Intolerância e ódio são 'novas doenças tropicais'

A jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, analisa fatos ocorridos nesta semana, que, na avaliação dela, "borram" a imagem do Brasil, país "habitado por um povo cordial, que se miscigenou livremente e sempre se pautou pela tolerância para com a diferença, seja de credo, raça ou convicção política"; "Os surtos autoritários de elites minoritárias só confirmavam o que na maioria era traço do caráter nacional", diz ela; neste contexto, ela cita o mico que se transformou a viagem do senador Aécio Neves e um grupo de parlamentares a Caracas; a pichação contra o apresentador Jô Soares, por causa da entrevista que realizou com a presidente Dilma Rousseff, e a pedrada dada em uma garota porque vestia roupas brancas do candomblé

A jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, analisa fatos ocorridos nesta semana, que, na avaliação dela, "borram" a imagem do Brasil, país "habitado por um povo cordial, que se miscigenou livremente e sempre se pautou pela tolerância para com a diferença, seja de credo, raça ou convicção política"; "Os surtos autoritários de elites minoritárias só confirmavam o que na maioria era traço do caráter nacional", diz ela; neste contexto, ela cita o mico que se transformou a viagem do senador Aécio Neves e um grupo de parlamentares a Caracas; a pichação contra o apresentador Jô Soares, por causa da entrevista que realizou com a presidente Dilma Rousseff, e a pedrada dada em uma garota porque vestia roupas brancas do candomblé
A jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, analisa fatos ocorridos nesta semana, que, na avaliação dela, "borram" a imagem do Brasil, país "habitado por um povo cordial, que se miscigenou livremente e sempre se pautou pela tolerância para com a diferença, seja de credo, raça ou convicção política"; "Os surtos autoritários de elites minoritárias só confirmavam o que na maioria era traço do caráter nacional", diz ela; neste contexto, ela cita o mico que se transformou a viagem do senador Aécio Neves e um grupo de parlamentares a Caracas; a pichação contra o apresentador Jô Soares, por causa da entrevista que realizou com a presidente Dilma Rousseff, e a pedrada dada em uma garota porque vestia roupas brancas do candomblé (Foto: Valter Lima)


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Tereza Cruvinel

A cada semana alguns fatos  borram a imagem do pais tropical, bonito por natureza e habitado por um povo cordial, que se miscigenou livremente e sempre se pautou pela tolerância para com a diferença, seja de credo, raça ou convicção política. Os surtos autoritários de elites minoritárias só confirmavam o que na maioria era traço do caráter nacional.

No inventário dos últimos dias, começo por esta desastrada viagem de senadores brasileiros à Venezuela. Por mais solidariedade que mereçam por terem enfrentado hostilidades que os impediram de alcançar o objetivo político a que se propuseram, visitar um preso político local, não se pode deixar de dizer que violaram um paradigma de nossa relação com os outros povo:  o princípio da não-ingerência que embasou uma forte tradição diplomática. Imaginemos alguns senadores americanos chegando aqui, sem  prévio aviso às autoridades, para uma missão semelhante. A caravana da oposição poderiam ter ido a Caracas mas não como franco-salvadores da pátria alheia. Mas como são da oposição, quiseram desembarcar nesta condição. Lã fora não existe esta distinção. Protagonizaram um “mico diplomático”. embora ganhando munição interna para a guerrilha ininterrupta contra o governo Dilma.

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Abro o computador e vejo uma foto estarrecedora.  “Jô Soares, morra”, diz a enorme pichação no asfalto, defronte à casa do apresentador, humorista, jornalista.   Só o ódio disseminado justifica tal agressão a ma figura como Jô,  unicamente pelo fato de ter feito uma entrevista civilizada com a presidente da República.  Nos idos de 2005 participei do quadro por ele então  criado em seu programa, o Meninas do Jô,  Três ou quatro programas depois entendemos, bilateralmente, que não havia lugar para mim naquelas seções de sectarismo, anti-petismo e demonização da política, com a ressalva de que Cristiana Lobo foi quem sempre manteve ali a compostura jornalística.   Muitos me agredirao na blogosfera, dizendo fui “tirada” do programa porque era lulista, petista, esquerdista e tal.  Lembrei-me disso ao perceber que Jô  deu-se conta dos efeitos do veneno ministrado ao longo dos ultimos anos ao povo brasileiro. Veneno que o atinge agora, quando ele comete o crime de se portar como um entrevistador civilizado. Para perguntar não precisa agredir, foi o que ele ensinou.

Vejo outra foto. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, recebe a menina que levou uma pedrada porque vestia roupas brancas do candomblé, religião de sua família, na qual estava sendo iniciada. Ouvi a mãe dela contar no rádio que os agressores brandiam bíblias e as chamavam de macumbeiras. A menina foi ao IML e ali também foi apupada. Onde estamos?  O que diria Darcy Ribeiro, que escreveu um livro magistral, O Povo Brasileiro, louvando aquilo que não somos mais? O que diria Stefan Zweig. que se encantou com o Brasil e o chamou país do futuro apostando exatamente na natureza de seu povo  para transformar nossas  riquezas e potenciais em uma grande  oportunidade civilizatória?  Aqui sempre conviveram todas as religiões, havendo espaço também para a não-religião. Mas agora a intolerância religiosa chegou para valer e nesta marcha, florescerá a violência religiosa. O Líbano era  belo e livre, até que a intolerância religiosa o devorou.

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Bem, melhor não abrir alguns blogs nem as páginas de comentários, onde o ódio rola solto na Internet, ferramenta que deveria aproximar e está servindo para dividir.

Ligo o rádio e ouço discursos intrépidos na Câmara, pontuados de palavras ásperas.

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Melhor encerrar uma semana destas no interior de Minas, protegida pelas montanhas e pela simplicidade pacífica que ainda resta por lá. Ou não restará?

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