperativas seriam criadas e passariam a produzir? Aqueles que, sempre envolvidos em outros crimes, vendem a droga ilegalmente, passariam a ser trabalhadores honestos? As Farcs virariam uma multinacional? Alguma atriz da Globo seria “a boa” da maconha em campanhas publicitárias?

Questões interessantes, entre tantas, mas existem outras que me afligem mais.

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Em uma sociedade desiludida, carente, mal instruída, com poucas perspectivas de uma vida mais profunda, o desânimo, assim como a desesperança, é moeda comum. Drogar-se, seja com bebida, maconha, cocaína ou vícios análogos, oriundos de comportamentos típicos, é “prazer” quase impossível de ser substituído quando a virilidade espiritual de um povo é castrada pelas expectativas de vida que se lhes oferecem. Já que vivemos na “república do gozo”, em que a premissa para todas as escolhas é gostar, em vez de conhecer, fica difícil não adorar as prazerosas fugas e os paraísos artificiais.

É opressora a precariedade pedagógica do nosso ensino, cada vez mais voltado para a lucrativa indústria do vestibular. Nossa produção cultural nivela tudo por baixo. Além de gradativamente destruir a arte, está submetida ao entretenimento tacanho, esterilizada de filosofia, carente de critério, medida por um simplismo reducionista. Universidades predominantemente céticas, mercadológicas, subnutridas de pensamentos originais, diminuem os recursos intelectuais dos formados. Religiões mercantis e conhecimentos espirituais fajutos nos reduzem a psicologias baratas.

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O cidadão brasileiro é relegado a ser autodidata em tudo. Se quiser ter uma formação razoável, poucas são as opções de instrução. Assim, somos impelidos a buscas mais lisérgicas. Para aqueles raros que não querem ficar drogados, a alternativa parece ser o isolamento, por proteção e por desespero.

O consumo de drogas aumenta diariamente. Eis a perplexidade. Que gerações estamos formando? Se quisermos mesmo quebrar o tabu – um tabu que envolve maconha, cocaína, álcool, filosofia, arte, ensino, política, espiritualidade e outros vilipêndios nossos – devemos abrir diálogos profundos em lugares apropriados e protegidos da narcose reinante, interlocuções que não estejam contaminadas por interesses políticos, pessoais e comerciais. Acima de tudo devemos ter a consciência de que, embora o mundo seja capitalista e mercadológico, a vida não é um negócio.

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Talvez a questão não seja o que deve ser liberado ou regulado, mas o que está sendo consumido, por qual razão e para quê.

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